Fundada em 1998 em Salvador, Bahia, a Dimenti Produções Culturais conclui a comemoração de seus 25 anos com a abertura de sua nova sede: a Casa Arte Dá Trabalho, localizada no bairro do Rio Vermelho.

Em julho, já mês do aniversário dos “25+1” anos, entre os dias 4 e 7, uma programação festiva vai celebrar essa história e a possibilidade de inaugurar um espaço voltado à criação, formação, produção, difusão, fruição e pesquisa das linguagens artísticas e criativas na capital baiana.

As atividades do evento incluem leitura do espetáculo “Chá de Cogumelo”, montado pelo coletivo em 1999, com seu elenco original; nova exibição da obra audiovisual “Web-Strips” (2021); e compartilhamento público do intercâmbio artístico internacional “A Biblioteca das Crianças”. Para completar, o longa-metragem “PINTA” (2013) e o curta “Sensações Contrárias” (2007) terão sessão no Cine Glauber Rocha em 10 de julho.

A Dimenti é uma plataforma de criação artística e de produção cultural que articula campos como dança, teatro, cinema e audiovisual, literatura e projetos editoriais, música, curadoria e comunicação, com um vasto currículo de realizações. No passado, em seus primeiros 15 anos, se configurou também como um grupo artístico. Na atualidade da última década, assina projetos autorais – como o festival IC Encontro de Artes, que chega este ano à sua 16ª edição –, atua como produtora de iniciativas públicas e privadas e se dedica à gestão das criações de seus membros. Os artistas-curadores-produtores que coordenam a Dimenti são Ellen Mello, Jorge Alencar, Larissa Lacerda e Neto Machado.

Estão no repertório ativo obras como “Biblioteca de Dança”, instalação coreográfica que, desde 2017, circula pelo Brasil e em outros países; “Strip Tempo – stripteases contemporâneos”, cuja temporada de estreia, em 2018, teve todas suas apresentações com ingressos esgotados; “TOCA! na Mão” (2020-2021), uma série de videocasts que mistura shows com entrevistas com artistas da música contemporânea baiana; e “Vermelho Melodrama”, espetáculo vencedor do Prêmio Braskem de Teatro 2019.

“Meu grande espaço de formação como pessoa e profissional foi e é a Dimenti. Eu sou Dimenti há mais de 25 anos, mais de cinquenta por cento do meu tempo de vida. Um ambiente de formação, principalmente, por ser possível transitar por muitas perspectivas e modos de gestão e criação. O percurso da Dimenti me faz compreender que, para algo durar, é necessário se metamorfosear: continuar implica transformação”, conta Ellen Mello, membro-fundadora.

Jorge Alencar, também integrante desde o início, completa: “Nesses 25+1 anos, percebo que existir ao longo do tempo é fruto do desejo de permanecer em processo de muDança: requer movimento e avaliação contínua. Considerando o contexto artístico-cultural precário do Brasil, questionamos: desejamos seguir mesmo? Quais condições tornam esse desejo possível? Seguir está nos trazendo vitalidade ou é somente insistência acrítica que gera exaustão? Com a Dimenti tem feito sentido continuar, mas com muitas transformações e ajustes de rota. Vamos celebrar!”.

A CASA ARTE DÁ TRABALHO

A 14ª edição do IC Encontro de Artes, realizado pela Dimenti em 2021, trouxe o lema “Arte Dá Trabalho”, provocando reflexões sobre a profissão de artista, sua labuta cotidiana e fragilidades institucionais, passando pela potência econômica dos setores criativos, pelas políticas públicas e pelas urgências de reconhecimento e valorização. Também denunciava as vulnerabilidades do campo e declarava a noção da arte que dá trabalho ao pensamento e ao retrocesso antidemocrático. Esta afirmação posta, “Arte Dá Trabalho”, foi tão representativa e gerou tamanha mobilização que foi tomada, dali em diante, como uma bandeira permanente da Dimenti, se desdobrando em diversas ações. Vestir, literalmente, esta camisa virou um símbolo da luta de artistas em todo o Brasil.

