Aldeia Nagô
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Economia: o triunfo da responsabilidade. Por Aldo Fornazieri

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Na semana passada, analistas de mercado, economistas e lideranças políticas foram surpreendidos com o anúncio de que o PIB cresceu 1,4% no segundo bimestre, superando as projeções que estimavam um crescimento de 1%. O desempenho foi impulsionado principalmente pelo aumento do consumo das famílias e pelos investimentos em serviços e na indústria. O resultado é ainda mais positivo considerando a queda significativa do desemprego, o controle da inflação e o aumento do consumo.

Essa conjugação de fatores positivos não teria sido possível sem a insistente condução do Ministério da Fazenda, liderado por Fernando Haddad, em buscar o equilíbrio fiscal sem sacrificar os programas sociais do governo. Ao mesmo tempo, o Banco Central acertou ao evitar que a inflação subisse, protegendo o poder de compra dos trabalhadores.

Haddad enfrentou desafios desde o início do governo Lula, sendo alvo de críticas tanto da direita política quanto de setores de esquerda, incluindo figuras do próprio PT. Agora, com os surpreendentes resultados, os críticos desapareceram. Suas teses econômicas, que associavam responsabilidade fiscal e monetária a baixo crescimento e alto desemprego, foram refutadas pela realidade.

Embora seja possível estabelecer correlações entre quase todos os indicadores econômicos, nem todas são causais. O crescimento do PIB brasileiro ocorre em um contexto de ajuste fiscal e aperto monetário, que gerou credibilidade na condução da política econômica. Esse fator foi essencial para atrair investimentos do setor privado e de investidores externos. Apesar de ainda estar longe do ideal, a continuidade dessa política responsável poderá elevar os níveis de investimento produtivo no futuro.

O Ministério da Fazenda conseguiu evitar duas armadilhas: de um lado, resistiu à pressão do mercado financeiro por cortes em programas sociais, realizando ajustes nos cadastros que moralizaram e otimizaram recursos; de outro, enfrentou a pressão dos que defendiam um aumento irresponsável de gastos em nome de um crescimento ilusório. Desde a crise financeira de 2008, as evidências demonstram que grandes déficits fiscais levam à estagnação econômica e outros problemas.

O crescimento econômico não se dá por meio de gastos públicos descontrolados, mas sim por uma responsabilidade fiscal equilibrada com a responsabilidade social. A política econômica atual busca esse equilíbrio ao incluir setores privilegiados, que historicamente não pagavam impostos, no sistema tributário. Essas elites, que em grande parte ainda mantêm isenções, perpetuam privilégios e desigualdades.

Ações coordenadas com o STF para barrar tentativas de desestabilização fiscal, além de reformas microeconômicas, como a melhora das condições de crédito, também contribuíram para o crescimento da indústria em setores estratégicos. Pode-se afirmar, sem margem de dúvida, que a política de austeridade fiscal de Haddad e Lula se contrapõe à irresponsabilidade econômica praticada durante o governo de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro, que ampliaram o déficit público com manobras populistas.

A hipocrisia de setores que apoiam o bolsonarismo é evidente: enquanto cobram austeridade do governo Lula, foram coniventes com o descalabro fiscal promovido por Bolsonaro. Ao mesmo tempo, parte da esquerda, que deveria defender a igualdade, critica as políticas de Haddad como “austericídio”, defendendo medidas que gerariam desconfiança e descontrole, prejudicando, em última análise, os trabalhadores.

Se a Fazenda e Lula tivessem cedido a essas pressões, o cenário econômico atual seria de baixo crescimento, inflação alta e desemprego elevado, similar ao que ocorreu em 2015-2016, levando o governo a uma possível derrota nas eleições de 2026. A Argentina é um exemplo de país atolado em uma crise causada por políticos irresponsáveis, que resultou na pobreza e miséria da população.

Ainda há muitos desafios para garantir que a economia siga em um caminho de crescimento sustentável, como o aumento da produtividade, maior volume de investimentos, qualificação da mão de obra, combate aos privilégios no setor público, ajustes na Previdência, melhoria da qualidade do gasto público e modernização tecnológica da indústria.

Neste momento, o mais importante é que a economia brasileira está assentada em bases sólidas e confiáveis. Isso estabelece parâmetros para a disputa presidencial de 2026. No entanto, é preciso reconhecer que o bom desempenho econômico não se traduz automaticamente em dividendos políticos. O grande desafio do governo é comunicar esses avanços de maneira eficaz, transformando o cenário positivo em benefícios eleitorais. Chegar às eleições de 2026 em boas condições econômicas e políticas será crucial para evitar retrocessos indesejáveis.

Aldo Fornazieri

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e autor de “Liderança e Poder”

Artigo publicado no Brasil 247

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