Aldeia Nagô
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Sem retrocesso por Nelson Pellegrino

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Num ano eleitoral, os ataques ao Bolsa Família saíram de moda. Os mesmos
que o
classificavam de esmola, assistencialismo e demagogia agora prometem
continuá-lo
e até "aprofundá-lo".


Por oportunismo eleitoral, seus detratores fizeram um recuo tático, mas a
população sabe que a oposição, se dependesse só dela, acabaria com a iniciativa
que colocou o tema da fome na pauta mundial. O Bolsa Família obteve resultados
tão espetaculares que deverá ter prosseguimento no próximo governo, sob comando
– esperamos – da candidata que representa a continuidade do governo
Lula.

Além da justiça social com 12,9 milhões de famílias de brasileiros em
situação de pobreza e extrema pobreza, o programa produz reflexos no conjunto da
economia. Os números são robustos e comprovam o acerto do governo do PT e
aliados: pesquisa recente mostrou que a expansão do valor total dos benefícios
pagos pelo Bolsa Família entre 2005 e 2006, de R$ 1,8 bilhão, provocou um
crescimento adicional do PIB de R$ 43,1 bilhões, e receitas adicionais de
impostos de R$ 12,6 bilhões. Esse ganho tributário é 70% maior do que o total de
benefícios pagos pelo Bolsa Família em 2006, que foi de R$ 7,5
bilhões.

Foi um dos fatores que ajudaram o Brasil a atravessar a crise mundial
iniciada nos EUA em 2008. Os beneficiados transformam-se em consumidores,
ajudando a estimular as economias locais e regionais. É extraordinário mecanismo
de distribuição de renda, numa das sociedades mais desiguais do planeta. Para
ter acesso ao programa, as famílias precisam se comprometer com a presença de
suas crianças nas salas de aula, com a vacinação em dia e cuidados com as
gestantes. Alunos cujas famílias recebem dinheiro do Bolsa Família apresentam
melhores índices de aprovação e menos evasão escolar que os estudantes regulares
da rede pública brasileira, segundo recente pesquisa do MEC.

Há facetas pouco conhecidas. O programa participa, junto com o Banco do
Nordeste, de iniciativa de oferta de crédito para atender populações de baixa
renda e do Programa Primeiro Passo, destinado a formar 180 mil profissionais de
diferentes áreas – como pedreiros, azulejistas, eletricistas -, para atuar em
obras do PAC. O treinamento profissional abre oportunidades para pais e mães que
deixem de receber os recursos, capacitando-os para o mercado de trabalho. Cerca
de 99,5% dos beneficiários fazem algum tipo de trabalho.

O índice de pobreza extrema no país, de 12% em 2003, caiu para 4,8% em 2008.
No mesmo período, a desnutrição infantil recuou de 12,5% para 4,8%. Assim,
questiona-se o ataque ao Bolsa Família pelo pré-candidato José Serra, para quem
o programa "ajuda, mas não resolve" a questão do emprego. Ora, as pessoas moram
em favelas e vivem na pobreza não porque querem, mas por circunstâncias. E o
papel do Estado é tentar resolver seus problemas.

O Bolsa Família não é a única política social do governo Lula. Há a política
de aumento real do salário mínimo (mais de 50% de elevação em sete anos e meio),
programas como Luz para Todos, Pró-Uni etc. É uma obra social para ficar na
história. Antepõe-se àqueles que se fecham numa visão egoísta, neoliberal e
monetarista, como se as desigualdades sociais e históricas em nosso país fossem
solucionadas apenas pelo mercado. Os dois mandatos de Lula têm a marca das
políticas sociais, que devem prosseguir, sem
retrocessos.

Artigo publicado no
jornal O Globo, edição de 04/06/2010
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