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Fogo na Babilônia – a essência do reggae. Por Renato Queiróz

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Cachoeira, Patrimônio Nacional, no Recôncavo Baiano, é uma cida TVde histórica e culturalmente rica. Desde o século XVI, foi um importante centro econômico devido à produção de açúcar e fumo. Em 25 de junho de 1822, proclamou D. Pedro como Príncipe Regente, destacando-se na luta pela independência do Brasil antes do Grito do Ipiranga. Hoje, é também uma cidade universitária.

Senta que lá vem História!

Tão rica era Cachoeira que, em 1756, o Reino de Portugal resolveu taxá-la em uma vultosa quantia, revertida para a recuperação da cidade de Lisboa, quase totalmente destruída por um terremoto.

O porto de Cachoeira, às margens do Rio Paraguaçu, foi essencial para interligar o litoral ao interior do Brasil, facilitando o escoamento de mercadorias e o transporte de passageiros e animais, inclusive durante um considerável tempo do garimpo.
A partir de 1860, o transporte ferroviário também desempenhou um papel crucial nesse desenvolvimento econômico.

Assim, Cachoeira sempre possuiu um aspecto cosmopolita influenciada por europeus, árabes, judeus, africanos escravizados e muitos indígenas dizimados ou expulsos, todos deixando marcas profundas. O que não tem limite, uma cultura miscigenada, uma religiosidade sincrética.

Cachoeira, também, é conhecida por sua rica tradição musical, sendo o berço de manifestações culturais como o samba de roda, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

O grupo musical Os Tincoãs desempenhou um papel crucial na valorização e perpetuação da herança cultural afro-brasileira na região e no Brasil. Além disso, as seculares Filarmônicas Lira Ciciliana, Minerva Cachoeirana e a caçula 25 de Junho estão sempre prontas para momentos solenes e marcantes charangas.

O reggae, em particular, tem uma presença marcante na cidade, influenciando a cultura local e sendo representado por diversos artistas e bandas.

Edson Gomes, nascido em Cachoeira em 1955, por exemplo, é um renomado cantor de reggae, conhecido por suas músicas que tratam de temas como desigualdade social, violência, corrupção e, também, amor. Ele é considerado o maior representante do reggae no Brasil.

“Nayambing Blues” é uma música que pulsa com a alma do reggae brasileiro, criada pelo cachoeirano Sine Calmon e sua banda Morrão Fumegante. Parte do icônico álbum “Fogo na Babilônia”, lançado em 1997, essa canção se destaca por sua melodia envolvente e letra que fala de amor e espiritualidade.

A música reflete temas de resistência e esperança, tocando profundamente quem a escuta.

A expressão “fogo na Babilônia” tem múltiplos significados, evocando revolta e indignação, e lembrando tempos de conflito social. Embora Babilônia não tenha sido destruída por um incêndio, a expressão pode simbolizar destruição e caos, representando um sistema opressor e a luta contra essa opressão. O fogo também é visto como purificador, renovando energias, e pode descrever uma festa animada e cheia de vida.

No Carnaval de Salvador de 1998, Sine Calmon e Morrão Fumegante incendiaram os foliões e o público com “Nayambing Blues”. A música foi a mais tocada pelos trios elétricos e ganhou o Troféu Dodô e Osmar de melhor música, tornou-se um hino.

“Nayambing Blues” continua a ressoar mantendo viva a essência do reggae e tocando gerações com sua energia contagiante e mensagem poderosa.

Sine Calmon iniciou sua carreira artística aos 17 anos e formou a banda Morrão Fumegante em 1994.

Em 1997, além do sucesso da banda, ele se tornou notícia nacional ao ser condenado a três anos de prisão por apologia ao uso de maconha durante um show, no Pelourinho, em Salvador. No entanto, a condenação foi revogada por unanimidade pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia. Sine consolidou-se como uma figura marcante no cenário do reggae brasileiro.

Aqui, o videoclipe de “Nayambing Blues” gravado em Cachoeira, em 1997, capturando a essência e a beleza da cidade, complementando a mensagem poderosa da música.

SONZAÇO!
Renato Queiroz é professor, compositor, poeta e um apaixonado pela história da música,.


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