anDANÇAS… pelos jornais da Cidade da Bahia. Por Duto Santana
Como não poderia ser
diferente, venho sendo bombardeado com diversas informações, opiniões,
argumentos, a respeito das mudanças implementadas nesta gestão da SECULT-BA e da
Diretoria de Dança da FUNCEB, no que diz respeito ao BTCA (Balé do Teatro Castro
Alves). Uma das coisas mais interessantes é que a amplitude de mudanças que
estão sendo provocadas na Dança a partir dessa gestão é enorme. E o único ponto
que tem interessado aos jornais são as mudanças no BTCA. É de gerar
c.u.r.i.o.s.i.d.a.d.e.!
Sinto-me convocado,
pelo menos, a pontuar algumas questões sobre dança que estão sendo escritas sem
o menor compromisso, no meio desse turbilhão de atropelos. Acredito que existam
relevâncias sendo apontadas, mas, sobretudo, no que se refere aos argumentos que
se fundamentam em informações de dança, as críticas caem em discursos
retrógrados, esvaziados e conservadores. E o mais complicado é a fragilidade das
escolhas que sustentam esses discursos.
Olhando palavras…
para vê-las.
"longa e brilhante
trajetória" (A Tarde – Réquiem pelo balé do TCA – Samuel Celestino) – é
indiscutível e inquestionável o valor histórico e cultural do surgimento e
desenvolvimento do BTCA. Entretanto, sua trajetória é também marcada por
questões que vão desde insatisfações de bailarinos que discordam de seu modelo,
passando por problemas com a direção, e encontrando-se com problematizações
claras sobre os abismos estéticos e produtivos do Balé com o contexto, sobretudo
de dança, no qual se insere local, nacional e internacionalmente. Ao se utilizar
desse ponto de vista para discutir outras coisas, que não tem nada a ver
realmente com uma análise da trajetória do BTCA, fica parecendo que este é um
ponto pacífico na discussão. E sabe-se, tanto internamente, quanto externamente,
que isso é uma inverdade.
A "longa"
trajetória, como todas, é também caminho de percalços, dificuldades e
amadurecimentos, com os quais as demandas de mudança rearticulam e oportuniza o
desenvolvimento. O próprio evento de mudança de direção, da década de Antonio Carlos Cardoso para
Lílian Pereira, já foi um exemplo claro dessas necessidades. Em seu artigo,
sobre o Balé, Paixão[1][1] nos
lembra que "a diretora, Lílian Pereira, que ingressou como bailarina na
companhia em 1982, seguindo uma trajetória que passa pela assistência de
direção, assume os trabalhos em novembro de 2005 para superar uma extrema
insatisfação do grupo de artistas com a direção anterior". Em uma das primeiras
atividades dessa gestão, a companhia teve a oportunidade de estudar com o jovem
coreógrafo paulista, Bongiovanni (ex-bailarino do Balé da Cidade de São Paulo, e
que já dançou importantes repertórios contemporâneos na Europa como de Mats Ek e
William Forsythe, tem coreografado companhias como os balés do Guairá e da
Cidade de São Paulo). Na mostra pública de resultados no TCA, não somente o
resultado estético de um pequeno workshop, mas principalmente, o discurso dos
bailarinos demonstrava claramente o encontro deles com um toque de renovação
necessária e estimulante para o exercício produtivo do balé. Imaginando a
dimensão do TCA, é importante relatar que na hora dessa conversa, também
pública, não se conseguia preencher nem a primeira fileira do teatro. Ah, e
também, não havia nenhuma nota sobre isso no jornal.
"está morrendo
(assassinado) o Balé do Teatro Castro Alves" (A Tarde – Réquiem pelo balé do TCA – Samuel
Celestino)
Numa metáfora da
metamorfose da lagarta, Morin (um atual pensador francês) fala da naturalidade
da morte – da lagarta – para a geração de nascimentos – da borboleta. É claro
que não estou fazendo nenhuma apologia à morte, muito menos a "assassinatos",
como o recurso de êxtase (con)textual, empregado nessa matéria jornalística. O
que me parece importante na fala desse pensador, é reconhecer a metáfora da
morte como significado de fim, nos diversos ciclos de vida que uma vida tem.