Ao se estabelecer numa sede própria, conquista de seus 25 anos, a Dimenti entendeu que, para além de um escritório, o espaço poderia atuar como um polo de trocas artísticas e criativas. Localizada na Rua Feira de Santana, nº 22, no Rio Vermelho, a Casa Arte Dá Trabalho chega então com a proposta de ser potencializadora da cena local, acolhedora de pares e lugar de multiplicação do trabalho nas artes. Dispõe de amplo ambiente de operação e uma sala anexa para atividades de ensaios, oficinas, cursos e pequenas apresentações. Também acolhe outras duas empresas: a Conexões Criativas, organização social sem fins lucrativos para o desenvolvimento da cultura e das artes, e a DASA, prestadora de serviços de comunicação, criatividade e conteúdo.

PROGRAMAÇÃO

Chá de Cogumelo

No dia 4 de julho, às 18h30, o ato inicial da inauguração da Casa Arté Dá Trabalho será com a leitura da peça “Chá de Cogumelo – Um Conto de Fadas”. Estreado em 1999, o espetáculo é um dos trabalhos mais emblemáticos da história da Dimenti por delinear uma poética de encenação, possibilitando as primeiras viagens interestaduais e premiações nacionais. Há 25 anos, o grupo já questionava os padrões dos contos de fadas, propondo uma releitura nada romântica e ingênua de clássicos infantis ao abordar, entre outras questões, as relações de gênero, os estereótipos do teatro feito para infância e juventude e a sociedade de consumo.

Com texto e direção de Jorge Alencar, a leitura vai reunir artistas do elenco original: Adelena Rios, Daniel Moura, Daniel Rabello, Janaina Morse, Jemima Cardoso, Lia Lordelo, Márcio Nonato, Martina Pimenta e Paula Lice. O trabalho desmonta os contos da carochinha, dando um chá de sumiço em príncipes viris e princesas imaculadas. Chapeuzinho Vermelho está no comando de suas decisões. Maria, de João e Maria, é estrategista e cheia de recursos tecnológicos. Rapunzel não tem nada de bom mocismo. Branca de Neve e madrasta são mulheres autônomas. Bela Adormecida acorda para a vida e põe o príncipe no seu lugar.

A sessão terá entrada gratuita, com senhas de acesso distribuídas no local, até a lotação.

Celebração

Após a leitura de “Chá de Cogumelo”, a Dimenti corta as fitas de inauguração da Casa Arte Dá Trabalho e abre o espaço ao público para confraternização e encontros.

Web-Strips

Desnudar corpos, casas, a memória e o digital: a obra cênica audiovisual “Web-Strips” estreou em 2021, durante a pandemia da Covid-19, para despir o trajeto estético e erótico de seis criadores contemporâneos da Bahia, enquanto também revela a intimidade de seus ambientes domésticos e a nudez de suas presenças, tudo feito para ser visto na privacidade do telefone celular.

A série, com direção de Jorge Alencar e codireção de Larissa Lacerda e Neto Machado, reúne seis vídeos-performances configurados como stripteases, com Fábio Osório Monteiro, Jaqueline Elesbão, João Rafael Neto, Jorge Oliveira, Lia Lordelo e Neto Machado. O formato é inovador: ao adquirir ingresso, à venda em www.sympla.com.br/dimenti pelo valor de R$ 25+1, o público, restrito a maiores de 18 anos, vai ter acesso à sessão na função “Amigos próximos” dos stories da página de Instagram da Dimenti (www.instagram.com/dimentiproducoes). Das 22h de 5 de julho às 22h do dia 6, cumprindo as 24 horas de duração de conteúdo publicado na ferramenta, o espectador poderá ser voyeur deste material exclusivo.

“Web-Strips” tem como ponto de partida o espetáculo “Strip Tempo – stripteases contemporâneos”, estreado em 2018, que igualmente gira em torno da pergunta: como despir a poética de uma carreira? Utilizando cenas, figurinos, trilhas sonoras e coreografias do repertório dos/as artistas em cena, “Web-Strips” propõe outras formas e significados ao famoso striptease (do inglês strip, desnudar; e tease, provocar), gênero tão popular quanto marginal, presente das casas noturnas aos clássicos do cinema. Os vídeos-performances, com duração média de quatro minutos cada, cumprem o fundamento de revelar zonas normalmente ocultas do corpo e se expandem à arte contemporânea na articulação de artes do corpo, memória e linguagens do ambiente virtual.

A ideia de exibição em stories de Instagram é inspirada pelas relações dos tempos atuais: o exibicionismo, a efemeridade, o burburinho, os likes e as secretas trocas em mensagens privadas. Na função “Amigos próximos”, os stories são visíveis apenas a pessoas habilitadas – espaço em que internautas divulgam seus registros mais ousados.

