Arthur Moreira Lima é SONZAÇO! Por Renato Queiroz
O Maestro Viajante: Melodias Eternas de Arthur Moreira Lima
No Rio de Janeiro, em 16 de julho de 1940, nasceu um menino que, desde cedo, mostrava um talento raro.
Arthur Moreira Lima, filho da terra e do piano, começou a dedilhar as teclas aos seis anos, sob a tutela da mestra Lúcia Branco que também tivera por alunos nomes como Tom Jobim ou Nelson Freire.
Senta que lá vem História!
Aos oito, tocou em um concerto de Mozart com Orquestra. E foi o vencedor.
Aos nove anos, Arthur já encantava plateias com sua habilidade, como se cada nota fosse uma história contada ao pé do ouvido.
Moreira Lima iniciou uma brilhante carreira de concertista internacional em Viena, sendo solista da primeira audição do Concerto n. 1 de Heitor Villa-Lobos no Japão, na Rússia, na Áustria e na Alemanha.
Arthur Moreira Lima foi laureado em diversas competições internacionais, na Competição Internacional de Piano Frédéric Chopin em 1965, na Competição Internacional Tchaikovsky em 1970 e outras.
Em setembro deste ano, Arthur Moreira Lima recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), homenagem aprovada por unanimidade no Conselho Universitário em 22 de agosto de 2024, em reconhecimento à sua contribuição para a música e à democratização da arte.
Pois, Arthur não se contentava em tocar apenas nos grandes concertos e salões.
No início dos anos 2000, ele criou o projeto Piano pela Estrada, que levou, ao longo de mais de uma década, e por meio de um caminhão teatro e um piano, música erudita aos mais diversos cantos do País.
Com o projeto “Piano pela Estrada”, ele levou a música aos rincões mais distantes do Brasil, onde o som do piano era tão raro quanto a chuva no sertão.
Em cada vilarejo, sua chegada era um acontecimento.
As pessoas se reuniam, curiosas e ansiosas, para ver aquele homem que transformava o piano em poesia.
Em uma dessas viagens, Arthur chegou a uma pequena cidade do interior da Bahia.
O sol castigava a terra seca, mas a praça estava cheia.
Ele montou seu piano sob a sombra de uma velha árvore e começou a tocar.
As notas ecoavam pelo ar quente, misturando-se com o canto dos pássaros e o murmúrio do vento.
As crianças, de olhos arregalados, sentavam-se ao redor, enquanto os mais velhos fechavam os olhos, deixando-se levar pela melodia.
Cada apresentação era única, um espetáculo que tocava fundo na alma de quem ouvia.
Arthur não apenas tocava piano; contava histórias, despertava sonhos e acalentava corações.
No dia 31 de outubro de 2024, Arthur Moreira Lima partiu, deixando um vazio imenso no coração de todos que tiveram o privilégio de ouvir sua música.
A morte de Arthur Moreira Lima foi sentida em todo o Brasil, como uma nota triste que reverberou em cada canto do país.
Sua partida foi como o último acorde de uma sinfonia, que ecoa suavemente antes de se dissipar no ar.
Mas, assim como as estrelas que brilham mesmo após se apagarem, Arthur continua a iluminar nossas vidas com o brilho de seu talento e a profundidade de sua arte.
Seu legado, como uma sinfonia eterna, ressoa até hoje, lembrando-nos que a música tem o poder de transformar vidas e unir corações descansando na luz e em paz.
Arthur, o Maestro, deixou um rastro de notas e emoções por onde passou, eternizando-se na memória e no coração da música.
Aqui, Arthur Moreira Lima interpreta o 2º movimento do Concerto No.23 de Mozart com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais sob regência de Roberto Tibiriçá, por ocasião do VIII Concurso para Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), dia 5 de abril de 2023.
Arthur foi o padrinho desta edição, o que é particularmente simbólico, pois foi justamente em um Concurso Jovens Solistas (da OSB) que ele fora vencedor aos 8 anos, na edição de 1949, tocando exatamente este mesmo concerto de Mozart sob regência de Eleazar de Carvalho, iniciando assim sua vasta carreira.
Renato Queiroz é professor, compositor, poeta e um apaixonado pela história da música,.