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A direita quer se matar. Por Marcos Coimbra

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
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Por culpa de nossa elite econômica, política e administrativa, temos o pior presidente da história e um dos piores chefes de governo do mundo. Ela é  responsável pela tragédia que vivemos e cúmplice de Bolsonaro.

Falta ainda um ano e meio de seu desgoverno. Tempo demais. Cada dia que passa é um custo pesado, mensurável em vidas perdidas e vidas comprometidas pela pobreza, a fome e as consequências da doença nos sobreviventes.

Essa elite olha a devastação e não vê. Como disse, outro dia, um dos próceres do Centrão, talvez comovido pelo dinheiro que Bolsonaro destina à compra de seu apoio: “É o político mais bem intencionado que conheci desde que entrei na politica”. Ou lamentamos o azar do cidadão, que o destino não permitiu que conhecesse uma única pessoa de bem, ou constatamos que lhe falta um pingo de vergonha na cara.

A elite não pode se justificar alegando desinformação. Houve quem votasse no capitão com esperança, acreditando que era uma possibilidade de mudança e temendo escolher alguém contra quem coisas assustadoras eram ditas. Gente do povo, intoxicada pelo que via na televisão, pelo sermão do bispo e confundida pelas mensagens que recebia no telefone, pensou assim. Não teve como conhecê-lo melhor, pois se escondeu dos concorrentes na reta final da eleição.

Os ricaços da economia, os chefes militares, a nata do Judiciário, os barões da imprensa e, especialmente, a liderança política, sabiam quem era Bolsonaro.

Dois anos e meio depois de colocar, por ações e omissões, o capitão no poder, nossa elite se divide em dois grupos. De um lado, os que gostam de ter um desclassificado como Bolsonaro no governo, querem que ele fique até o fim do mandato e continue por outro, cuja contraparte na sociedade são os basbaques que batem continência para a Estátua da Liberdade do shopping center. Do outro, os que têm consciência do que está acontecendo e do perigo que corremos.

Esses buscam uma candidatura de centro, conversa que circula há tempo nos ambientes da direita esclarecida, horrorizada com a incompetência e a brutalidade do capitão (que, por estranho que pareça, não enxergavam antes). Defendem que é necessário, para um projeto liberal (ou mesmo conservador), moderno, superar a excrescência bolsonarista e consertar seus erros.

Estão certos. Conhecemos o que significa ter um governo desse nível. Escolhas eleitorais não são gratuitas e seu preço pode ser elevado. A direita esclarecida sabe, assim como o restante do país, o que o bolsonarismo representa.

A pergunta é por que, então, não passam à ação. Se pensam, corretamente, que Bolsonaro não pode vencer em 2022 e que há diversos candidatos à direita que assumiriam sua agenda econômica e administrativa, por que não tomam a providência de tirar logo o capitão do caminho? Não querem um governo liberal com gente competente e um presidente que não seja um cafajeste? O primeiro passo é remover o principal obstáculo ao que buscam, através de um processo de impeachment.

Bolsonaro é o problema para essa direita esclarecida, não a esquerda, com seus valores, lideranças e eleitorado. Lula não é o inimigo dos liberais, é apenas seu adversário político. Quem impede que se consolidem novas candidaturas à direita é Bolsonaro, com sua truculência, falta de escrúpulos e disposição ilimitada a jogar sujo. Enquanto permanecer à frente do governo, se utilizará de qualquer recurso para não permitir que uma alternativa a ele se afirme.

Se existe uma direita civilizada, que pensa o Brasil e nossa vida política no médio e no longo prazos, está mais que na hora de ela se engajar no esforço de tirar  Bolsonaro. Caso não o faça, não adianta inventar cinco, dez ou quinze candidatos, para ver se algum desponta. Com seus 15% de base na sociedade, a chave do cofre e as trapaças de que é capaz, ele vai inviabilizá-los todos.

A dúvida é se há uma direita que quer mesmo a civilização, ou se, frente à perspectiva de uma vitória da esquerda, aceita a barbárie. Tentando evitar a volta de Lula, que parece hoje quase irreversível, a direita brasileira, como um todo, pode ferir-se de morte. Atrelar-se a Bolsonaro, no longo prazo, é muito pior que perder mantendo a respeitabilidade e investindo no futuro. Talvez seja um suicídio.

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Artigo publicado originalmente em A direita quer se matar – Marcos Coimbra – Brasil 247

 

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