Existe um grande debate sobre o Carnaval de Salvador. Por Nadja Vladi
E todos já perceberam que o modelo bloco+cordas+axémusic+camarotes, que movimentou uma indústria de milhões e amplificava a segregação, se esgotou. Mas até surgir o modelo novo, vamos ter que nos debater sobre qual é o nosso.
Invejamos um pouco os cariocas, os pernambucanos e os paulistas, mas será que os tais bloquinhos são mesmo um caminho para nós? Tendo mais a achar que não. [usei a palavra inveja aqui, mas talvez o termo correto seja observação crítica].
Uma coisa tenho certeza: essa ideia de uma marca de cerveja patrocinar o carnaval me parece questionável e bastante opressiva com os ambulantes, a parte frágil da festa. E também temos que pensar sobre a entrada pesada dos governos municipal e estadual como grandes apoiadores financeiros do Carnaval. Os governos têm bancado trios sem cordas, mas vejo isso com bastante restrição. Os critérios sobre esses patrocínios têm que ser mais claros. Não vejo nenhum sentido trazer Anitta ou pagar o trio de grandes estrelas da axé music.
Musicalmente continuamos tendo coisas maravilhosas: Ilê, Filhos de Gandhy, Lazzo, Margareth, Olodum, Armandinho, Moraes Moreira, Luiz Caldas, Mudança do Garcia. Novidades estimulantes que surgiram nos últimos anos: BaianaSystem, Attooxxá, Baco Exu do Blues, Larissa Luz, Orkestra Rumpilezz. Artistas que são o espírito do que é Salvador: Harmonia do Samba, Léo Santana, Psirico. Os que empolgam a avenida: Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Igor Kannário. Não nos falta criatividade musical.
O ideal é que nesse momento de transição que estamos passando possamos encontrar um modelo mais inclusivo, menos perverso socialmente do que foi a ideia dos blocos com cordas. E como dizia Moraes: “Meu amor quem ficou nessa dança meu amor tem fé na dança”.