Elites nacionais precisam entender que o progressismo é irrefreável no Brasil. Por Cesar Calejon
Desde que se constituíram, as elites nacionais, sobretudo a econômica (financeira e industrial), a política e a midiática, sempre tiveram muitas dificuldades em coexistir de forma
minimamente razoável com quaisquer medidas que objetivassem a emancipação das classes mais empobrecidas da população brasileira.
Apesar disso, ainda que sem a anuência dessas elites, essas formas de educação vêm se concretizando ao longo das últimas décadas, fundamentalmente, por meio das administrações do Partido dos Trabalhadores, com a elaboração de políticas afirmativas inéditas e o ingresso dos grupos que foram historicamente usurpados no ensino superior pela primeira vez.
Neste sentido, existe uma correlação diretamente proporcional entre a força das lutas populares por melhores condições materiais de vida e o nível de educação das grandes massas populacionais brasileiras.
Em 2018, após três gestões e meia do campo progressista no comando do país – processo que foi interrompido pelo golpe jurídico, midiático e parlamentar de 2016 – a proporção de pessoas pretas ou pardas, que compõem a população negra, por exemplo, cursando o ensino superior em instituições públicas brasileiras chegou a 50,3%. Ou seja, pela primeira vez na história, pretos e pardos formaram a maioria dos alunos ingressando nas universidades nacionais.
A partir deste ponto, portanto, o progressismo ganha um caráter inexorável, o que gerou uma reação das elites capitalistas transnacionais que pretendem manter o Brasil escravizado ad eternum.
Tal fato se demonstra em todas as searas da vida social, com veículos de comunicação progressistas ganhando cada vez mais protagonismo, as principais empresas atuantes na nação adotando estratégias cada vez mais progressistas de comunicação e políticos, inclusive reacionários, assumindo motes e nomes que remetem ao progressismo, como “progressistas”, “solidariedade”, “união brasil” etc.
Por não compreenderem o desenvolvimento humano de forma histórica, cultural e, sobretudo, dialética, as classes mais abastadas do país percebem na figura de Lula uma força unidimensional capaz de mobilizar as massas contra os seus objetivos hegemônicos.
Contudo, Lula é a personificação de uma luta histórica e cultural que avança, dialeticamente, no sentido de emancipar as classes empobrecidas do país. Assim, ele é o principal líder deste movimento, mas não é o próprio movimento em si.
Paulo Freire ressaltou que (…) “seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica”.
De qualquer forma, este processo vem acontecendo e, neste sentido, também caracteriza uma atitude ingênua das classes dominantes seguir apoiando um projeto nazifascista que está fadado à derrota.
Seria muito mais prudente – e vantajoso em todos os sentidos (financeiro, político etc.), entender que o progressismo é hoje uma força irrefreável no Brasil e adequar as suas respectivas atuações na vida econômica e sociopolítica do país de acordo com esse fato. Essa escolha não é difícil, mas lógica.
Cesar Calejon
Jornalista, com especialização (MBA) em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP. Autor dos livros ‘A ascensão do bolsonarismo no Brasil do Século XXI’, ‘Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil’ e ‘Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofacismo no Brasil’
Artigo publicado originalmente em https://www.brasil247.com/blog/elites-nacionais-precisam-entender-que-o-progressismo-e-irrefreavel-no-brasil