“Há um tabu em discutir questões de gênero na sala de aula”, afirma conselheira Ana Vaneska
Democracia, acesso à informação e o empoderamento de grupos sociais foram temas abordados pela professora e pesquisadora Ana Vaneska, em entrevista concedida à equipe do Instituto de Radiofusão Educativa da Bahia (IRDEB). Conselheira titular do Conselho Estadual de Cultura, ela apresenta reflexões ligadas à educação como espaço libertador de preconceitos e ao modelo de produção cultural centrado na lógica do mercado.
Parte da entrevista tem sido veiculada nos intervalos ao longo da programação da TVE. Porém, em uma versão ampliada com pouco mais de cinco minutos, é possível desbravar ainda mais alguns pontos de vista da conselheira. “Vivemos em uma sociedade capitalista, machista, racista, misógina e homofóbica. Quem tem acesso à informação e ao poder econômico, muitas vezes consegue avançar sem sucumbir a esses diversos ‘ismos’ que são as culturas de opressão e repressão”, comentou.
Professora na rede municipal de ensino de Salvador, a conselheira acredita que o ambiente escolar é um excelente espaço para o fomento de debates que promovam reflexões sociais, políticas e culturais. Ana defende, por exemplo, a ampla discussão nas escolas a respeito das questões de sexualidade e gênero. “Há um tabu em discutir homofobia e questões de gênero dentro da sala de aula”, assinalou.
Na entrevista, Ana repudia o fato de o Plano Estadual de Educação, documento que prevê diretrizes e metas para a educação baiana, ter sido aprovado após a supressão de termos como gênero e diversidade sexual para expressões genéricas como respeito às diversidades e tolerância. “A escola pública precisa ser, sobretudo, o espaço mais forte de debate democrático”, defendeu.
MERCADO – Ana Vaneska é presidenta da Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do Conselho Estadual de Cultura. Defensora das manifestações populares e dos grupos culturais que reúnem coletivos da sociedade civil, ela acredita que o fazer cultural precisa ser analisado de modo estratégico em relação ao mercado da indústria cultural.
“O mercado é muito voraz. Ele chega e transforma o criador e a criatura em mercadoria. Então, se você não tem uma política pública que garanta o fazer e o saber na sua plenitude, a probabilidade é que toda essa informação do universo da cultura sucumba em função do valor da mercadoria, em função da relação entre mercadoria e consumidor”, assegura.
Diante desse desafio, a conselheira critica o atual modelo político do país e defende a necessidade de avaliação do papel da democracia na sociedade contemporânea. “O problema do nosso sistema político é que a gente foi ensinado a tomar a decisão unicamente através do voto, e aquele que é eleito e votado não representa efetivamente o nosso poder de decisão, a nossa capacidade de intervenção. A democracia precisa ser repensada, sobretudo, através da cultura”, finalizou.