Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Cultura e eleições municipais por Albino Rubin

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
albino_rubim_secult_02

Começaram as campanhas eleitorais municipais de 2012. As eleições sào ritos inventados pelas sociedades para escolha de seus governantes, sejam eles do Executivo ou do Legislativo. Elas nào só escolhem dirigentes, mas atualizam periodicamente a correlação de forças existentes entre os agentes políticos. Além disto: esta conjuntura singular da política se caracteriza pela aceleração da dinâmica e da disputa políticas.

Uma das grandes virtudes das eleições é que elas podem e devem substituir a violência como procedimento para escolhas e atualizações. No passado, inclusive nào muito distante, a violência foi – e infelizmente ainda é em muitos países e regiões – o dispositivo usual para escolher dirigentes e atualizar a correlação de forças. As eleições, por certo não são procedimentos perfeitos, mas. sem dúvida, são bem melhores que a violência ou outros mecanismos – como a hereditariedade, por exemplo – para escolher governantes.

O acontecimento eleitoral agita e mobiliza o campo político e a sociedade. A política se inscreve mais que nunca na agenda pública. Não por acaso muita gente fkla deste instante como “tempo da política”. Ainda que as promessas eleitorais não sejam muitas vezes cumpridas, a disputa de ideias e propostas na agenda pública tem um lugar de destaque nas disputas eleitorais.

Infelizmente a cultura tem sido excluída quase sempre das agendas públicas eleitorais. Assim, antes de tudo, cabe lutar para que a cultura tenha um lugar de destaque na agenda das eleições de 2012. Em um contexto em que o Brasil e a Bahia, depois da paralisia dos governos neoliberais, encontraram afinal um inovador caminho para o desenvolvimento, que tem conjugado suas dimensões econômicas e sociais, será desastroso esquecer que o desenvolvimento também possui obrigatoriamente uma dimensão cultural e que sem esta dimensão o desenvolvimento não pode se realizar de modo pleno e consistente.

A sociedade e mais especificamente a comunidade cultural devem se mobilizar para exigir que os temas culturais estejam presentes com destaque na agenda eleitoral. Afinal de contas, o município em muitos lugares do mundo e mesmo no Brasil tem cada vez mais assumido um papel importante no campo cultural. A trajetória constituída desde a notável experiência de Mário de Andrade à frente do Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo nos anos 30 até inovadoras gestões culturais municipais acontecidas em anos recentes é emblemática nesta perspectiva. Não por acaso, no Brasil de hoje dentre os entes federativos – União, estados e municípios -, aquele que em bloco mais gasta com a cultura é o ente municipal.

Na atualidade, quando estão se implantando os planos e os sistemas – nacionais e estaduais – de cultura, a importância da atuação municipal fica ainda mais evidente, pois tais planos e sistemas implicam a existência de planos e sistemas municipais de cultura e na interação persistente entre todos eles. Ou seja, as mudanças em curso no Brasil e na Bahia exigem que os municípios baianos cada vez mais tenham atenção e cuidem melhor da cultura.

Esta atitude dos governos municipais é vital para o desenvolvimento, inclusive cultural, da Bahia. O governo estadual tem buscado levar as políticas culturais a todos os territórios da Bahia. Nào é casual que a Secretaria Estadual de Cultura tenha assumido a dinâmica territorial proposta pelo governo e, nesta perspectiva, venha se destacando entre os organismos do Estado.

Mas o pleno desenvohimento da cultura na Bahia não pode ficar somente sob a responsabilidade do governo estadual, tampouco prescindir da decisiva atuação dos entes municipais. A iniciativa municipal é essencial, bem como a participação ativa da comunidade cultural e da sociedade civil. Assim, Estado, municípios, agentes e comunidades culturais, em trabalho colaborativo e democrático, serão capazes de desenvolver em plenitude a cultura baiana e colocar a Bahia em um lugar de destaque na cena cultural do Brasil e do mundo.

Artigo publicado originalmente no Jornal A Tarde de 2 de Agosto de 2012

Compartilhar:

Mais lidas