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A mais bela música de “Boas Festas!” Por Renato Queiróz

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

O sucesso, os dissabores e a busca de um grande poeta pela felicidade.

José de Assis Valente (Santo Amaro, BA, 19 de março de 1911 – Rio de Janeiro, RJ, 6 de março de 1958) foi um ilustrador, compositor e cantor brasileiro. Segundo o jornalista baiano Gonçalo Júnior no livro “Quem Samba Tem Alegria” (Ed. Civilização Brasileira, 2014), Assis Valente teria nascido em Salvador.

Senta que lá vem História!

Apesar de ter sido desamparado pela mãe, Assis conheceu o pai e foi criado como “aprendiz” pelos “padrinhos”, que também eram tios paternos. Com o tio, ele aprendeu a profissão de protético, que exerceu durante quase toda a sua vida, mas nunca recebeu o amor de nenhum deles.

Assis Valente foi um compositor cujas obras emocionam pelo conteúdo poético, lúdico e reflexivo.

Clássicos como “Cai, Cai Balão”, “Camisa Listrada”, “Boneca de Pano”, “Minha Embaixada Chegou” e “Chegou a Hora (Brasil Pandeiro)” foram regravados por diversos artistas, alcançando várias gerações.

Ele compôs muitos sucessos para Carmen Miranda (1909–1955), sua cantora favorita e amiga próxima.

Carmen Miranda deve parte de sua carreira a três baianos: Josué de Barros (1888–1959), Dorival Caymmi (1914–2008) e Assis Valente. Esses compositores abriram caminhos para sua fama e sucesso, especialmente através dos sambas que ela cantava.

Apesar de sua carreira bem-sucedida, Assis Valente enfrentou problemas pessoais e dificuldades no submundo da música e do rádio, incluindo vilões, intrigas, roubo de sambas e vícios.

Em 23 de dezembro de 1939, após Carmen Miranda se mudar para os EUA, José de Assis Valente casou-se com a datilógrafa carioca Nadyle da Silva Santos, senhorita muito distinta na sociedade carioca. Ele então focou em sua carreira como compositor e cantor.

Em 31 de janeiro de 1941, nasceu sua única filha, Nara Nadyle dos Santos Valente. Poucos meses depois, seu casamento terminou. Assis Valente enfrentou tristeza e amargura ao sentir saudade de sua filha, Nara Nadyle, que quase não via. Ele dedicou a canção “Brasil Pandeiro” a ela quando nasceu.

A morte de Carmen Miranda, nos EUA, em Beverly Hills, Califórnia, no dia 5 de agosto de 1955, causada por um ataque cardíaco, abalou profundamente Assis Valente.

A perda de sua amiga e musa foi um golpe devastador, deixando-o mergulhado mais ainda em uma profunda melancolia.

Em 1958, aos 49 anos, desmotivado e endividado, Assis Valente decidiu encerrar sua vida. Na Praia do Russel, no Rio de Janeiro. No bolso de sua calça, foi encontrado um bilhete de despedida e um pedido a Ary Barroso (1903–1964) para pagar seus aluguéis atrasados.

Assis Valente expressava seus dissabores e busca pela felicidade em suas canções.

Em 1932, aos 24 anos, ele estava sozinho e deprimido na véspera de Natal em Niterói. Apesar da vista privilegiada do Rio de Janeiro, Assis sentia-se isolado e esquecido.

Em uma entrevista de 1936, Assis revelou que a inspiração veio desse Natal solitário em Niterói, onde se sentiu esquecido e encontrou conforto ao escrever a canção:

“Havia em meu quarto isolado, uma estampa simples em uma folhinha, um calendário de parede, era de uma menina esperando seu presente, com seus sapatinhos sobre a cama. Eu me identifiquei com ela, com todas as pessoas. Rezei e pedi. Fiz então ‘Boas Festas’. Era uma forma de dizer aos outros o que eu sentia. O melhor presente a Felicidade…”

“Foi bom, porque de minha infelicidade tirei esta marchinha que fez a felicidade de muita gente. É minha alegria de todos os natais. Esta é a minha melhor composição.”

“Boas Festas” foi gravada pela primeira vez em 17 de outubro de 1933 pelo famoso cantor Carlos Galhardo (1913–1985), acompanhado pela Orquestra Diabos do Céu, dirigida por Pixinguinha (1897–1973), e lançada em dezembro do mesmo ano pela RCA Victor. A canção se tornou um clássico do Natal. Para mim: a mais bela música de “Boas Festas!”

Boas Festas, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!

SONZAÇO!
Renato Queiroz é professor, compositor, poeta e um apaixonado pela história da música,.

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