Acho que se assim o fosse, o emprego desses termos – "está morrendo
(assassinado) o Balé do Teatro Castro Alves" – pudessem ganhar um sentido mais
produtivo e menos conservador e reacionário. Pois então, poderíamos ver esse
pensador baiano, autor desse texto, ser parte integrante do conflito de
nascimento e crescimento da borboleta, e não apenas um urro angustiado pela
"morte" da lagarta. Existe algo sobre "a morte do BTCA" e, consequentemente,
sobre "nascimentos do BTCA", que já estavam aí, antes mesmo desse governo se
candidatar, e não víamos tanta ênfase nisso, pelos jornais. A mudança de direção
de 2005, colocando uma pessoa da cena e da história local da dança e do próprio
BTCA, Lílian Pereira, workshops de qualificação e atualização, como feito com o
coreógrafo Luiz Fernando Bongiovanni, os resultados estéticos altamente
diferenciados no repertório do BTCA, advindos com o trabalho de Mário Nascimento
em Devir, e a parceria
artístico-pedagógica com a Escola de Dança da FUNCEB, na preciosa remontagem de
Saurê (trabalho do repertório do BTCA, criado por Carlos Moraes), são valiosos
marcadores históricos de ações políticas da dança no BTCA, que já engendram
muitas "mortes" e "nascimentos". E não li nenhum tipo de alusão a essas questões
nos jornais até hoje. Inclusive ainda são bem atuais essas notícias e bem
necessárias para jornalistas realmente interessados em investir no
desenvolvimento do cenário da dança baiana, e especificamente na história do
BTCA. Ouçam: s.u.g.e.s.t.ã.o.
"pequenos grupinhos
de dança" (A Tarde –
Réquiem pelo balé do TCA – Samuel Celestino)
Não só
historicamente, como atualmente, esses tais "pequenos grupinhos de dança" tem
sido fundamentais na construção da produção baiana de dança. Compromisso de
desenvolvimento de pesquisa artística, diálogos críticos com contexto local e
global da dança, alimentação na formação de artistas em seu meio, diálogo com
outras linguagens artísticas, diálogos com outros locais de produção e
veiculação de dança, dentre outras importantes ações desses. Desde Lia Robatto,
Jorge Silva a Tran Chan, vemos realidades históricas de grandes trabalhos
artísticos que tiveram por muito tempo esse contexto de "pequeno grupinho de
dança". Atualmente, jovens criadores já com respeitado destaque nacional, como
Clara Trigo e Jorge Alencar, também alargam o time dos "pequenos grupinhos de
dança". Para quem se preocupa com produção artística em dança, é claro que
"pequeno" não é a coerência artística desenvolvida pelo trabalho de criadores
como esses. Pelo contrário, pequenas são as condições de existência e de
produção de sua arte, e mesmo assim, surgem vigorosas borboletas capazes de
alçarem vôos importantíssimos para o cenário ético, estético e político da
produção em dança na Bahia e no Brasil. O melhor é poder imaginar a
possibilidade de c.o.e.x.i.s.t.ê.n.c.i.a. entre as borboletas desses "pequenos
grupinhos de dança" e as borboletas da "longa e brilhante trajetória do BTCA", e
essas realidades não serem mutuamente exclusivas, mas dialógicas (poderem
constantemente bater um papo entre si). Isso nos lembra o n.o.v.o. projeto do
BTCA: BTCA Residência – projeto
de articulação entre grupos de pesquisa artística em dança, de Salvador, e o
BTCA, para fim de (con) vivência e produção artística conjunta por tempo
pré-determinado. Mais uma borboleta (ou várias, não
é?)!
"Como todos sabem,
bailarinos, assim como jogadores de futebol, têm vida profissional curta, dada
às exigências de extremo preparo físico." (A Tarde – Réquiem pelo balé do TCA – Samuel
Celestino)
Ao ler esse tipo de
idéia de dança, fica claro o distanciamento real desse nosso autor frente ao
cenário histórico e crítico da dança. Pelo menos, desde o início do século
passado, argumentos artísticos fortíssimos como os trabalhos das solistas
modernas (Isadora Duncan, Mary Wigman, Ruth Saint-Denis, e a lista só cresce)
passando pelas fantástica e importantes obras de Merce Cunningham, Lucinda
Childs, Twyla Tharp, Steve Paxton, inicialmente na Judson Church e depois em
seus desdobramentos, bem como o trabalho preciso, político e com interfaces
artísticas da alemã Pina Bausch e também da francesa Maguy Marin, e ainda tantos
novos criadores que se revelaram a partir da década de 90, como Jérôme Bel, La
Ribot, Le Roy, Thomas Lehmen, Vera Mantero, João Fiadeiro, Anne Teresa de
Keersmaeker, e a lista só cresce. E para quem encontra seu prazer na danças cuja
familiaridade aproxima-se do balé clássico, William Forsythe e Baryshnikov são
importantes citações. A lista cresce… e fica claro que quem realmente se
interessa por dança sabe que entre a complexidade da dança e do futebol existem
pouquíssimas coisas em comum. Arriscaria uma única: corpo/movimento – talvez responsável pelas
distorções de entendimento propostas por essa frase. Mas enfim, corpo/ movimento está nos bancos, nos
parques, nas lojas, na escola, nos laboratórios científicos, nas zonas de
prostituição, nas astronaves – e a lista cresce – e ninguém fica falando que
isso tudo é dança, muito menos construindo esse tipo simplista de comparação.
