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Aldeia Nagô
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A barbúdia. Por Zuggi Almeida

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
Zuggi_Almeida

A galinha era um produto alimentar nobre nas mesas dos lares do bairro da Liberdade onde vivi toda a minha infância. Embora fossem criadas fora do galinheiro durante o dia, as aves cobiçadas ciscavam tranquilas nos quintais e campos e só eram recolhidas para o abrigo à noite.

A ética e o respeito à propriedade alheia eram observadas nos meus tempos de criança e assim fomos criados por nossos pais e essas regras aprenas eram quebradas quando o famigerado ladrão de galinhas – título que desmerecia o meliante-, decedia surrupiar umas penosas e pertubava o sono dos moradores da rua.

Outra façanha era praticada pelo pessoal da boêmia quando retornava da farra durante a madrugada e decidia suurupiar a galinha mais gorda no quintal de Dona Chica e preparar a ave às pressas e comer com farinha e molho de pimenta
No dia seguinte, Dona Chica enquanto preparava a massa do acarajé comentava com as vizinhas sobre o sumiço da galinha, mas já indicando os culpados pelo ato.

Galinha no prato dos pobres “nas antigas” só aparecia para ser servida quando alguém da casa ficava doente e era alimentado por essa iguaria. Também , na chegada de visitas em casa e na barbúdia do caruru.

A barbúdia, uma corruptela da palavra balbúrdia era como chamáva-se a cerimônia de servir o caruru de Cosme e Damião numa bacia de alumínio para alimentar sete meninos ( uma tradição seguida a regra). e que fazia as delícias da criançada que participava do evento Era uma verdadeira farra.

No meio da sala era colocado a bacia repleta de caruru, vatapá, feijão preto e fradinho, arroz, farofa, milho branco, acarajé, abará, pipoca, banana frita, cana, rapadura e lá no alto da montanha de comida, uma suculenta coxa de galinha.

Apenas uma.

imaginem que comer uma coxa de galinha sozinho era o sonho de qualquer criança da periferia, naquela época. E alí estava a oportunidade de saciar o desejo. Dava-se início então ao ritual.
A dona da casa ordenva que os sete meninos ficassem em torno da bacia e erguessem o recipeiente acima das suas cabeças enquanto entoavam o seguinte canto:

” Vamos levantar o cruzeiro de Jesus/ Vamos levantar o cruzeiro de Jesus / A minha alegria é a santa cruz / A minha alegria é a santa cruz.”

Depois do coro repetir os versos por três vezes, a bacia era colocada de volta ao chão e os meninos sentavam ao redor, alguns despiam as camisas e aguardavam o sinal da dona do caruru.
Eram sete pares de olhos focando um alvo único. No topo, a coxa reluzente alheia ao que poderia acontecer a ela após dada a largada.

Hoje, quando vejo na tv essas competições de futebol americano com a fúria que os jogadores possuem na conquista da bola ovalada, acho que os meninos da minha época eram muito mais agéis que esses atletas gigantes.

Quando se ouvia a senha ‘ Já pode” eram sete cabeças que se engalfiahavam sobre a bacia enquanto as mãos ansiosas procuravam pela coxa da galinha, que podia escoregar entre os dedos do primeiro que alcançou e foi mergulhada naquele mar de caruru.
As buscas continuavam até que um mais esperto encontrava e tratava de comer de imediato ou guadar dentro do calção e voltar para se deliciar com o que continuava na bacia. Outros mais pândegos echiam a mão de caruru e esfregava no rosto do amigo lado. Era uma lambança verdadeira.

Após, encerrada a barbúdia, a dona da casa oferecia a barra da saia para as crianças limparem os rostos e as mãos. Assim se referendava o respeito aos Ibêjes e as crianças, suas protejidas.
Alí tranpirava-se alegria, felicidade e a pureza manifestadas nas tradições das religiões de matrizes africanas

O lúdico prevaleceu na minha infância em travessuras com Cosme, Damião e Doum e no dia de hoje sinto-me cada vez mais um menino.

Viva São Cosme !

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