Aldeia Nagô
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Até mais, Marina por Osvaldo Russo

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura





Com todo o
respeito e admiração que merece a senadora Marina Silva, mas falar em
construção programática com um partido (Partido Verde) que se subordina a
governos e interesses do PSDB e do DEM é de flagrante contradição política.


Se para ela
não foi um processo fácil decidir sair do PT, para os que continuam é difícil
entender a eficácia de sua opção ao reconhecer ela mesma que ajudou no PT "a
construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com
indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002".

Mas de que adiantam razões objetivas se ela tem o sentimento sincero de que faz
uma "inflexão necessária à coerência com o que acredita ser necessário alcançar
como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade". Se
com Lula e o PT há riscos, imagino como será com o PV e seus aliados
hegemônicos de direita.

Tenho a firme convicção de que essa decisão está eivada de equívocos. Quem
disse que o PT defende o desenvolvimento material a qualquer custo, em especial
em detrimento dos mais pobres e vulneráveis socialmente? Quem disse que a
plataforma programática do PT não inclui estrategicamente a sustentabilidade
ambiental? As dificuldades internas no PT e, principalmente, no governo Lula,
que não é só do PT ou da esquerda, deveriam encorajar Marina a continuar
escrevendo a sua bela história de lutas no PT.

Ela reconhece que como ministra do Meio Ambiente do governo Lula participou de
importantes conquistas, entre as quais citou a queda do desmatamento na
Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento
ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação
federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do
Serviço Florestal Brasileiro. Ainda assim, acha que faltaram condições
políticas para avançar no campo da visão estratégica de fazer a questão
ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

Se ela entende que o PT não mais constitui instrumento político para a
construção de seus ideais, eu quero dizer que a recíproca não é verdadeira. O
encontro, como ela deseja, com os diferentes setores da sociedade dispostos a
se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e
sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará
um novo padrão de desenvolvimento para o País nunca foi, não é e não será
incompatível com o programa do PT. Ao contrário, da mesma forma que não foi, não
é e não será no que diz respeito à defesa da democracia com participação
popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Recentemente,
o Núcleo Agrário, a secretaria do Meio Ambiente e a direção do PT apoiaram a
carta de Marina ao presidente da República solicitando vetos a artigos da lei
de regularização fundiária na Amazônia. Lula vetou as aberrações da lei
introduzidas pelos ruralistas no Congresso Nacional. Agora mesmo, depois de
tantos desencontros com o governo sobre a questão agrária, o MST reconhece que
obteve uma conquista histórica para a Reforma Agrária. O Núcleo Agrário e a
direção do PT ajudaram nessa construção histórica e, desde o início, apoiaram o
Acampamento Nacional em Brasília e as mobilizações nos estados. Em nenhum
momento, o governo obstaculizou a nossa ação partidária. Ao contrário,
aprofundou o diálogo com o movimento social e fez avançar as mudanças que são
necessárias à Reforma Agrária no Brasil.

De qualquer modo, independentemente da forma-partido ou das formas de luta por
ela escolhidas estaremos juntos não só no Acre, como Marina carinhosamente se
referiu ao seu estado natal e aos companheiros de embates, mas em todo o País,
porque as searas juntas cultivadas não morrerão, continuarão a frutificar pelo
Brasil que queremos.

Osvaldo
Russo

é coordenador do Núcleo Agrário Nacional do PT

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