Mas sabemos que essa questão da idade e do esforço físico, nesse papo para
diferenciar dança de futebol é uma longa conversa. De preferência com vídeos
também, porque não são palavras que demonstram melhor isso – é a própria dança.
Porque, o problema real que a mim se apresenta, é que essas pessoas têm de ver
essas danças, para entenderem que já não estamos (há muito tempo… muito
mesmo!) na França do séc. XVIII.
"Só para um
contraponto e aporrinhá-lo mesmo, felizes são os cubanos e os russos por nunca
terem tido um Meirelles como gestor cultural. Caso contrário, a Companhia
Nacional de Cuba, o Bolshoi, o Kiev, entre tantos corpos oficiais, já teriam
sido extintos por sufocamento progressivo …" (A Tarde – Réquiem pelo balé do TCA – Samuel
Celestino)
Atestando ainda mais
seu amplo desconhecimento e descompromisso com o contexto de dança no qual
vivemos, esse parágrafo irônico ressalva grandes companhias de balé clássico
(Companhia Nacional de Cuba, o Bolshoi, o Kiev) e ainda existentes, para
justificar o quão "felizes" são esses lugares, por não terem esse "problema" que
o autor está apontando. No Brasil (não é só na Bahia, muito menos só em
Salvador) de todas as companhias oficiais (São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro,
Goiânia, Salvador – e a lista cresce.), todas as companhias independentes com
produção mais consagrada e estável (Corpo, Quasar, Cena 11, Lia Rodrigues Cia.
de Danças …), importantes e conceituados criadores (Sandro Borelli, Décio
Otero, Vera Sala, Márcia Milhazes, Luiz de Abreu, Marta Soares, Giselle
Rodrigues, Andréa Bardawil, Mário Nascimento, Adriana Grecchi, … e a lista
cresce), bem como jovens e consistentes trabalhos como Kleber Lourenço, Coletivo
Couve-Flor, Clara Trigo, Kleber Damaso, Letícia Sekito, Jorge Alencar… e a
lista cresce)… Dentre tudo isso, e mais todos que não foram citados, mas fazem
parte, só existe U.M. trabalho de dança no BRASIL INTEIRO que vive essa
"felicidade de dança" estética e institucionalmente semelhante a esses citados
nesse artigo: a U.N.I.C.A. companhia, o Balé do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro. Nenhum outro trabalho, em nenhum outro canto do Brasil, produz
artisticamente com essa idéia de dança (Balé Clássico), que está na referência
dessa citação, feita para justificar uma vida "feliz" de dança. E ando mais, a
própria dança, e o próprio balé clássico já vem se criticando e se reformulando
há m.u.i.t.o. tempo. Um exemplo é o complexo sistema de criação e composição
gerado pelo coreógrafo americano William Forsythe e seus resultados
coreográficos no Frankfurt Ballet e em tantas outras companhias como convidado.
E um outro importante exemplo é o trabalho feito pelo criador francês Jérôme
Bel, no Balé da Ópera de Paris e replicado no Balé do Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, no qual elementos autobiográficos de uma bailarina de coro de cada
companhia dessas (na França, a bailarina Veronique Doisneau era a
intérprete, no Brasil, Isabel
Torres) organizavam uma coreografia preenchida de vivências pessoas dessas
bailarinas e de seus balés dançados, elencando muitas inquietações construídas
por esse contexto, para a vida dessas pessoas da dança. Existe muito mais entre
"o coro e a coda" do que os olhos têm corrido.
"O Balé de São Paulo
e o Guaíra têm duas companhias como era o BTCA." (Bailarina anônima do BTCA, O Balé na dança. A Tarde,
17/02/2008)
Esse tipo de
argumentação, feito por essa bailarina anônima (o que significa isso nos dias de
hoje?), e não só por ela, também pelo jornalista Samuel Celestino, mostra como
vivemos um modelo de colonizado. Em momento nenhum se percebe um olhar crítico
para a realidade dessas companhias citadas para se chegar à conclusão de que
devem ser modelos seguidos. Alguns presentes lembram-se do debate, promovido
pela Diretoria de Dança da FUNCEB, ano passado, sobre o destino das companhias
oficiais, com Suki Villas-Boas, coordenadora (representando o) do Fórum Nacional
de Dança – BA, a crítica de dança, Helena Katz e a diretora do Balé da Cidade de
São Paulo, Mônica Mion. Esta fez vários relatos sobre as dificuldades
encontradas no exercício de sobrevivência dessa companhia. E, quando Helena Katz
disse que esse modelo de companhias oficiais era um modelo importado do
colonizador, e que deveria ser revista sua legitimidade, não houve nenhum
posicionamento sustentado, nem de Mion, em relação a isso. Sendo assim,
parece-me que o fato de construir comparações esvaziadas, aumenta a fragilidade
de um argumento, que quer se organizar, mas não acontece. R.u.m.i.n.a.n.d.o.
palavras ao vento!
tentATIVAS de FALAS
________
possibilidades
políticas a.i.n.d.a. inócuas
"Os críticos da
mudança do BTCA", "Observadores da Cena e Bailarinos Independentes" e bailarina
anônima (todos assim apresentados nesse jornal), acredito ser muito valioso o
exercício civil de posicionamento político de vocês. E a "abertura" desse jornal
tem sido fundamental, e talvez, a única "legitimação" dessa ação.
Entretanto, a
consistência de uma ação política, aponta para uma formulação realística de argumentos,
articulando-os com uma meta
(um projeto de ação), bem como
direcionando-os aos argumentos
postos com os quais estão lidando. No que vem se apresentando, vejo
muitos argumentos ("porque vai acabar/mudar" ou "porque por tanto tempo foi
assim" e ainda, "porque em São Paulo é assim"). Todos sem consistência
contextual. Não vejo nada que de fato aponte a consistência interna dos
argumentos gerados para as tais mudanças, muito menos uma proposta organizada
por essa (o) posição.
Portanto,
organizem-se! Elaborem propósitos de fato. Enquanto as palavras vão sendo
levadas nos ventos das esquinas, ou amassadas nas caçambas de lixo, as mudanças
estão ocorrendo. E, se querem se incluir nessa história, como construtores,
precisam construir algo que ainda não se apresentou.
E a ética, por onde
andarás?
É da lógica de um
sistema democrático a liberdade para o debate público e o posicionamento
político. Ética tem lugar? … Será que caminhamos nesse
sentido?…
"desculpa
esfarrapada", "Só para um contraponto e aporrinhá-lo mesmo", "coveiro". "visão
para lá de tosca", "fingiu recuar", "uma companhia quase geriátrica, que nela
pode até caber o próprio secretário, mas, claro, como diretor de coreografia
torta". (Samuel
Celestino – Réquiem pelo balé do TCA, Jornal A
Tarde)
Será que isso
resulta apenas de indignação?
Para quem usa as
palavras "destruição", "decadência", "morte" e "réquiem", para avaliar a ação de
outros, fico me perguntando, como a pessoa-profissional se auto-avalia, ao usar
esses tratamentos apresentados nesse artigo?
E esse tipo de
abordagem vem exaustivamente sendo utilizado! Acredito que nada mais decadente e
destrutivo do que essa realidade de tratamento, ainda mais num âmbito político e
profissional, num dos principais veículos de informação de nossa cidade,
utilizando esse nível de apreciação, crítica e
evocação.
E o jornal: é só
papel?
O jornal A tarde tem
acompanhado e se posicionado em relação a essa polêmica com o BTCA desde o ano
passado. Não acredito que um jornal seja um papel cheio de palavras e figuras
que as pessoas compram todo dia, mas sim um valioso e importante instrumento
social de veiculação e construção de informação e opinião pública. Um jornal só
o é, de acordo com as notícias que ele veicula.
Assim sendo, ele não
é instrumento passivo do discurso de outros que escrevem nele, ele é o discurso.
Em sendo assim, o jornal A Tarde tem construído discursos distorcidos, recheados
de inverdades sobre dança. Tem caso, como o artigo "A dança dançou" (Gideon
Rosa, Caderno 2, pág. 2 – 17/02/2008), que falsas informações são colocadas. Ao
tentar justificar opinião desfavorável à unificação do BTCA, o ator e jornalista
primeiramente faz uma crítica absolutamente pessoal e vazia à remontagem de
Saurê, chamando-a de desastre, sem justificar. E numa única tentativa de
justificar, diz: "O problema era evidente: a coreografia Saurê foi concebida para ser executada por
corpos jovens, possuidores de grande pulsação e precisão de movimentos." Um
equívoco, porque a remontagem foi feita com os alunos da Escola de Dança da
FUNCEB, muitos já se formando e com experiência artística em dança. Ou seja,
corpos extremamente jovens, possuidores de grande pulsação e que, com o exímio
de bravos aprendizes, dedicaram três, quatro meses em ensaios para uma precisão
não só de movimentação, mas com momentos de grande destaque para a interpretação
dos dançarinos.
