Como Retardar o Envelhecimento por Dr.Mehmet Oz em entrevista da Veja
A especialidade do cirurgião cardíaco turco e cidadão americano Mehmet Oz, de 47 anos, é retardar ao máximo os efeitos da idade em seus pacientes. Diretor do Programa de Medicina Integrada da Universidade Colúmbia, em Nova York, ele é consultor da famosa clínica antienvelhecimento do médico Michael Roizen, criador do conceito de que é possível manter o organismo mais jovem do que aponta a idade cronológica. Oz e Roizen também assinam a quatro mãos uma série de livros de sucesso que ensinam como manter um estilo de vida que adia a velhice. O mais recente deles, You Staying Young (Você Sempre Jovem), lançado há um mês nos Estados Unidos, já vendeu meio milhão de exemplares. Nos últimos quatro anos, Oz se tornou uma celebridade ao participar de um quadro fixo no programa de TV da apresentadora Oprah Winfrey. Ele também apresenta documentários no Discovery Channel. Nos dois casos, dá dicas aos telespectadores sobre como viver mais com boa saúde. Esse é justamente o tema da entrevista que ele deu a VEJA.
BREVE BIOGRAFIA DO DR.OZ
Dr.Mehmet Oz nasceu em Cleveland, Ohio (EUA), dos pais turcos. Ele é casado e pai de quatro filhos. Ele se formou da Harvard Univesity em 1982, depois fez mestrado e MBA na Universidade de Pennsylvania.
Ele é autor de mais de 350 publicações e vários livros. Em maio de 2005 estava na lista de New York Times Bestseller. Alguns livros e publicações dele junto com o colega Michael F. Roizen são:
Veja – Existe uma fórmula
para se manter jovem por mais tempo?
Oz – Sim. Há catorze agentes principais envolvidos
no envelhecimento. Sete retardam o processo, como os antioxidantes, e sete nos
enfraquecem, como a atrofia muscular. É preciso manter esses agentes
sob controle. O primeiro passo para alcançar esse objetivo é pensar não
na possibilidade de ficar doente, mas na necessidade de manter o organismo
saudável. Deve-se tirar o foco da prevenção dos males e direcioná-lo para a
preservação da saúde. Se ninguém mais morresse de câncer e de doenças
cardiovasculares, a expectativa de vida média do ser humano subiria apenas
nove anos. Isso mostra que, para aumentar consideravelmente a expectativa de
vida, não basta evitar doenças. É preciso cuidar do corpo para que ele não
enfraqueça. Quando uma pessoa envelhece, doenças potencialmente fatais, como o
câncer e o infarto, não aparecem de imediato. Antes que elas se instalem, o
corpo torna-se mais frágil e vulnerável.
Veja – O que fazer para evitar que o corpo
se torne frágil e vulnerável?
Oz – Meu novo livro, You Staying Young
(Você Sempre Jovem, ainda sem previsão de lançamento no
Brasil),
trata exatamente
desse tema. Os exercícios físicos são uma ferramenta essencial. Eles combatem o
primeiro sinal do envelhecimento, que é a perda de força muscular. Outros
recursos importantes são alimentar-se bem e meditar. Uma boa recomendação é a
prática do tai chi chuan, exercício oriental que combina equilíbrio,
coordenação motora e também meditação. Se todos adotassem essas medidas, a vida
média da população poderia subir para 110 anos. Quanto à alimentação, não podem
faltar nutrientes como o resveratrol da uva e o licopeno do tomate, que são
poderosos antioxidantes. O principal, mas também o mais difícil, controlar
a quantidade dos alimentos. De qualquer forma, todo mundo deve comer um pouco
menos do que tem vontade.
Veja – Fazer várias pequenas refeições por
dia, como recomendam alguns médicos, faz bem para a
saúde?
Oz – Deve-se comer de três em três
horas.
Se o intervalo é
maior, a taxa de hormônio grelina, que estimula a fome, começa a subir. O
problema é que, após uma refeição, ainda demora trinta minutos para que a taxa
desse hormônio volte a baixar. Em conseqüência disso, acaba-se comendo mais do
que se deveria. O mais importante, além de comer alguma coisa a cada três
horas, é trocar as refeições grandes por pequenas, intercaladas por lanchinhos.
Esse conceito não foi criado por mim. É o que mostram as pesquisas
científicas.
Veja – O que o senhor considera refeições
grandes e pequenas?
Oz – Uma
refeição grande ultrapassa 1 000 calorias. Uma pequena tem, no máximo, 500. Quem
consome por volta de 2 000 calorias diárias pode fazer duas refeições de 300
calorias cada uma e outra maior, de até 800. Os lanchinhos podem ter até 250
calorias.