A Biblioteca das Crianças

Uma criação inédita realizada em parceria entre Jorge Alencar e Neto Machado, da Dimenti, com os artistas alemães Melanie Mohren e Bernhard Herbordt, do Die Institution, que tem sede na cidade de Stuttgart. “A Biblioteca das Crianças” é impulsionada pelo desejo de imaginar possíveis bibliotecas junto a crianças: que histórias, espaços, pessoas, presenças, sons, cores, movimentos e outras materialidades merecem estar aí presentes?

Para inventar e construir essas bibliotecas, crianças vão participar do processo criativo da performance, convidadas a desenhar, contar histórias, dançar, cantar… Nas apresentações, realizadas na sala de ensaio da Casa Arte Dá Trabalho, o público também será estimulado a uma participação direta, podendo trazer seus livros e histórias preferidas, em sessões abertas a toda a família, com entrada gratuita, nos dias 6 e 7 de julho, às 11h. As apresentações serão transmitidas, simultaneamente, entre o Brasil e a Alemanha: para Stuttgart, direto da Casa Arte Dá Trabalho, e para Salvador, direto do Teatro Rampe, criando uma ponte a esses 8.300km de distância.

PINTA + Sensações Contrárias

Estreado em 2013, “PINTA” é um longa-metragem com direção de Jorge Alencar. Para celebrar os “10+1” anos de estreia do filme nos “25+1” anos de existência da Dimenti, a obra, que circulou por diversos ambientes de cinema, dança e performance, será exibida no dia 10 de julho, às 19h, no Cine Glauber Rocha, com ingressos a R$ 5, abrindo um ciclo de cinema baiano do local.

“PINTA” adapta diversas cenas das peças cênicas e curtas-metragens produzidos pela Dimenti ao longo dos seus primeiros 15 anos, além de reunir outras referências e universos estéticos. Transita por situações performativas com diferentes durações e atmosferas: uma mulher se prepara em seu camarim colocando uma planta de plástico na cabeça; um crooner canta diante de uma piscina vazia para um corpo de baile de dançarinos aquáticos; um menino-sereio fala sobre o conceito de enigma, entre outras circunstâncias.

Filmado em espaços icônicos da cidade de Salvador, como o Clube Fantoches, a praia do buracão no Rio Vermelho e os bambus do aeroporto, “PINTA” traz no elenco o saudoso ator Harildo Déda, a artista circense Audrey Consiglio – e sua jiboia Tonho –, a artista transformista Eyshila Butterfly, a quadrilha junina Asa Branca e artistas que integraram a Dimenti em diferentes momentos de sua história.

Na abertura da sessão, também será exibido o curta-metragem “Sensações Contrárias” (2007), dirigido por Amadeu Alban, Jorge Alencar e Matheus Rocha. O filme se passa em um casarão colonial no Recôncavo Baiano, apresentando fragmentos e narrativas com atmosferas domésticas, eróticas e coreográficas.

SERVIÇO

DIMENTI 25+1

Com abertura da Casa Arte Dá Trabalho

Rua Feira de Santana, nº 22, Rio Vermelho

Salvador – Bahia – Brasil

Chá de Cogumelo – Um Conto de Fadas: leitura

Quando: 4 de julho (quinta-feira), 18h30

Onde: Casa Arte Dá Trabalho

Quanto: Gratuito – senhas de acesso distribuídas no local até a lotação

Classificação indicativa: 14 anos

Celebração

Quando: 4 de julho (quinta-feira), 20h

Onde: Casa Arte Dá Trabalho

Quanto: Gratuito

Classificação indicativa: Livre

Web-Strips

Quando: 5 de julho (sexta-feira), lançamento às 22h – permanece por 24h

Onde: www.instagram.com/dimentiproducoes (stories fechados a “Amigos próximos”)

Quanto: R$ 25+1 (vendas em www.sympla.com.br/dimenti)

Classificação indicativa: 18 anos

A Biblioteca das Crianças

Quando: 6 e 7 de julho (sábado e domingo), 11h

Onde: Casa Arte Dá Trabalho

Quanto: Gratuito

Classificação indicativa: Livre

PINTA + Sensações Contrárias

Quando: 10 de julho (quarta-feira), 19h

Onde: Cine Glauber Rocha

Quanto: R$ 5

Classificação indicativa: 18 anos