Artista espalha murais e encanta a Chapada Diamantina com grandes obras de arte a céu aberto
Artista visual espalha obras de arte em grandes painéis a céu aberto pela Chapada Diamantina
Artista Jùjú Nsaa já pintou 11 murais em comunidades, escolas e cidades da Chapada Diamantina e mantém a Yúna Galeria, espaço voltado para artistas negros, periféricos, indígenas e quilombolas.
A artista visual Jùjú Nsaa vem se destacando na Chapada Diamantina por um trabalho de descentralização da cultura e valorização comunitária, com a construção coletiva de grandes obras de arte em espaços públicos, por meio das quais se tornou referência no território.
Jùjú é responsável pela produção, até o momento, de onze murais em comunidades quilombolas, escolas rurais e espaços culturais espalhados por cidades como Palmeiras, Iraquara, Lençóis, Souto Soares e Rio de Contas. Suas obras, criadas em diálogo com moradores e estudantes, têm como propósito democratizar o acesso à arte e fortalecer vínculos comunitários.
O trabalho pode ser considerado uma verdadeira cartografia afetiva produzida em cada território, com referências e contribuições locais. Entre os murais que compõem sua trajetória estão trabalhos na comunidade do Esconso, com mulheres em roda de ciranda; no quilombo Mato Preto, retratando a dança da fita; na comunidade do Remanso, com elementos propostos pelos moradores e representações dos ibejis, além de um mural coletivo em Palmeiras que retrata a força comunitária, entre diversos outros. Cada obra dialoga com o espaço e valoriza as tradições locais, reforçando a potência cultural de cada lugar.
O processo criativo de Jùjú Nsaa é coletivo e comunitário. Para pintar em territórios quilombolas e rurais, estabelece vínculos com os moradores, compartilha tempo, presença, refeições e escuta as demandas locais. Como arte-educadora, envolve estudantes em esboços e pinturas, estimulando habilidades e pertencimento. Sua técnica se transformou com o uso das geotintas, pigmentos naturais feitos de terra, água e cola vegetal, que dialoga com as comunidades rurais, cujas vivências de harmonia com a natureza inspiram a criação e utilização de materiais mais sustentáveis. Essa escolha conecta ancestralidade e sustentabilidade, criando paletas de cores únicas ligadas ao território e evocando a tradição das pinturas rupestres.
O impacto de sua obra é visível: promove autoestima nas comunidades, democratiza o acesso à cultura e gera transformação social. Moradores se reconhecem nas pinturas e se sentem valorizados, experimentando a alegria do pertencimento. Para os envolvidos, o contato com a arte abre caminhos de expressão e desenvolvimento, muitas vezes revelando talentos e vocações. Ao transformar paisagens e criar imagens que nutrem a alma e a coletividade, Jùjú Nsaa reafirma a arte como elemento de cura, resistência e emancipação, deixando em cada mural uma marca de memória e identidade coletiva.
Produção artística e murais realizados
- Escola Municipal Manoel Afonso (Palmeiras)
- Associação Quilombola do Tejuco (Palmeiras
- Escola Municipal Rural do Julião (Palmeiras)
- Residência artística Água e Terra: Elos Ancestrais (Palmeiras)
- Colégio Estadual de Tempo Integral de Souto Soares
- Quilombo Mato Preto (Iraquara)
- Quilombo Escôncio (Iraquara)
- Quilombo Remanso (Lençóis)
- Mural com artista Fifo (Palmeiras)
- Kasarão do Hip Hop (Vale do Capão)
- Primeiro Festival de Grafitti Rio de Contas
Sobre Jùjú Nsaa
A artista visual e arte-educadora iniciou sua trajetória no grafite dentro do movimento hip hop em 2011, trazendo a democratização da arte para as ruas. Em 2020, após anos vivendo em grandes centros urbanos, mudou-se para Palmeiras, na Chapada Diamantina, onde fundou a Yúna galeria de arte afroindígena, e passou a dedicar sua produção à descentralização da cultura, levando obras para lugares que historicamente têm pouco acesso às artes visuais.
Sua arte é inspirada pela ancestralidade e por temas centrais como a mulher, a maternidade, a infância e a coletividade. Se por muitos anos a mulher foi musa de artistas, em sua obra ela é protagonista, representada em gestos de gestação, amamentação e força. Nos últimos anos, Jùjú passou a trabalhar também com os ibejis, crianças que simbolizam continuidade e tradição, além de retratar comunidades em momentos de união, canto e brincadeira. As paisagens da Chapada Diamantina, com seus morros e elementos naturais, também dialogam com sua produção, reforçando a sensação de acolhimento e pertencimento.
A obra de Jùjú Nsaa é também um ato de resistência e retomada, por meio da celebração da ancestralidade. Cada mural é mais que pintura: é vínculo, memória e transformação. Sua arte nutre, cura e fortalece comunidades, reafirmando que o belo e o coletivo são direito de todos e funcionam de forma eficaz traçando caminhos de emancipação.
Yúna Galeria
Espaço mantido pela artista, a galeria Yúna está localizada na estrada para o Vale do Capão. A galeria, pensada como local de produção e mostra de arte afroindígena, disruptiva, vem produzindo exibições e eventos e, neste momento, apresenta a exposição “Ewà Tirè Òkè”, um convite para adentrar universos estéticos tecidos com ancestralidade e potência. O espaço está aberto à visitação para todos que queiram apreciar as obras e conhecer a artista e curadora Jùjú Nsaa, com quem o público pode conversar sobre processos, histórias e encantamentos. A galeria Yúna está localizada próxima ao restaurante Cajueiro, a apenas 5 km de Palmeiras
