Racismo ou não. Eis a questão. Por Zuggi Almeida
Um vídeo gravado pelo cantor e compositor Jau denunciando um incidente envolvendo o artista, sua banda e funcionários do Sette Restaurante, na Barra ganhou as redes sociais gerando posicionamentos diversos dos internautas.
A alegação do autor de ‘Vixe Mainha’ e sucessos do Bloco Olodum onde iniciou sua carreira artística é que porteiros do restaurante impediram o acesso dele e profissionais de sua equipe por não estarem vestidos de acordo com as normas do estabelecimento. Jau viu no impedimento da entrada no Sette Restaurante uma atitude velada de preconceito racial embutida num dress code (código de vestuário), que segundo os proprietários do restaurante em nota à imprensa afirmam que estava afixado na entrada do imóvel.
O que me causa estranheza é o artista atentar e revoltar-se após sentir na própria pele e dos seus amigos as mazelas do racismo estrutural. Esses espaços estão destinados aos pretensos membros da “elite branca baiana “ onde gravitam aqueles chamados de gente bonita! Será que Jau não se deu conta que as festas privês onde anima tem apenas gente preta na banda, trabalhando na segurança, na cozinha ou como garçom servindo garrafas de proseco em ambientes reservados para a reduzida população branca da cidade de Salvador?
O Sette Restaurante seguiu a regra. Jau e seus músicos naquele momento faziam parte da exceção.
Pela outra via trafega meu entendimento buscando encontrar o motivo para um restaurante estabelecer um dress code proibindo o acesso de pessoas usando bermudas numa cidade turística e nas proximidades de uma temporada de verão. A bermuda alinhada é o traje casual mais perfeito para circular mesmo à noite na calorenta Salvador. Quanto ao uso do chapéu acredito que num acaso, o famoso cantor,compositor e produtor negro americano Pharrell Williams desse as caras na portaria do restaurante da Barra , certamente seria barrado por estar usando um estiloso modelo da grife Chanel.
A verdade é que negro mesmo mantendo uma boa conta bancária, sendo um intelectual de renome ou destaque no mundo dos esportes e da música vai ser sempre observado através dos olhos do preconceito racial. A busca de negros ou negras por espaços de aceitação onde circula o capital branco estará associada à frustração, invisibilidade e a auto-negação.
Salvador apesar de possuir a maioria populacional negra é carente de arranjos de entretenimento e lazer de qualidade onde possa predominar o Black Money. O percentual de empresários negros capazes de influenciar na economia com grandes volumes de movimentações ainda é ínfimo em relação ao poder financeiro controlado por brancos.
O controle por gente branca dos recursos sociais, culturais, políticos e econômicos ficou como passivo do período da escravização sofrida pelo povo negro. Romper as barreiras é possível fazendo circular o dinheiro de negros e negras em negócios próprios fortalecendo o capital black e democratizando os espaços de convivências.
Esse será o tipo de lugar onde o cantor Jau vai encontrar gente de batas, blazers, touços e terninhos sempre simpáticos e em perfeita sintonia.
Sim nós podemos.
– Zuggi Almeida, baiano, escritor, roteirista e curador de cinema.
