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Comissão de Anistia quer ir além das reparações econômicas. Por Brunna Rosa

4 - 6 minutos de leituraModo Leitura

A comissão de Anistia do Ministério da Justiça lança nesta quinta-feira, 21,
o projeto Anistia Cultural. O objetivo é dar um caráter cultural e pedagógico às
ações da comissão e divulgá-las entre estudantes universitários e servidores da
pasta.


 Para inaugurar o projeto, foi convidado o dominicano Carlos
Alberto Libânio Christo, o Frei Betto. Ele relembrará a importância da luta
empreendida por setores da sociedade pela volta da democracia no período da
ditadura militar.
  
 A palestra de Frei Betto será apenas a primeira do
projeto. Ao longo do ano, estão previstas mostras de filmes, charges e
fotografias, além de debates com pessoas que vivenciaram a ditadura. Em
entrevista Fórum, o presidente da Comissão de Anistia, Paulo
Abrão Pires Júnior, fala sobre o lançamento da Anistia Cultural e sobre as
outras atividades da Comissão.
 
 
 Fórum – Como funcionará o
projeto Anistia Cultural?
 Paulo Abrão Pires Júnior –
O projeto
Anistia Cultural compõe várias atividades que estamos inaugurando na comissão de
Anistia. A função primordial é resgatar e apresentar a sociedade, sobretudo aos
jovens, o regime autoritário que o Brasil sofreu e principalmente como alguns
nomes tomaram de golpe o Estado e, por uma ideologia que nunca teve respaldo
pelo crivo democrático do pais, perseguiram, torturaram e mataram. A comissão da
Anistia não pode se limitar ao dever intrínseco de simplesmente julgar os
requerimentos dos perseguidos políticos de 1964 a 1988, é preciso levar ao
público a verdade histórica, como processo de reparação histórica aos que foram
presos e prejudicados.
 
 Fórum – Quais são as atividades
previstas?
 Paulo Abrão –
Está previsto o projeto educativo da
comissão, com nove ações diferentes. A Caravana da anistia, que vamos iniciar em
abril, realizando sessões reais de julgamento nas cidades brasileiras. Vamos
sair das quatro paredes do Ministério e ir para as cidades, junto a suas
comunidades, afinal foi lá que os ex-presos e ex-perseguidos, foram execrados e
tiveram suas dignidades feridas. Outra ação do projeto educativo é a confecção
de material didático voltado a juventude, para que ela possa conhecer o passado
para construir o futuro.
 
 Fórum – E quanto às atividades da
Anistia Cultural?
 Paulo Abrão –
São dois eixos. Um ciclo de debate
com atividades mensais temáticas do período de repressão, crivadas em processos
de pessoas que resistiram ao regime e encontram seus processos na comissão para
serem julgados. Como o papel das mulheres no regime militar, que terá uma sessão
especial de julgamentos de mulheres que resistiram a ditadura, o papel da
repressão militar no campo, as ligas camponeses e os anos de chumbo. Depois
pretendemos falar dos estudantes sobre o papel da resistência, o papel da Igreja
na democracia, a Teologia da Libertação e sua influência na
redemocratização. Além disso, haverá mostras culturais semestrais de
fotografia, filmes, charges, entre outras, conectadas às Caravanas de Anistia.

 
 Fórum – As atividades já têm data definida?
 Paulo Abrão
Ainda não temos data exata. Em abril, provavelmente dia 4, na sede da
Associação Brasileira de Imprensa (ABI), vamos julgar processo de jornalistas
perseguidos pela ditadura e comemorar o Centenário ABI. Em março, nossa intenção
é realizar o julgamento das mulheres que resistiram a ditadura, como forma
comemorativa do dia internacional da mulher.
 
 Fórum – A
comissão de Anistia está adotando um processo que se assemelha ao de
constituição da verdade e da justiça na África do Sul?
 Paulo Abrão
São processos diferentes, embora com objetivos comuns. A finalidade é
a mesma: não deixar que o passado fique escondido e trazer à tona a história
real. Na comissão de verdade, instituída na África do Sul, os militares
opressores vão até a comissão e revelam as informações que têm. A partir disso,
da confissão de seus crimes, o anistiam. No Brasil foi diferente, em 1979, os
militares se auto-anistiaram. Quanto à reparação econômica aos perseguidos
políticos, a finalidade não é apenas econômica é transformar o processo em
aprendizado.
 
 Fórum – Este ano completam-se 40 anos do Ato
Institucional nº 5. Está previsto algum encontro nacional que discuta a questão?

 Paulo Abrão –
Por enquanto não. Em agosto acontecerá,
provavelmente em Brasília, o encontro nacional de ex-presos e perseguidos
políticos, com organização e iniciativa autônoma, a partir das próprias
associações. Quanto a comissão, estamos organizando para que aconteça em agosto,
no Rio de Janeiro, um seminário internacional sobre sistemas de repressão e
reparação na América Latina. A finalidade é promover uma integração dos países
quanto à formas e formatos das reparações econômicas e históricas.

Brunna Rosa

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