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A guerra da Veja contra o retorno de Lula por Marco Aurélio Weissheimer

5 - 7 minutos de leituraModo Leitura
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Do ponto de vista político, a pauta da Veja, já devidamente abraçada pela oposição ao governo federal, parece ter um objetivo claramente definido. No momento em que Lula começa a voltar aos palanques, nas campanhas das eleições municipais, e em que o STF começará a julgar os réus do chamado núcleo político do mensalão?, a tentativa é de colar uma coisa na outra. Colunistas políticos repercutiram amplamente supostas declarações de Marcos Valério. “Nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante”, sugeriu Merval Pereira, de O Globo.

A revista Veja publicou neste final de semana mais uma de suas bombásticas denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Marcos Valério envolve Lula no mensalão, diz a publicação. Quase que imediatamente, os colunistas políticos de sempre passaram a reproduzir a informação da revista. Cristiana Lôbo tuitou sábado à tarde: Está instalada a polêmica sobre entrevista de Marcos Valério à Veja. Diz que Lula sabia e que PT deu garantias de punição branda por silêncio. Detalhe: não havia nenhuma entrevista de Marcos Valério na revista. E a própria Veja dizia isso: a reportagem foi feita com base em revelações de parentes, amigos e associados.

O jornalista Ricardo Noblat foi outro que passou a tarde de sábado repercutindo a denúncia? da revista. Ainda no sábado veio o desmentido do advogado de Valério: O Marcos Valério não dá entrevistas desde 2005 e confirmou para mim hoje que não deu entrevista para a Veja e também não confirma o conteúdo da matéria, disse Marcelo Leonardo. Noblat não seu deu por vencido e, pelo twitter, reclamou dos termos do desmentido: O advogado de Valério diz que seu cliente não confirma as informações publicadas pela Veja. Por que não disse que Valério as desmente?. Entusiasmado, o imortal Merval Pereira (O Globo) afirmou em um artigo intitulado Valério acusa Lula: os estragos políticos são devastadores, e nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante. Merval não mencionou o desmentido oficial do advogado de Valério.

A tese do domínio final do fato
A Folha de S.Paulo correu para dar voz a José Serra que classificou as denúncias como graves e defendeu a abertura de investigações. Merval Pereira, fazendo às vezes de jurista, manifestou esperança na tese do domínio final do fato, que levou o Procurador- geral Roberto Gurgel a acusar José Dirceu como o chefe da quadrilha do mensalão. O jornalista de O Globo escreveu: Alguns ministros do Supremo deixaram escapar, no início do julgamento, que pela tese do domínio final do fato, se a cadeia de comando não terminasse no ex-ministro José Dirceu, teria forçosamente que subir um patamar e atingir o ex-presidente Lula.

Já o colunista político Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo preferiu explorar as possíveis consequências políticas da matéria nas eleições municipais deste ano. Ele escreveu sábado em seu blog: ?Do ponto de vista jurídico, o efeito pode ser nulo. O processo do mensalão está em fase de julgamento e não serão mais acrescentadas provas. Do ponto de vista político, a reportagem da revista Veja desta semana pode ter grande impacto na reta final das eleições municipais, sobretudo nas grandes cidades nas quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse direto, junto com o PT, em garantir vitórias para alavancar a sigla em 2014?.

Merval: nada impede uma nova denúncia
Mais uma vez, o circuito da informação funcionou e o assunto ganhou ampla repercussão pelos formadores de opinião de plantão. O funcionamento desse circuito é um tanto peculiar. Denúncias com base factual muito forte, como aquelas relacionadas às ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a revista Veja, são solenemente ignoradas. Qualquer denúncia publicada pela revista Carta Capital recebe o mesmo tratamento silencioso. Mas qualquer denúncia da Veja é rapidamente repercutida. Os jornalistas citados acima sequer se dão ao trabalho de dar alguma justificativa para esse comportamento seletivo. Ele parece estar inserido, para usar a tese cara a Merval Pereira no domínio final dos fatos. Mas essas observações, é claro, são carregadas de uma certa ingenuidade. Não há razões para supresas nem espantos quanto ao funcionamento desse mecanismo de repercussões.

O artigo de Merval Pereira não deixa nenhuma dúvida sobre o que seria esse omínio final dos fatos, ou melhor, quem seria: Luiz Inácio Lula da Silva. O site Brasil 247 afirmou, na tarde de domingo, em texto intitulado Globo antecipa próxima etapa do golpe contra Lula: No seu artigo deste domingo, Merval Pereira toma como verdade a entrevista de Veja com Marcos Valério, já negada pelo publicitário, e avisa: Nada impede que uma nova denúncia seja feita mais adiante. Ou seja: com alguns companheiros condenados e outros presos, Lula terá uma espada no pescoço?. Em outra matéria (Civita deflagra operação para colocar Lula na cadeia), o Brasil 247 sustentou que o objetivo da Veja é transformar Lula em réu no STF e impedir que ele volte à concorrer à Presidência da República.

Cristiana Lôbo pede explicações a Noblat
No início da noite de domingo, Cristiana Lôbo pediu a Ricardo Noblat, mais uma vez pelo twitter, para que ele explicasse em que pé estava o assunto: Passei o fim de semana em Goiânia e não entendo mais a polêmica sobre a não entrevista de M. Valério. Você pode me explicar @BlogdoNoblat ? E Noblat explicou do seguinte modo (em três tuitadas sucessivas), introduzindo uma novidade, a existência de uma suposta gravação com Marcos Valério: Veja entrevistou Valério. O advogado dele foi contra. Combinou-se de apresentar a entrevista como conversas de Valério com outras pessoas. E assim saiu a matéria. Ocorre que o advogado de Valério desmentiu que ele tivesse dito o que a Veja publicou. Aí ficou parecendo que a Veja teria inventado coisas e atribuído a Valério. Por isso a direção da revista decide se divulga a fita.

Do ponto de vista político, a pauta da Veja, já devidamente abraçada pela oposição ao governo Dilma, parece ter um objetivo muito claramente definido. No momento em que Lula começa a voltar aos palanques, nas campanhas das eleições municipais, e em que o STF começará a julgar os réus do chamado núcleo político do mensalão, a tentativa é de colar uma coisa na outra. No final da noite de domingo, o Brasil 247 publicou a seguinte síntese sobre o caso, deixando um conselho para o ex-presidente Lula: No momento em que retorna aos palanques, Lula é alvo de uma tentativa de golpe preventivo. O recado que os opositores transmitem é: se voltar levará chumbo. Diante do ataque organizado, o ex-presidente só tem uma alternativa, que é lutar para não ser devorado pelos adversários.

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