Veja
– O que deve ficar de fora do cardápio?
Oz – Existe uma regrinha fácil de ser
usada, a regra dos cinco. Para isso, é preciso examinar o rótulo
dos alimentos. Cinco ingredientes não podem estar entre os primeiros listados no
rótulo. São eles: gorduras saturadas, gorduras trans, açúcar simples, açúcar
invertido e farinha de trigo enriquecida. Dois desses nutrientes são
gorduras, dois são açúcares. Os dois tipos de gordura podem estimular
processos inflamatórios no fígado que forçam a produção de substâncias
deletérias, como o colesterol. Também fazem com que o fígado fique
menos sensível à insulina, aumentando o risco de diabetes. Os açúcares listados
fazem mal por estimular a produção de insulina, o que aumenta o depósito de
gordura corporal. O pior é que esses cinco itens são os mais comuns nas
dietas atuais.
Veja – O cardápio básico do brasileiro,
composto de arroz, feijão, carne e salada, é saudável?
Oz – A princípio,
sim. Esse cardápio
contém exatamente os nutrientes para os quais a digestão humana está preparada.
Mas os brasileiros comem carnes muito gordas, o que é errado..
Antigamente, no mundo inteiro, quando os métodos de criação do gado eram mais
simples, a porcentagem de gordura dos melhores cortes da carne bovina era, em
média, de 4%. Hoje é de 30%. Outro problema dos hábitos alimentares do
brasileiro é que ele come arroz em excesso, o que não traz nenhum
benefício. Melhor seria adotar o arroz integral. Os alimentos integrais
têm mais fibras, o que os mantém mais tempo no intestino e diminui a
absorção de açúcar pelo organismo. Uma vantagem dos brasileiros é ter à
disposição enorme variedade de frutas e vegetais maravilhosos, por preço
razoável.
Veja – Os hábitos que o senhor propõe para
prolongar a vida são relativamente simples, mas exigem controle estrito sobre as
atividades do dia-a-dia. Como exercer esse controle?
Oz – A palavra-chave é
automatizar. Ou
seja, fazer desses hábitos uma rotina, sem precisar pensar muito neles. Acordar,
escovar os dentes e passar o fio dental, para reduzir a quantidade de
bactérias prejudiciais à saúde. Beber muito líquido ao longo do dia,
principalmente água e chá verde. Dormir ao menos sete horas por
noite. Durante o sono se produz o hormônio do crescimento, essencial mesmo
para quem já é adulto, pois prolonga a juventude. Caminhar meia hora por dia
e praticar exercícios que façam suar três vezes por semana. Meditar
cinco minutos diariamente, o que pode estar embutido na prática de ioga ou tai
chi chuan. Evitar alimentos que estejam na regra dos cinco, que mencionei
anteriormente. Uma última coisa: estreitar o relacionamento com as pessoas
próximas e abster-se de julgá-las. Em vez de julgar os outros, é melhor tomar
conta de si próprio.
Veja – Abster-se de julgar os outros ajuda a
manter a juventude?
Oz – Sim,
da mesma forma que resolver situações de conflito. O conflito não traz nada de
positivo. É apenas desgastante. Costumo recomendar a meus pacientes que
procurem as pessoas com quem mantêm uma relação de animosidade e tentem
resolver o impasse. Essa é uma atitude para o bem-estar próprio. Não há
nada de altruísta nela. É uma atitude egoísta.
Veja – O que o senhor acha das dietas para
emagrecer que surgem e viram moda a cada seis meses?
Oz – Essas dietas fazem sucesso, mas
são péssimas para a saúde. A alimentação não deve ser encarada como
uma maratona para a perda de peso. Uma dieta que tenha como chamariz o
emagrecimento rápido não é confiável. Comer menos do que o corpo necessita é
uma agressão à fisiologia. Ou seja, aos processos químicos que fazem o
organismo funcionar. Quando a fisiologia é desprezada, os resultados das dietas
são transitórios.
Veja – Por que o senhor recomenda cuidados
com o jantar?
Oz – Na
verdade, há uma única regra a observar: deve-se jantar pelo menos três horas
antes de dormir.
Deitar logo após a refeição facilita o acúmulo de gordura, principalmente na
cintura. Além disso, comer muito tarde prejudica o sono.
Veja – O senhor
recomenda beber muita água durante o dia. Quanto se deve beber
exatamente?
Oz
– Deve-se beber uma quantidade suficiente para que a urina esteja sempre
clara. Isso varia de
um dia para o outro. Em dias quentes, sua-se muito e, por isso, é preciso beber
mais água. Para quem não abre mão da cafeína, sugiro chá verde. Em lugar
de quatro cafezinhos por dia, beba quatro copos de chá verde. Essa bebida
concentra muitos antioxidantes e nutrientes bons para a saúde.
