Estigma. Por Zuggi Almeida
A minha busca por imagens de referências do bairro da Liberdade no Google originou uma constatação absurda.
A maioria das imagens principais do site de buscas estão relacionadas ao crime e pude concluir, então que aquele banco de dados é formado em boa parte por material produzido pela imprensa local.
A cobertura midiática dos bairros populares é um dos principais vetores do racismo e da associação do povo negro à violência e as práticas criminosas.
Os programas sensacionalistas das tvs alimentam suas pautas com o ” quanto mais sangue melhor” e na violência policial estão os seus campeões de audiências no horário do almoço dos bairros da periferia.
Não encontrar no Google imagens condizentes com a importância histórico-cultural do bairro da Liberdade, seus personagens, a vida pulsante de uma população que consegue superar as adversidades e manter vivas as tradições do povo baiano demonstra essa discriminação midiática.
Duas importantes manifestações culturais referenciam o bairro da Liberdade: o cortejo dos Caboclos do Dois de Julho e o Bloco Ilê Aiyê. Porém, a Liberdade é uma verdadeira colcha de retalhos de tudo que possa acontecer em Salvador,e isso deve ser considerado e observado quando for gerado as pautas das coberturas jornalísticas.
A importância econômica da Liberdade é justificada por uma forte estrutura de serviços que faz desse bairro um dos mais importantes do segmento comercial da cidade. Essas atividades geram taxas e impostos que deveriam ser reinvestidos na própria população.
A Liberdade e demais bairros populares não são os fornecedores da matéria prima dos crimes, mas as fontes estão na ausência das politicas públicas , na repressão policial e no estigma criado por uma imprensa racista.
O racismo é uma deformação fomentada por quem deveria fornecer a informação.
Nós, buscamos na força da luta antiracial as armas para mudar esse tipo de retrato.
#VidasNegrasImportam
Zuggi Almeida, baiano, escritor e roteirista.
