Ano perdido. Por Marcos Coimbra
Não é algo incontroverso, mas são tantos os que concordam com a ideia que ela deixou de ser polêmica. A maioria dos analistas econômicos, o mercado, a mídia internacional e a “grande” imprensa local a repetem diariamente. Sem falar na oposição partidária, cujos expoentes a defendem com unhas e dentes. São eles que mais insistem na tese de que, de forma simplificada, se Dilma Rousseff fosse removida, por bem ou por mal, do cargo para o qual foi eleita, os problemas econômicos do País se resolveriam. Ou, no mínimo, seriam substancialmente menos graves. Se acreditarmos nesse argumento, dele decorrem duas consequências lógicas. Primeira: não teriam sido eventuais erros na política econômica do primeiro governo Dilma nem as medidas que tomou desde o início do segundo mandato as razões maiores das dificuldades presentes. Ao dizer que “a crise é política”, perdemos a condição de responsabilizar a economia, incluída a forma de administrá-la. Quem sustenta a tese presume que as causas fundamentais da crise estão na má gestão política: atritos com as principais lideranças do Congresso e do Judiciário, incapacidade de formar maiorias estáveis na Câmara e no Senado, falta de diálogo com as oposições e ausência de interlocução com movimentos sociais, entre outras. Aí estariam os verdadeiros entraves que impedem a solução dos problemas atuais. A segunda consequência é menos óbvia. Se a origem da crise fosse primordialmente a incompetência da gestão econômica, seria fácil e até natural inculpar o governo. É dele a obrigação de evitá-la. Mas, se acharmos que a “crise é política”, as culpas teriam de ser repartidas.
Neste fim de outubro de 2015, essas questões vêm à mente. Completa-se um ano da vitória de Dilma Rousseff na última eleição, em meio à mais longa e grave crise política do Brasil moderno, pois as anteriores foram mais breves (a de Fernando Collor durou três meses) ou mais circunscritas (Fernando Henrique Cardoso nunca deixou de ser o predileto das elites).
Os 12 meses de instabilidade política são fruto do inconformismo da oposição partidária, que insiste em não aceitar os resultados eleitorais. Suas lideranças abdicaram de qualquer papel de pedagogia política e se deixam conduzir pelo que de mais retrógrado, preconceituoso e burro existe na sociedade. Para fragilizar o governo, fazem um jogo parlamentar nefasto ao País. As corporações da “grande” mídia, suas aliadas, criaram e difundiram um clima de pânico na opinião pública, que levou os brasileiros a expectativas completamente irracionais a respeito da economia, como mostraram diversas pesquisas recentes, assim agravando os problemas existentes.
A “crise política” que produziram (e à qual o governo não conseguiu reagir) está na raiz da crise econômica. E nenhum dos segmentos da oposição se preocupa com o custo social e humano da estratégia de seu aprofundamento. Enquanto fazem seu jogo, a população perde renda e emprego, é forçada a conter projetos e a adiar sonhos.
O pior é que provocaram muito prejuízo à toa. Nem Dilma vai sair antes da hora do cargo para o qual a maioria da população a elegeu nem conseguiram sepultar a chance de vitória do PT na próxima eleição.
O saldo deste ano, que nos fizeram perder com seu impatriotismo, é péssimo, para o Brasil e para as oposições.
Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/noticia/custo-da-crise-e-alto-mas-dilma-nao-sai-antes-da-hora-por-marcos-coimbra