Veja – Muitos
ambientalistas condenam o consumo de água engarrafada. Do ponto de vista da
saúde, ela é melhor que a água da torneira?
Oz – Eu acho um erro beber água
engarrafada. Há dois
problemas principais com ela. O primeiro é que, se a garrafa plástica não for
reciclada, pode contaminar os mares e os rios. Isso prejudica o meio ambiente e,
indiretamente, a saúde. O plástico das embalagens vai parar nos peixes que
comemos. O resultado é que 97% das pessoas apresentam resíduos de plástico no
organismo, o que interfere no sistema hormonal. Esses resíduos estimulam os
receptores de estrogênio, o hormônio feminino. Em excesso, o estrogênio pode
causar câncer e outros problemas. As toxinas contidas no plástico também
aceleram o envelhecimento. O segundo problema é que, como a água engarrafada
não apresenta vantagens com relação à água da torneira, trata-se de um
desperdício de dinheiro.
Veja – O senhor recomenda exercícios físicos
que provoquem suor. Exercícios leves são inúteis?
Oz – Essas recomendações visam à saúde
cardiovascular. Para
essa finalidade, apenas os exercícios moderados ou intensos, que fazem suar,
apresentam benefícios. Mas os exercícios suaves e de baixo impacto têm valor.
Mesmo a caminhada movimenta grandes músculos, como os das coxas e dos quadris,
que consomem muita energia. Como o gasto calórico muscular é maior durante o
exercício, a queima de calorias aumenta.
Veja – Os suplementos vitamínicos são
criticados em muitos estudos científicos. O que o senhor acha deles?
Oz – Eles são eficazes, mas prometem
mais do que cumprem.
Na verdade, os médicos saem da faculdade sem conhecimentos suficientes sobre os
suplementos e são forçados a tirar suas próprias conclusões. De modo geral,
uma suplementação só é necessária quando as vitaminas não são obtidas
naturalmente com a alimentação. Por outro lado, acredito que determinadas
vitaminas podem melhorar a qualidade de vida e a longevidade. Entre elas estão
as vitaminas A, B, C, D e E, além de cálcio, magnésio, selênio e zinco. A
vitamina D é importantíssima, pois previne câncer e osteoporose.
Principalmente nos países mais frios, onde a exposição solar é restrita, os
suplementos são essenciais.
Veja – Além dos procedimentos já descritos
nesta entrevista, o que mais o senhor faz para adiar o
envelhecimento?
Oz
– Minha receita principal de juventude é brincar com meus filhos.
Também procuro
descobrir coisas novas todos os dias. Aprendo ao conversar com os outros e,
apesar de ser muito assediado para responder a perguntas, por causa de minha
atuação na TV, prefiro perguntar, saber como é a vida das pessoas, como elas
trabalham. Isso faz minha mente exercitar-se.
Veja – Nos últimos anos, o aperfeiçoamento
do tratamento clínico fez cair o número de cirurgias cardíacas. Essa é uma
tendência em outras especialidades médicas além da
cardiologia?
Oz – Sem
dúvida.
Os
recursos clínicos tornaram-se mais eficazes tanto para a prevenção de
doenças quanto para seu tratamento. Por isso, assim como na cardiologia, a
cirurgia deixou de ser a primeira opção em outras áreas. Há poucos anos, quando
o paciente machucava o joelho, ia direto para a sala de operação. Agora, ele
vai para a sala de fisioterapia. Essa tendência também é evidente nos casos de
diverticulite, uma inflamação do intestino, que passou a ser tratada com o
consumo de fibras. O mesmo acontece com pacientes que apresentam doença
arterial obstrutiva periférica. Antes eles iam para a faca. Agora, recebem como
orientação deixar de fumar e caminhar. Mesmo que sintam dor num primeiro
momento, essa é uma maneira de estimular o crescimento de novos vasos sanguíneos
para substituir os danificados.
Veja – O senhor já esteve no Brasil. Como
foi sua experiência no país?
Oz – Visitei o Brasil há muitos anos,
quando ainda era estudante de medicina. Fui ao Rio de Janeiro e conheci o doutor
Ivo Pitanguy. Também fiquei deslumbrado com as frutas brasileiras e com as
lojas de sucos. Elas misturam frutas e outros vegetais, uma combinação pouco
convencional. Conheci o açaí, que até hoje está no meu cardápio. Compro
açaí em Nova York mesmo. É um dos alimentos com maior concentração de
antioxidantes. Planejo voltar ao Brasil em meados do ano que vem para
gravar um programa. Quero muito ir à Amazônia e conhecer as plantas medicinais
da região.