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Adeus ao poeta Jônatas por Cleidiana Ramos

3 minutos de leituraModo Leitura

O poeta, escritor e um dos mais importantes intelectuais do
movimento negro brasileiro, Jônatas Conceição, 56 anos, faleceu na manhã de hoje
no Hospital da Cidade por conta de um câncer digestivo


Jônatas atuou em várias frentes na luta contra o racismo e
valorização da identidade e culturas negras: movimento social, literatura,
Carnaval e academia.
   
"Jônatas era um poeta profundamente
ligado às suas raízes em Saubara. Eu sempre disse que ele vivia ‘saubariando’ a
vida", disse, emocionado, o poeta José Carlos Limeira, um dos grandes amigos de
Jônatas e companheiro nas letras.

Jônatas foi um dos militantes pioneiros
do Movimento Negro Unificado (MNU) e era diretor do bloco afro Ilê Aiyê onde
elaborava os cadernos educativos da instituição. Foi professor da Uneb e
desenvolveu sua pesquisa de mestrado sobre a poesia dos quilombos intitulada
Vozes Quilombolas – Uma Poética Brasileira, publicada em 2005. Em 2000
publicou em companhia de Lindinalva Barbosa a antologia Quilombo de
Palavras- a literatura dos afro-descendentes
, dentre outras várias
obras.
   
"Era um guereiro incansável na sua
aparente quietude. Acho que era como a própria água, um elemento ao qual ele era
muito ligado. Ele ia operando transformações profundas de uma maneira na maioria
das vezes silenciosa", destaca o também poeta e grande amigo de Jônatas, Landê
Onawale.

A literatura foi o principal veículo do
vigor político e guereiro de Jônatas, dono de uma personalidade introspectiva.
"Jônatas tinha aquele jeito tímido, calado introspectivo, mas transpirava o amor
por suas raízes, pelos orixás e pelo Ilê Aiyê", completa Limeira.

Era nos textos que Jônatas deixava
transparecer seu pensamento sobre questões como o racismo e desigualdade."No seu
jeito calado ele era radical, no sentido, de como diz sua irmã Ana Célia, de
quem segue as coisas com horizontalidade e profundidade, como uma raiz. Neste
sentido Jônatas realmente deixou marcas profundas em todos os ambientes nos
quais atuou", completa Landê.

Pioneirismo é também uma outra palavra
bastante usada pelos amigos para defini-lo. Jônatas era um dos mais freqüentes
colaboradores do Cadernos Negros, a mais importante publicação
brasileira para divulgação da literatura negra.

Em 2007, numa entrevista a A TARDE sobre
o lançamento de uma edição do Cadernos em Salvador, ele
disse:"Infelizmente, os escritores negros são ainda vozes marginais, no sentido
de não conseguirmos furar o bloqueio editorial brasileiro, que é baseado numa
ideologia elitista e branca, também em relação à temática, como se nós, negros,
não produzíssemos cultura".

Guardião do compromisso de contar a
história de luta do povo negro ele foi o responsável por compilar textos que
contam a história de formação do MNU, na coletânea Movimento Negro
Unificado- 1978-1988-10 anos de luta contra o racismo
. Jônatas deixa um
filho de 12 anos, Kayodê.

Artigo publicdo originalmente em A Tarde, de 03.04.09 no Caderno Mundo Afro

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