Ciúme é ameça à sociedade Por Geraldo Galindo
Esse texto foi escrito há quatro anos. Depois disso, milhares de
mulheres morreram vítimas dos ciumentos – o caso mais recente foi
daquele psicopata/bandido em São Paulo que ceifou a vida de uma jovem
de 15 anos. Portanto, compartilho com aqueles que não tiveram acesso e
renovo o apelo para que pulem fora de pessoas ciumentas – elas são
assassinas em potencial.
O jornal A Tarde estampou a seguinte mensagem: " Mulher briga no bar e assassina ex-namorado". A mulher ensandecida deu uma paulada na cabeça do jovem de 29 anos e em seguida o esfaqueou. Antes havia destruído toda a mercadoria que ele havia comprado para montar uma barraca. A reportagem traz ainda informação não confirmada de que ela já teria assassinado outro companheiro pelas mesmas razões: ciúme. Silvano Bonfim perdeu a vida por se recusar a reatar relações com Aparecida dos Santos.
No final do ano de 2006, um oficial de justiça invadiu um apartamento no bairro do Tororó em Salvador, matou a ex-esposa, a sogra e uma filha de 8 anos e depois suicidou-se. Um outro filho escapou por ter viajado dias antes para o interior. Motivo: não aceitava a separação.
Todos os dias, em todos os jornais do país, encontramos histórias semelhantes. Homens e mulheres destruindo famílias por não aceitarem que um ou outro decida os seus destinos ou por especularem que algum esteja farejando parceir@s outr@s. Quantas pessoas já perderam a vida em razão dessa insensatez que parece não ter fim? Um levantamento rigoroso poderia indicar números alarmantes, talvez até superiores aos vinculados à marginalidade.
Eu acho que o ciúme deveria ser tratado como caso de ameaça à sociedade, à vida. Da mesma forma que consumidores de drogas, ilícitas ou legais, são confinados para terapias, pessoas comprovadamente com manifestações desse tipo de distúrbio deveriam ser recolhidas em espaços próprios para tratamento clínico, porque convivendo socialmente, representam grave risco à segurança de pessoas sadias e saudáveis.
Homens e mulheres demorarão a compreender, se é que um dia o farão, que ambos os sexos não são propriedade exclusiva e nem eterna de quem quer que seja. Um e outro podem ter atrações múltiplas e isso não significa nenhum tipo de anomalia. A idéia de "até que a morte os separe" não passa de uma bobagem religiosa, absolutamente anacrônica nos tempos modernos.
Quando um homem ou uma mulher comunica ao outro que não quer mais continuar o namoro ou o casamento, por mais que isso provoque insatisfação, deveria ser tratado com naturalidade. Se uma pessoa percebe esgotamento da relação é absolutamente legítimo que ela procure outros caminhos. Mas os desequilibrados não pensam nem agem assim. Como um ser humano dito civilizado, que se possa ter um mínimo de ponderação, insiste em manter uma convivência com um outro que constatou não ser mais interessante para ele?
Seria semelhante ao fato de um trabalhador ter a oportunidade de mudar de emprego, que atenda melhor suas aspirações e seu atual patrão não aceitar e fazer ameaças. Por mais que isso provoque sentimento de perda, o que deve prevalecer é o direito legítimo de cada um tomar as decisões que atendam às suas vontades daquele momento. Quando se perde um ente querido, uma mãe ou um pai, por exemplo, o sofrimento é grande, mas a vida continua e quase todos terminam por se acomodar após o trágico impacto.
Chega a ser indecoroso propor a alguém que em troca da felicidade pessoal se condene o outro a ser infeliz. Egoísmo e egocentrismo são características do psicopata, incapaz que é de imaginar uma convivência de laços afetivos mútuos. O ciumento, sempre inseguro, imagina situações que a todo momento ameaça sua "supremacia". Para ele, sua satisfação pessoal está acima de qualquer outro interesse e para fazer valer sua regra estúpida, ele ameaça, constrange. Se esses mecanismos falham, ele é capaz de medidas extremas – daí a necessidade desse tema vir ser tratado como caso de segurança pública.
As mulheres e homens, especialmente as mulheres, principais vítimas desse tipo de violência, devem tomar cuidados, se prevenirem. Os ciumentos manifestam seus sintomas inicialmente com gestos aparentemente bobos; fazem questionários sobre a agenda da parceira, bisbilhotam celulares e mensagens na internet, entrevistam amigas etc. Na continuidade vêm os gritos, os escândalos públicos, as agressões físicas; qualquer outro contato com o sexo oposto vira motivo de suspeita. Os promotores dessas selvagerias sempre pedem desculpas, dizem se arrepender, mas sua personalidade pervertida controla suas ações. É óbvio que nem todo ciumento é assassino, como nem todo ladrão o é, mas a possibilidade de tragédia nesses casos não é desprezível.
As pessoas sensatas que eventualmente venham a conviver com essa espécie da mente degenerada, devem pular fora no primeiro sinal da manifestação dos sintomas, seja ele o mais aparentemente simples. O jovem a que me referi no início, vítima da perturbação neurótica, já tinha dado queixa na delegacia. Mas infelizmente os ciumentos doentios circulam à vontade, assim como os bêbados no trânsito. E matam.
(*)Geraldo Galindo dá palpites sobre coisas sérias e fúteis
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"Há homens que lutam um dia, e são bons; Há outros que lutam um ano, e são melhores; Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons; Porém há os que lutam toda a vida. estes são os IMPRESCINDÍVEIS".
Bertold Brecht