Educar para quê? Por Sergio Sobreira
O verbo EDUCAR (transitivo direto) é dar (a alguém) todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento de sua personalidade, é transmitir saber; ensinar; instruir.
TODOS os teóricos da educação, de Piaget a Montessori, de Anísio Teixeira a Henry Wallon, de Paulo Freire a John Dewey e Lev Vygotsky, todos – sem exceção – ressaltam em diferentes perspectivas que a qualidade essencial da educação é despertar e fortalecer no indivíduo o senso crítico. A palavra “crítica” vem do Grego “kritikos” e significa “a capacidade de fazer julgamentos”. Portanto, educar é a estimular os sujeitos a adquirirem a capacidade de buscar a verdade, questionando e refletindo sobre cada assunto, desenvolvendo o potencial de análise racional de cada um. A essa potência se dá um nome: inteligência! Desse modo, o desenvolvimento do senso crítico depende de uma consciência reflexiva baseada no “eu” (autocrítica) e no mundo.
Entretanto, nós, professores, temos nos deparado com o obstáculo crescente e persistente da impermeabilidade dos educandos à crítica. Não há uma semana que eu me não me depare com um colega relatando que tem sofrido acusações, ataques e achaques apenas porque em algum momento apontou ao aluno o erro. Não pode. Exceto se o fizer cercado de cuidados, mimos, afagos, acarinhando o ego da pessoa e quase que pedindo desculpas por lhe dizer que ela cometeu um pequeno, um ínfimo deslize.
O jogo do contente das redes sociais onde todo mundo é lindo, frequenta lugares incríveis, usa marcas glamourosas, é hypster, empoderado, lacrador, arrazany e top, não admite que as falhas e defeitos intrínsecos da imperfeição que é a vida real de cada um sejam revelados, apontados, indicados. Criticados então, nem pensar!!!!
Nossos jovens acreditam nisso, curtem e compartilham, são adeptos fervorosos desse sistema imbecilizante de celebração da idealização. Uma ode à estupidez sem precedentes. Então, quem é você professor na fila do pão pra vir me dizer que eu cometi algum tipo de erro?
Bem, eu e meus colegas somos aqueles que acreditamos que não fica bem um adulto agir como criança mimada, que a vida – DURA, IMPERFEITA E INJUSTA – pede coragem para ser enfrentada. Que não é nosso lugar sustentar o mimizismo, que viver em bolhas é correr o permanente risco de ter seu mundinho edulcorado explodir a qualquer momento, que o maior aprendizado que o ser humano pode ter na vida é reconhecer sua porosidade ao erro. Erramos, todos nós. Errar é parte do aprender. Não se nasce sabendo. Somos e precisamos nos manter permeáveis. Há sempre algo novo a ser aprendido. Porque não sabemos tudo, nem devemos. Porque falhamos. Acreditar-se infalível é a cilada mais estúpida da vaidade. Aprende-se a vida inteira e, juro, é uma delícia. Aprender é estar vivo. Nenhum de nós está pronto. Nenhuma vida está acabada.
Aliás, a vida só acaba quando se morre…
Sergio Sobreira é Professor da UFBA/Facom
