Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Com arte e formação, Salvador Capital Afro leva programação oficial à Ilha de Maré

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

O projeto Salvador Capital Afro realizou, nesta quinta-feira (27), na Escola Municipal de Ilha de Maré, em Praia Grande, mais uma etapa do seu circuito de formações, ações culturais e atividades pedagógicas que vêm ocupando diversos territórios da cidade desde o início de novembro. Após passer por localidades do Subúrbio, Centro Histórico e Itapuã, a iniciativa chegou pela primeira vez à Ilha de Maré, território quilombola de forte ancestralidade, reunindo estudantes, educadores, empreendedores e moradores em um dia inteiro de experiências formativas e culturais.

A programação incluiu oficinas de graffiti, dança afro, percussão, formação empreendedora, atendimento do SAC do Empreendedor e atividades educativas sobre direitos da infância. Logo pela manhã, o artista Marcos Costa, conhecido como Spray Cabuloso, conduziu uma oficina prática de grafite que resultou na criação de um painel coletivo inspirado no cotidiano da ilha — a mariscagem, o mar e a travessia que conecta o território ao continente. “Esse processo traz reconhecimento e pertencimento. Eles se veem representados no mural e descobrem que podem desenhar em grande escala. É uma semente que plantamos para que futuros artistas saiam daqui”, afirmou.

Paralelamente às ações artísticas, a pedagoga Vanessa Luz, da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), conduziu a imersão empreendedora do AfroEstima, com oficinas voltadas a empreendedores da comunidade, abordando precificação, apresentação de produtos e estratégias para o fortalecimento de negócios locais. Segundo ela, a troca foi essencial para compreender as especificidades da ilha: “Cada comunidade tem sua singularidade. Em Ilha de Maré, aprendemos enquanto ensinávamos. Foi enriquecedor entender como as dinâmicas da ilha influenciam o trabalho e o sustento de quem empreende aqui”.

Para a equipe pedagógica da escola, o dia dialogou diretamente com o projeto educativo da unidade. Ana Lídia, coordenadora pedagógica, destacou a importância da presença do Salvador Capital Afro para a valorização da identidade quilombola entre crianças e adolescentes. “Nossos pilares são ancestralidade, identidade e resistência. Essas ações fortalecem a autoestima dos estudantes e reforçam o orgulho de serem pretos, pretas e quilombolas. É fundamental que eles reconheçam e deem continuidade à história que herdaram”, afirmou.

O entusiasmo também marcou a participação dos estudantes. Sofia do Couto, 12 anos, se emocionou ao se ver representada nas atividades do dia. “Gostei muito da pintura. Me senti bonita e representada”, contou. As oficinas seguiram durante todo o dia, incluindo a atividade pedagógica ‘O ECA vai à escola – Racismo não é bullying’, realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ).

À tarde, o Malê Debalê conduziu oficinas de percussão e dança afro que reuniram dezenas de meninas e meninos no pátio da escola. A professora Juliette Ribeiro, que começou no Malezinho e hoje integra o balé afro do bloco, destacou a força simbólica desse retorno: “Voltar a um território quilombola com a dança fortalece o pertencimento. Eu comecei como elas e hoje sou professora. É importante que as crianças daqui entendam que podem ocupar esse lugar, viajar o mundo, transformar a própria trajetória”.

Após a atividade, a estudante Sofia Moraes, 12 anos, refletiu sobre a representatividade que viveu ali: “Amei tudo. As músicas, a dança, as roupas… Espero que venham muito mais vezes e que tragam coisas para os meus primos também. A gente gosta muito desses projetos. Achei tudo muito lindo: as meninas se parecem comigo, são todas negras. Aqui em Salvador, quando a gente anda na cidade alta, vê muitas pessoas brancas, mas quando a gente vê pessoas negras, a gente vê o nosso povo”.

A tarde foi encerrada com apresentações musicais do grupo Marésom e do próprio Malê Debalê, reunindo a comunidade em um momento de celebração coletiva.

A chegada do Salvador Capital Afro à Ilha de Maré também movimentou a economia local. Moradores foram contratados para fornecer alimentação durante todo o dia, fortalecendo iniciativas comunitárias e garantindo que parte dos recursos do projeto permanecesse no território. A ação integra a política da Secult de descentralizar oportunidades, reconhecer saberes tradicionais e valorizar práticas culturais produzidas nos bairros e ilhas de Salvador.

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *