Mulheres estariam cada vez mais sozinhas porque são exigentes demais por Renata Rode
"A mulher está mais criteriosa no amor devido ao
aumento do conhecimento de sua autossuficiência. A solidão não humilha
mais",
diz psicóloga
É cada vez mais comum ver uma amiga que namora dizer para a solteira: "Você
está sem ninguém porque é muito exigente". Será que esse é mesmo o único inimigo
do cupido e, se for, quais os motivos para tanto rigor no setor da paixão?
Segundo a psicóloga Neiva Bohnenberger, o que torna as mulheres cada vez mais
criteriosas no amor é o aumento do conhecimento de sua autossuficiência. "Elas
aprenderam a buscar a gratificação em coisas que não dependem dos homens e,
principalmente, aprenderam a tirar prazer do seu trabalho. A solidão não humilha
mais", diz Neiva.
Quem endossa essa opinião é a guia de turismo Soraia Timm, 45 anos. Ela está
separada há 15 anos e não pensa em se casar de novo tão cedo: "Eu cheguei a um
estágio de ‘iluminação’ tão grande que o mesmo prazer ao sair com um namorado
sinto ao jantar com minhas amigas ou ao assistir a um bom filme em casa com
minha gatinha. Antes, os homens eram o centro do meu universo, e eu só me dei
mal com isso; agora eles são um dos planetas, em mesmo grau de importância de
minhas amigas, meu trabalho, minha vida cultural. Portanto, se existe uma
exigência, é no sentido de encontrar um homem que evolua junto comigo. Um que
atrapalhe essa evolução eu não quero, não, obrigada".
Eles se defendem
"Nós estamos tentando acompanhar a
evolução feminina e ficamos um pouco perdidos, sim, porque as mulheres exigem
tudo do homem ao mesmo tempo. Elas querem um companheiro que adore ir ao
shopping, mas, para isso, podem chamar um amigo. Quando elas pedem um protetor,
confundem a imagem do companheiro com a do pai. Elas querem o homem mais que
perfeito, e isso não existe", diz Marcelo Vitorino, autor do blog "Pergunte ao
Urso" (www.pergunteaourso.com.br) e do livro homônimo lançado pela Matrix
Editora.
A escritora Stella Florence, 46 anos, que acaba de lançar o livro "32 –
anos, homens, tatuagens" (Editora Rocco), com experiências baseadas num site de
relacionamento, concorda com Marcelo Vitorino no sentido de concluir que os
homens estão bem mais simples do que as mulheres. "Acho que eles se contentam
com bem menos do que nós. Para eles, se a mulher for atenciosa, gostar de
transar e não ficar cobrando coisas o tempo inteiro, já está ótimo. Já as
mulheres estão sempre procurando mais, são mais complexas, querem se melhorar e
melhorar tudo, inclusive seus desejos. Aí começa o desencontro",
afirma.
Infelizmente, nem todo mundo está numa boa assim, como é o caso de C.A, 42
anos, divorciada e sem namorado há meses. "Estou até cansando um pouco de
procurar um companheiro e me sinto frustrada. Não acho que eu seja exigente
demais; pelo contrário, por carência já levei alguns relacionamentos, mas acho
que os homens não querem compromisso de jeito nenhum, e eu não consigo me
adaptar a essa historinha de fazer sexo sem amor. Então, fica complicado",
conta.
Relacionamentos descartáveis
Para o mestre em psicologia
pela USP (Universidade de São Paulo), André Camargo Costa, o maior problema do
desencontro nas relações não é a exigência, e sim a era dos amores líquidos. Seu
pensamento vai ao encontro ao do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, expert neste
assunto e autor do livro "Amores Líquidos" (Editora Jorge Zahar), que acredita
que os relacionamentos se tornaram cada vez mais descartáveis. Segundo sua
teoria, a disponibilidade, de modo geral, para negociar os impulsos, investir em
projetos de longo prazo e tolerar os pré-requisitos que garantiriam um
relacionamento duradouro estão cada vez mais em extinção, e as pessoas acabam se
machucando mais, preferindo não arriscar novas empreitadas no
amor.
Vendo o desabafo do empresário H.Y., 33 anos, de São Paulo, sozinho há um
ano, fica mesmo mais fácil de concordar. "Eu confesso que estou procurando uma
garota para um relacionamento sério, mas me vi em uma saia justa. Gostava de uma
moça com quem saía e queria algo mais quando ouvi dela que não queria se prender
a ninguém porque se machucou muito no último relacionamento. Vai entender as
mulheres… Uma amiga me disse que eu encanei porque ela não queria nada sério
mesmo, mas não acho que seja isso", diz.
Cinco dicas para "baixar a guarda" no amor
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Carência é inimiga da sedução, portanto trabalhe isso com amigos, esportes e animais de estimação
A escritora especializada em relacionamentos e blogueira do vigilantesdaautoestima.zip.net, Gisela Rao dá uma mãozinha para simplificar as coisas e deixar o amor fluir. Acompanhe:
1- O problema das mulheres é levar o amor a sério demais, isso significa que ficam pensando o tempo todo no assunto. Que tal tratar desse tema com mais leveza? Dessa forma, você também fica uma pessoa mais agradável para se conhecer e conviver.
2- Acredito que muita ansiedade seja o inimigo número 1 da sedução. Tente trabalhar melhor a sua carência afetiva antes de conhecer um homem. Existem várias formas para isso: amigos, esportes, hobbies, animais de estimação, florais de Bach e até um P.A., patrocinador de alegria (algo como "amizade colorida" dos nossos dias).
3- Quando estiver sozinha, não se faça de vítima, do tipo "ninguém me quer". Ao contrário, aproveite para se namorar, se curtir e aumentar a sua autoestima. Uma mulher autoconfiante é o maior afrodisíaco.
4- Se você é muito exigente com os outros, significa que está sendo muito exigente com você mesma. Que tal cultivar um pouco de compaixão?
5- Os homens também têm medo de amar, não é só você. Por isso, nada de pressa, como escolher o vestido de noiva no primeiro encontro. (Renata Rode)