Aldeia Nagô
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Disputa eleitoral e avanço popular Por Hamilton Octavio de Souza

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

O que os trabalhadores e os movimentos sociais podem fazer
para ampliar sua organização e fortalecer suas próprias lutas


A disputa
eleitoral já está nas ruas. Ou melhor,
está na mídia. Os jornais, as revistas, a TV, o rádio e a Internet já
estão
noticiando a movimentação dos partidos e dos candidatos. Ao mesmo tempo
veiculam
também os podres de sempre, as matérias encomendadas, a baixaria, a
troca de
denúncias sensacionalistas. Tudo indica que até o primeiro turno das
eleições,
no dia 3 de outubro, o povo brasileiro será bombardeado por uma guerra
suja sem
limites éticos e políticos.

O tiroteio generalizado evidentemente
encobre
o verdadeiro sentido das eleições, que é a escolha consciente de
propostas,
programas e candidatos que expressem coerentemente as demandas maiores
do povo.
No meio da guerra suja, com acusações de todos os lados, fica cada vez
mais
difícil selecionar partidos e candidatos identificados com os
trabalhadores e as
causas populares, que mereçam a confiança não apenas no voto, mas
principalmente
depois de eleitos.

Nessas horas, o melhor mesmo é não se deixar
enganar
pelo discurso demagógico e nem pela propaganda enganosa, não embarcar no
denuncismo rasteiro da grande imprensa, já que a artimanha dos setores
conservadores, das elites e da direita em geral, é confundir o
eleitorado, é
colocar todo mundo no mesmo saco da despolitização, do fisiologismo, da
corrupção e dos interesses pessoais. Os eleitores precisam se livrar
dessas
armadilhas e escolher candidatos verdadeiramente comprometidos com as
transformações sociais.

Mais do que isso, o momento da eleição
pode e
deve ser aproveitado para que a comunidade, os trabalhadores e o povo,
tratem de
fortalecer as suas próprias organizações, as associações de moradores,
os
sindicatos, os movimentos sociais por moradia, educação, saúde, emprego,
melhores condições de vida e de trabalho. Independemente da escolha de
partidos
e candidatos nessa eleição, as organizações populares devem debater a
conjuntura
política e econômica do país, construir suas próprias pautas de
reivindicações,
definirem seus métodos de luta, ter uma atuação forte e contínua para a
obtenção
de conquistas duradouras. A visão imediatista de que a eleição resolve
tudo, é
um grande equívoco.

A eleição deste ano vai escolher presidente
da
República, senadores, governadores, deputados federais e estaduais.
Devemos
apoiar e votar somente naqueles candidatos que tenham projetos para o
País, que
não vão jamais trair o povo, que vão honrar os votos depois de eleitos.

A eleição não é a única forma de o povo trabalhador influenciar
na
política brasileira. A verdadeira democracia é mais ampla que o sistema
representativo, contempla a participação efetiva do povo trabalhador nos
destinos do país, nos espaços públicos e privados, nas escolas, nos
locais de
trabalho e nas instituições em geral.

O Brasil precisa de uma
democracia
real, ampla, participativa, com igualdade de direitos para todos. Mais
importante do que o voto é a capacidade de pressão organizada dos
trabalhadores
e dos movimentos sociais. Se o povo não defender as suas propostas com
total
autonomia, dificilmente o que é prometido na campanha eleitoral será
cumprido
posteriormente. A força dos trabalhadores depende de sua própria
organização
permanente, em movimentos sociais, sindicatos e partidos. A hora é de
refletir e
de agir. O que devemos fazer para construir no Brasil a democracia que
assegure
o avanço popular?
 
Hamilton Octavio de Souza
é jornalista e professor da PUC-SP

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