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Esquerda está com um abacaxi no colo. Como descascá-lo? Por Ricardo Cappelli

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Ricardo_Cappelli

Vamos aos fatos. O governador do estado declara durante o  carnaval que perdeu o controle.  São espalhadas imagens impressionantes de violência. O governo federal decide intervir. A pesquisa indica 80% de apoio popular à medida, 59% acreditam que irá melhorar. O próprio chefe do poder executivo estadual apóia a intervenção. Como ser contra?

É preciso reconhecer, o adversário marcou um gol na política. E a resposta precisa ser na política também, com inteligência e frieza. Teses acadêmicas não vão resolver.  O Maracanã lotado está vibrando com o gol, posar de chorão reclamando de um impedimento que só você está vendo, infelizmente, será muito pouco produtivo.

Imagine que você é morador do estado. O fato é que a sensação de insegurança bateu no teto. Se foi promovida ou não é outro assunto. Ela é real. O exército é uma instituição muito mais confiável para a população que a PM. Fato. No meio deste caos, com sua família ameaçada, você vai ser contra o exército nas ruas?

A bandidagem, sempre que o exército vai para as ruas, costuma se encolher. É uma reação natural. Sabem que é temporário, encolhem e esperam a tropa ir embora. A tendência é que no curto prazo realmente surta algum efeito.

É um jogo político, obviamente. Apesar disto, quem está com medo quer uma solução imediata. A tal solução estruturante, de longo prazo, que é o correto, para quem está com medo fica parecendo papo de acadêmico, infelizmente.

O terreno da segurança pública em momentos de crise, costuma colocar a esquerda na defensiva, um eterno problema. A Globo montou um forte aparato de apoio à medida. É uma agenda que arrasta o debate público para um terreno tradicionalmente favorável ao discurso conservador. Repressão ao crime, à corrupção, vai tudo moldando uma agenda e desviando o debate da agenda econômica, a questão central.

Entra em cena a velha estratégia de aparentar tratar com firmeza o doente com uma mão enquanto, com a outra, se espalha a doença tornando-a endêmica.

A intervenção vai resolver a questão? Claro que não. Pode dar resultado daqui até as eleições? É uma possibilidade real. E como tal deve ser tratada e calculada politicamente.

O Plano Cruzado elegeu 22 governadores do PMDB e dobrou a bancada do partido.  Desmoronou após as eleições. Já estavam todos eleitos.

Como jogar na política sem brigar com a população, sem ignorar a realidade objetiva? Não adianta dizer que é aprofundamento do golpe, que é medida eleitoreira, que é factóide e etc. É tudo isso, mas para quem está com medo o que temos para apresentar como alternativa objetiva?

Votamos contra propondo que alternativa no curto prazo para resolver uma situação de calamidade onde o próprio chefe local jogou a toalha?

O risco de isolamento se optar apenas pela negação é imenso. Considerar a medida necessária diante do caos denunciando as questões de fundo? Não há saída ou posição fácil. Temer colocou um abacaxi no colo da esquerda. Como descascá-lo?

Alan Santos/PR

Artigo publicado originalmente em https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ricardocappelli/342748/Esquerda-est%C3%A1-com-um-abacaxi-no-colo-Como-descasc%C3%A1-lo.htm

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