A ausência de uma
crítica jornalística implicada com o universo cultural da dança é uma realidade
não apenas local. Não à toa, profissionais como Helena Katz (crítica do jornal
Estado de São Paulo, estudiosa de dança), tenha, na crítica jornalística em
dança, a necessidade de aproximar-se dos fatos, processar suas complexidades
para então estar apta a formular suas críticas pelos artigos.
Se, ao montar seu
discurso, o jornal o faz como tem feito, sua função, ao que me parece, reduz-se
a um canal de polêmicas para vender
cópias. E isso o diminui mais ainda, quando muito do que se produz na
polêmica são dados de inverdades ou distorcidos, sem o apuro de um cientista
social, que é o comunicador, bem
como de uma escrita descuidada do confronto
ético, como foi apresentado aqui.
Tenho tido a
oportunidade de ter alunos de Comunicação, bem como de participar de eventos com
os mesmos. Acredito num futuro ainda mais especializado no que se refere à
atuação do Jornalismo Cultural em Dança. Mas e até lá? O que vocês pensam?
Pensem.
E e.x.i.s.t.e. o que
discutir
Assuntos importantes
para a dança transitam vorazmente em seu meio e já transbordam: autoria,
coerência dramatúrgica, formação profissional em dança, corpo e movimento nas
interfaces artísticas, formação de crítica especializada de dança
(principalmente nos jornais e revistas), aspectos educacionais da dança e a
formação de jovens, projetos sociais e o uso artístico (?) da dança, editais
públicos para dança e a contrapartida social, reais e ainda inexistentes
políticas públicas para a dança, intercâmbios artísticos e pedagógicos de dança
– e a lista cresce. Isso eu praticamente nunca encontro no jornal, muito menos
sendo trabalhados em duas, três, quatro publicações, por um, dois, três, seis
meses seguidos. Será que o foco do nosso colega é realmente a discussão,
valorização e desenvolvimento da dança na Cidade da
Bahia?
Outras questões mais
específicas dentro dessa discussão das companhias oficiais são trazidas pelo
mesmo artigo do professor Paulo Paixão: "Como resistir a mídias tão poderosas em
termos de número de espectadores atingidos? Como otimizar os parcos recursos
destinados pelos governos para manutenção do trabalho? O que fazer com os
bailarinos, funcionários públicos estáveis, que são convidados a parar de dançar
após os quarenta anos? Como lidar com a expectativa individual de artistas num
grupo que pode chegar ao número de quarenta dançarinos?"
Bons motivos de
discussão.
Ouçam:
s.u.g.e.s.t.ã.o.
Últimos
(temporariamente) olhares
Acho inquestionável
a necessidade de termos uma companhia oficial de dança viva e produtiva. Assim
como devemos ter nossas bibliotecas, universidades, serviços de saúde e
educação, etc. públicos e de qualidade. Entretanto, os modos de estruturação e
funcionamento sempre devem ser avaliados! As exigências históricas, políticas,
estéticas, sociais, assim como a pessoa de um cidadão ou o paralelepípedo de uma
praça pública, estão no t.e.m.p.o. E estar sob a lei da temporalidade implica em
estar se transformando, com maior ou menor grau de instabilidade. E nesse
exercício de flexibilidade, movemo-nos buscando estruturar o lastro histórico,
nas coesões e nas coerências de nossas metas, negociadas com as possibilidades
de existência delas. Existe aqui um momento histórico da dança na Bahia e no
Brasil, cuja complexidade implica, no mínimo, SECULT-BA, Diretoria de Dança da
FUNCEB, BTCA, Escola de Dança da FUNCEB, sociedade civil interessada em dança,
artistas da dança local. Desse caldo, podemos gerar um projeto muito mais
poderoso e promissor para nossa dança, se as questões forem tratadas em suas
especificidades e desdobramentos. Ou então, continuamos caminhando, ou melhor,
arrastados pela história, presos a argumentos convenientemente insólitos, que
vigoram para o.u.t.r.o.s.: outros séculos passados, outros países, outras
companhias…
E você, o que pensa?
Duto
Santana
Criador-intérprete
em Dança
Esp. Estudos
Contemporâneos em Dança
Mestrando em
Dança
Cidadão da Cidade da
Bahia