Aldeia Nagô
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Festas, Temporalidades e Poder por Antonio Godi

7 - 9 minutos de leituraModo Leitura

Diante de mais um ciclo de festas
do verão baiano fui motivado a minerar em minha humilde biblioteca questões
sobre o tema. E nas estantes empoeiradas de letras e lembranças marcadas por
leituras tantas descobri uma pérola. O livro, Festas Tradicionais da Bahia,
escrito por Jayme de Faria Góes publicado pela gloriosa Livraria Progresso
Editora em 1961. Essa obra hoje rara dá conta das festas baianas através de um
relato poético do autor acompanhado por desenhos em nanquim de importantes
artistas do período. A saber: Lênio, Caribé e Hélio Aguiar.


Parece pouco, mas é muito o que
lemos e vemos no suporte bidimensional de nós tantos nesse livro. Parece pouco
pela obra não dar conta da historiografia e antropologia das nossas festas. Mas
é grande na dimensão de uma poética e imagética daquilo que buscamos ser.  Gosto da pegada estética desses antigos
poetas e artistas. Entretanto, nossas festas guardam fossos agonísticos e
trincheiras socioculturais a serem decifradas. Infelizmente, nem os textos
poéticos nem a firmeza dos traços em nanquim do célebre livro desnudam a
complexidade dos conflitos históricos de nossas festas populares.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

As nossas festas de largos e
desconhecidos verões e invernos guardam profundos mistérios de nós. Entre os
dias 20 e 21 de dezembro de 2010 passamos pelo 
Solistício de Verão  e poucos de
nós sabem qual o movimento do corpo primacial de todos que respiram nessa nave
misteriosa que chamamos Terra. Essa casa alargada que displicentemente
habitamos e muitas vezes violentamos esta a circular em torno da luz e calor do
Sol. Nós passageiros alienados até pensamos que movemos nossos corpos e vidas
para lugares tantos. Sem nos darmos conta que transitamos na superfície de um
astro vivo num movimento de forças determinantes. A alienação do humano é primacial
logo o conceito materialista dialético visando forças sociais chega atrasado no
movimento das existências plenas.

Forças e sinais cósmicos emanados
da complexidade do universo em constante trânsito. Pode- se acreditar que a
constituição da pluralidade de nós está colada ao sentido e idéia de tempo. O
tempo enquanto percepção do movimento da existência é a grande descoberta e
construção da humanidade. Todos os seres humanos do planeta manifestaram a
capacidade de sentir e codificar o movimento de nós entre cenas alargadas nas
brechas negras e luminosas da universalidade. Uma humanidade trans-histórica
lendo cosmicamente sinais de temperatura e luz a criar paradigmas de
temporalidades. Todos humanos construíram o conhecimento de nós através da
constatação passível de codificação em calendários tantos.

Construções inequívocas da
igualdade, complexidade e multiplicidade do que insistimos em ser.  O homem em sua pluralidade qualifica-se na
construção de calendários e perspectiva do devir. Entretanto a modernidade
colonialista fundou expedientes de ritmos de vida marcados pela dominação e
exploração. Trata-se do calendário Gregoriano que unificou matematicamente os
diversos paradigmas de tempo de ethos tantos e do calendário litúrgico a
demarcar nossas festas populares. A conjunção desses dois calendários guarda a
ação etnocêntrica mais contundente do colonialismo e capitalismo moderno.

As nossas festas são frutos das
muitas ações evangelizadoras e colonizadoras da história cultural brasileira.
Cenas sociais de nós conquistando e reconfigurando sociabilidades de uma
multiplicidade humana inusitada. È incrível como que os historicamente
submetidos passam a ser o foco da representação de nós. É crível constatar que
através da percussão de nossas peles étnicas e tambores fizemos uma revolução
cultural inusitada. Assim, tem sido e sempre será. Nós habitantes de um planeta
melodioso e colorido protagonistas de cenas plásticas, sonoras e festivas a
destronar poderes colonialistas e capitalistas. Aí, o "couro come no centro"
através das águas sagradas do Bonfim tendo a percussão de todos nós com o tema
do carnaval de 2011.

Antonio Jorge Victor dos Santos Godi
(Ator, antropólogo e Prof. UEFS/DCHF/NUC)

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