Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Adeus à privacidade na rede por Paloma Llaneza

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura

Google Chrome dá mais um passo no acúmulo de dados dos usuários



Em Madri
O lançamento do Chrome, o navegador da Google, reabriu o debate sobre a
privacidade na Internet no que parece ser a última volta do parafuso na
integração de serviços de coleta de dados de seus numerosos usuários.

A
apresentação à sociedade do Chrome, concorrente direto do Firefox
(também apadrinhado pela Google através da fundação Mozilla), foi
acompanhada em partes iguais de elogios quanto às melhoras de
utilização e de críticas sobre sua política de conteúdos e de proteção
de dados. Enquanto a primeira, que dava à Google direitos sobre os
conteúdos, foi suprimida, a relativa à proteção de dados continua
remetendo o usuário ao seu Centro de Privacidade, onde se estabelecem
condições genéricas e pouco claras do que a Google ou as empresas de
seu grupo fazem ou podem fazer com nossos dados mais que pessoais.

Não
importa se o usuário está abrindo um canto no Blogger, enviando um
vídeo para o YouTube, usando um editor de textos no Google Docs,
armazenando seu histórico médico no Google Health ou instalando o
Chrome, todos acabam no porto californiano que é esse centro de
privacidade que só reconhece a jurisdição de Mountain View, EUA, e onde
não se sabe muito bem o que se faz com os dados.

O negócio dos
dados é muito mais rentável do que um usuário pouco informado possa
imaginar. Um dado isolado não vale nada; os dados que um usuário gera
ao usar todos esses serviços não têm preço. Seu cruzamento permite
saber o que ele busca, quando e de onde se conecta, com quem fala e
sobre o quê, onde passará as férias ou se vai assassinar seu cônjuge,
como no caso de Melanie McGuire, descoberta e condenada à prisão
perpétua por ter cometido o deslize de procurar no Google "veneno
indetectável".

Quanto mais dados se cruzam, mais preciso é nosso
retrato digital. Por isso a legislação espanhola e da Comunidade
Européia, que a Google não aplica a seus usuários espanhóis, proíbe a
cessão de dados entre empresas do mesmo grupo sem consentimento, obriga
as companhias a dizer que informação tem de seus usuários e para que a
usa, cancelando-a quando não é mais necessária. Tudo isso para que o
dono desse retrato holográfico decida o que permite que se faça ou não
com seus dados.
Essa queixas sobre a política de privacidade da Google não são novas.


em julho de 2007 a ONG britânica Privacy International elaborou uma
classificação mundial e colocou a Google à frente das empresas pouco
respeitosas, que qualificou de "hostis" à privacidade. Identificou a
Google como a menos respeitosa entre nomes conhecidos como Amazon,
Microsoft, eBay, Myspace e BBC. Observou várias possíveis infrações,
como a retenção de dados de usuários durante longos períodos de tempo
sem a possibilidade de cancelá-los ou apagá-los, ou a de não informar
sobre o uso que dá aos mesmos. O relatório afirmava que a Google retém
não só dados de busca dos últimos 24 meses ou os de navegação quando se
utiliza a Google Toolbar (a barra de buscas que pode ser instalada em
qualquer navegador), como os facilitados pelo próprio usuário
voluntariamente – ao entrar em algum serviço – ou involuntariamente –
através dos logs (registros) de buscas que permitem identificar
pessoalmente o usuário. O relatório a censura por descumprir a própria
norma americana de privacidade.

Mas o jogo com os dados privados
na Internet não é exclusivo da Google. Poucos usuários do Blogger, dos
que colocam suas fotos em Flick e vídeos no YouTube ou falam com seus
amigos através de Facebook ou Twitter leram as condições de uso desses
serviços. A maior parte delas, incluindo as relativas ao tratamento de
dados de caráter pessoal, está em inglês e sujeita à legislação
americana. As traduções em castelhano, como indicam no Facebook, são
oferecidas somente a "título informativo". Precisamente, o Information
Commissioner’s Office do Reino Unido iniciou antes do verão uma
investigação devido à queixa de um usuário do Facebook, de que foi
incapaz de apagar suas informações apesar de ter cancelado a conta. As
queixas sobre o Facebook também afirmam que ele colhe informação
delicada sobre seus usuários e a compartilha com outros sem sua
autorização.

Proteger-nos e compartilhar informação só com quem
desejamos é difícil, mas não impossível. O International Working Group
on Data Protection in Telecommunications [Grupo de Trabalho
Internacional sobre Proteção de Dados nas Telecomunicações] publicou
recomendações para que o usuário de redes sociais tente proteger sua
privacidade sem morrer tentando. Parafraseando o slogan da Google:
"Don’t be fool, be informed" (Não seja bobo, informe-se).

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Publicado originalmente no El País
Compartilhar:

Mais lidas