Aldeia Nagô
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Desafiar estruturas: Bárbara Carine e Manuela D’ávila discutem poder, conhecimento e resistência feminina na FLICA 2025

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Mesa “Desafiar”, realizada na Tenda Paraguaçu, abriu o segundo dia da Festa Literária Internacional de Cachoeira com reflexões sobre gênero, educação anti-racista e trajetórias inspiradoras de mulheres na política e na produção do conhecimento.

O segundo dia da Flica 2025 começou com a mesa “Desafiar”, na tenda Paraguaçu, e reuniu a socióloga e escritora Bárbara Carine, conhecida como “a intelectual diferentona”, e a jornalista e ex-deputada federal Manuela D’Ávila. Elas tiveram uma conversa sobre os desafios de ser mulher nos espaços públicos, historicamente dominados por homens, a exemplo da política e no campo acadêmico da intelectualidade.

 A mesa teve mediação da reitora da UFRB, professora Georgina Gonçalves, e a cerimônia foi conduzida pela jornalista Tarsilla Alvarindo, da TV Bahia.

Bárbara Carine abriu a mesa e compartilhou sobre a trajetória da mulher negra e periférica que ousou romper as estruturas eurocêntricas do conhecimento na universidade, ainda destacou que ao longo da trajetória acadêmica muitas mulheres não se sentem pertencente à este espaço. “Precisamos pensar um novo edifício de produção do saber, com formas de existência não monoculturais.” Segundo ela, a universidade ainda reproduz epistemologias excludentes, “onde mulheres, periferias e saberes outros ficam de fora”, pontuou.

Em sua fala, Barbara contou como encontrou na educação antirracista e na ciência de matriz africana o caminho para se reconhecer como intelectual e produtora de conhecimento. “O conhecimento é um espaço performático meu por direito, porque meus ancestrais foram construtores da ciência, da escrita e da vida. Eu estou aqui porque muitos pavimentaram meu caminho”, afirmou.

A autora, que também fundou a primeira escola afro-brasileira do país, a escola Maria Felipa, ainda defendeu a urgência de democratizar o acesso à educação e ressignificar as memórias da população negra. “Não existe Bárbara sozinha. O que faço é continuidade de uma história coletiva. A educação precisa chegar às nossas comunidades de forma libertadora”, completou.

Através das reflexões de Bárbara, Manuela D’Ávila abordou as violências simbólicas e institucionais enfrentadas pelas mulheres que desafiam o poder político. A jornalista relatou episódios de ataques misóginos e campanhas de desinformação durante sua trajetória parlamentar, e apontou o corpo feminino como um campo de controle social constante.

 “Somos reguladas o tempo todo: pela forma de falar, de vestir, de existir. A extrema direita transformou a vida privada das mulheres em arma política, caricaturando, deslegitimando o feminismo e seus conceitos como a sororidade entre as mulheres. Esvaziando o debate público”. Segundo ela, isso funciona como uma estratégia do poder para manter as desigualdades, o machismo, enfraquecer as lutas e as conquistas das mulheres.

Ao reconhecer o lugar de mulher branca e privilegiada, Manuela defendeu que a branquitude precisa se posicionar como aliada e escudo nas lutas antirracistas e feministas. “O feminismo que defendo não é sobre reafirmar quem eu sou, mas sobre garantir liberdade para todas as mulheres”, afirmou.Entre falas emocionadas, interações e aplausos do público, a mesa “Desafiar” se consolidou como um dos momentos mais potentes da Flica 2025, reafirmando a força da palavra e da leitura para formação do conhecimento e do pensamento crítico como ferramentas de transformação social e rupturas de opressões.

Por Ediane Bispo

Foto: Alice Paulilo

Créditos: @Comuniflica

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