A promoção do Cresicmento Verde por Ban KI-Moonai e Al Gore
Investir na economia verde não é facultativo. É um investimento inteligente em prol de um futuro mais equitativo e mais próspero
OS PLANOS de estímulo econômico estão na ordem do dia. É normal que seja
assim, em um momento em que governos do mundo inteiro procuram fazer
arrancar de novo a economia mundial. Mas, ao procurarem
responder a essa
necessidade imediata, os líderes devem também agir juntos, para garantir
que o novo modelo econômico que está sendo criado seja sustentável para
o planeta e para a nossa vida futura.
Precisamos de estímulos e
de investimentos que realizem simultaneamente dois objetivos com uma só
resposta política para a economia mundial -uma política que vá ao
encontro das nossas necessidades econômicas e sociais urgentes e
imediatas e que lance uma nova economia mundial verde. Em suma,
necessitamos que o nosso mantra seja "vamos promover o crescimento
verde".
Em primeiro lugar, uma recessão econômica sincronizada
exige uma resposta mundial sincronizada. Precisamos de estímulos e de
uma coordenação intensa das políticas econômicas entre todas as
principais economias. Temos de evitar políticas que contribuam para
o empobrecimento dos países vizinhos e que estiveram na origem da
Grande Depressão.
A coordenação é também vital para
reduzir a volatilidade financeira, as corridas às moedas e a inflação galopante, bem como para gerar confiança entre consumidores e
investidores.
Os planos de estímulo destinam-se a fazer arrancar
novamente a economia, mas, se forem corretamente concebidos e
executados, também nos poderão lançar numa via nova, com um baixo nível
de emissões de
carbono, em direção ao crescimento verde.
A eliminação dos US$ 300 bilhões gastos anualmente em subsídios aos combustíveis fósseis reduziria as emissões de gases de efeito-estufa em
6% e daria origem a um aumento do PIB mundial. O desenvolvimento de
energias renováveis representará uma ajuda no aspecto em que ela mais se
mostra necessária.
As economias em desenvolvimento já são
responsáveis por 40% dos recursos de energias renováveis existentes, bem
como por 70% da capacidade de aquecimento de água utilizando energia
solar. Com 2,3
milhões de pessoas trabalhando no setor das energias
renováveis, já há mais emprego nesse setor do que, diretamente, nas
indústrias de petróleo e gás.
Em segundo lugar,
precisamos de políticas em favor dos pobres. Em grande parte do mundo em desenvolvimento, os governos não têm possibilidade de contrair
empréstimos ou de imprimir dinheiro para
atenuar os efeitos devastadores
dos choques econômicos. Por isso os governos dos países industrializados
têm de agir além de suas fronteiras, investindo em programas eficazes em
termos de custos, que ajudem a impulsionar a produtividade dos países
pobres.
Isso significa aumentar a ajuda externa ao
desenvolvimento. Significa reforçar as redes de segurança Social.Significa investir na agricultura nos países em desenvolvimento,
fazendo chegar sementes,
ferramentas, práticas agrícolas sustentáveis e
crédito aos pequenos agricultores.
As políticas em favor
dos pobres implicam aumento do investimento na melhoria da utilização
dos solos, da conservação da água e das culturas resistentes à seca, a
fim de ajudar o agricultor a se adaptar às mudanças climáticas. Se não
forem resolvidas, essas questões poderão acarretar uma situação de fome
crônica.
Em terceiro lugar, é preciso que se chegue a um acordo
sólido sobre o clima, em Copenhague, em dezembro. Não no ano que vem
-neste ano.
As negociações sobre o clima têm de ser
substancialmente aceleradas. Um acordo eficaz em Copenhague representará
o pacote mundial de estímulos mais poderoso possível. Como um novo
acordo sobre o clima em
vigor, as empresas e os governos disporão
finalmente de uma orientação quanto ao preço do carbono, tal como as
empresas estão pedindo, o que poderá desencadear uma onda de inovações e
investimento em energias
limpas. Copenhague dará luz verde ao
crescimento verde. É essa a base da recuperação econômica
verdadeiramente sustentável que trará benefícios para nós e para os
nossos filhos durante décadas.
Para milhões de pessoas, de
Detroit a Nova Déli, nunca houve tempos mais difíceis. As famílias estão
perdendo seus empregos, as casas onde vivem, serviços de saúde e até a
perspectiva de mais uma refeição. Com
tanto em jogo, os governos têm de
fazer escolhas estratégicas. Não podemos deixar que aquilo que é urgente
comprometa aquilo que é essencial. Investir na economia verde
não é uma despesa facultativa. É um
investimento inteligente em prol de
um futuro mais equitativo e mais próspero.
BAN KI-MOON , 64, mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), é o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Foi ministro das Relações Exteriores e do Comércio da República
da Coreia.
ALBERT ARNOLD GORE JR. , 60, o Al Gore, é ex-vice-presidente
dos Estados Unidos e autor, entre outras obras, de "Uma Verdade Inconveniente"