A Lógica do Assexuado por Manu Ela Barreto
Há uma espécie humana rara e insípida: o
assexuado. Um ser indefinivelmente definível.
Inofensivo. Necessário ao controle da taxa de natalidade e na contenção
da superpopulação no planeta. Mas não se engane. Atente para o avesso do avesso
da camuflagem:
O assexuado banal
Desprendido de sexo, quanto de todos, é visto sem
ver, quisto sem querer. Não mente para si, tampouco para o outro. Não pratica
sexo em nenhuma instância, nem mesmo sozinho, o que lhe confere certa
coerência. O seu mal é apenas existir, visto que o tesão não escolhe o alvo, em
outra perspectiva, o tesão escolhe seu alvo.
O assexuado altruísta
Parece necessitar do outro por ser atencioso,
gentil e dedicado. É ofensivo e tumultuoso porque vê e não quer ser visto,
atiça o desejo e o desconhece. É alvo provocado e provocativo.
O assexuado tosco
Pratica o sexo consigo mesmo, o que lhe confere
uma aura sexual. Conhece o desejo obsoleto. É o martírio de quem o deseja, mas
inofensivo na resposta. Vê e é visto. Sem querer, é quisto. Sua virtude é
vivificar o desejo, seu erro é extingui-lo.
O assexuado paradoxal
Pode ser também denominado de “assexuado
corrupto”. Tem desejos sexuais e amorosos. Ínsita o outro e não o satisfaz.
Teoriza e não pratica. É real quando virtual e virtual quando real. Necessita
de vínculos e os nega, deturpa e destrói. O seu mal é consumir o outro. É
quisto, depois repudiado. Subserviente da desculpa. Sua virtude é a ironia: ser
o próprio alvo.
O assexuado mortal
É amado e atraído. Ama e atrái na mesma
intensidade em que nega o desejo.
A lógica do assexuado é ser sempre assexuado, do
banal ao mortal, todos um ser…