CPI do Amor e do Sexo por Xico Sá
Uma amiga, senhorita F., entrou na caixa postal do correio eletrônico do marido.
Ih, lá vem a mesmíssima história, phodeu com ph, já vi esse legítimo Hitchcock
dos lares doces lares mil vezes, esse Stephen King do amor e da sorte, esse ato
bestialmente repetitivo e sempre monstruoso.
Pra completar, a senhorita
F. deu uma sherlockadazinha também no celula, de leve, enquanto o traste-costela
via lesadamente o Fla-Flu de domingo.
Um desastre.
Entre
cantadas e semi-cantadas ou apenas bobagens virtuais, leros, flertes, lirismos
avulsos e outras gracitas…, a amiga entrou em desespero, gritou, berrou,
imitou o quadro do Munch, discutiu a relação por uma semana, e quase acaba com
aquela vida sob o mesmo teto até então reconhecida no seu grupo de amizade como
exemplar, honesta e íntegra. Casal invejável meeeeesssmo.
O cabrón tinha
algum caso para valer? Não. Algum namorico mais a sério? Nada. Havia transado
com alguém e comentava que foi bom, meu bem?, essas coisas?! Nécaras. Só
vadiagem internética, tipo a polícia prender no carnaval por embriaguez e
desordem,saca?
Tudo espuma flutuante, sem lastro de verdade, garrafas
atiradas aos mares da virtualidade e suas sereias ulyssianas.
Mas foi o
bastante para uma baita crise. Quase uma ruptura. Além de ter deixado a xícara
amorosa trincada para os próximos cafés com torradas e aquelas coisas lights que
as moças tanto gostam.
Por estas e por outras é que não é nada
recomendável quebrar o sigilo postal do companheiro ou da fofolete.
Ora,
quem, entre nós, resistiria a meia hora de quebra do sigilo amoroso ou sexual?
Como na arrecadação de recursos para campanhas eleitorais, todo mundo,
até mesmo no mais escondido dos conventos de devotas beneditinas, já teve o seu
"caixa 2" do desejo. Em pensamentos, atos ou omissões, tanto faz.
Em
telefonemas, emails ou declarações bêbadas na madruga. No MSN, entonces, ave
palavra e más intenções!
Ninguém resiste a meia hora de quebra de
sigilo. No amor, somos todos, em alguma ocasião, corruptos. Em maior ou menor
grau, todos damos nossas pisadas ou nossas phodas platônicas.
Menos
naquela hora em que a paixão por alguém nos toma 100% do cérebro e a febre
amorosa é capaz de quebrar termômetro. Depois passa, é o que dizem, inclusive a
ciência, que dá um prazo de validade às paixões de três meses… ou seis meses,
menos de um ano, com certeza -preguiça monstra de entrar mais uma vez no google.
Nosso destino é pecar, como disse o pudico tio Nelson, padrinho
espiritual deste cronista. Por estas plagas, até a virtude prevarica.
Às
sextas-feiras, então,já repararam como o cheiro de pecado toma conta dos bares e
é mais forte até do que o odor que vem dos ralos e bueiros?
Quem, entre
nós, machos & fêmeas, resistiria a uma CPI do amor ou do sexo?
Este
cronista ficaria rico, na pele de um camelô de álibis. Ah, as lindas e
impagáveis fraquezas da carne.
As despesas com jantares à luz de vela
denunciariam os amantes pelo cartão de crédito ou no extrato para simples
conferência. Os porteiros de prédios e motéis seriam os mais perseguidos dos
depoentes. Seria um inferno.
A melhor amiga ou o melhor amigo, estas
instituições supostamente vestais, também seriam convocados a depor. Na CPI do
amor sobraria até para o entregador de pizzas, que também sabe muito sobre os
segredos de alcova e adonde tudo termina.
Por estas e por outras, melhor
abafar o caso, amor, passa o orégano. Segue a vida, melhor, seguimos a morrer em
vida, como diria meu amigo Sêneca.