Lirismo Palaciano. Por Francisco Costa
Rogo, senhora,
Vem ser a empreiteira da minha fortuna,
A dotação orçamentária fraudada,
O desvio consentido, minhas diárias,
Meu jeton.
Figure na minha delação premiada,
Dê-me salvo conduto para roubar,
Aconchegue-se na minha conta secreta,
Dirija a minha empresa no paraíso fiscal.
Venha, senhora. Vamos, juntos, sonegar,
Superfaturar, exigir comissões e propinas
Nas obras públicas nas mãos dos cartéis.
Dispa-se da honra, da dignidade, do pudor,
Desses preconceitos cultivados por pobres,
E invista na mentira, no ódio, na esperteza
Amealhando votos nas senzalas e asilos.
Venha, deite-se comigo, usufruamo-nos
Como se cofres públicos privatizados,
Um do outro, em amor eterno e constante,
Nas alcovas aconchegantes do Judiciário.
Nomeie-me qualquer coisa abjeta e suja
No seu corpo cancerado por desfalques,
Todo mestastaseado nos rombos e saques,
Sangrando indignação e opróbrio, asco,
Pelos que a chamam autoridade, poderosa,
Servidora do povo, quando não és mais,
Nem um pouquinho mais que uma cafetina
Acreditando que o povo é uma puta.