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Aldeia Nagô
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Foi assim com Fernanda por Marcos A. P. Ribeiro *

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
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Durante a viagem ferroviária entre Sevilha e Madri, sentei-me ao lado de uma espanhola de 34 anos, loura, elegantemente magra, vestida com uma minissaia de couro preto e meias escuras transparentes.

 

Logo começamos a conversar.

O rosto magro, com uma expressão de timidez e reserva, a armação dos óculos quadrada, pesada, os dentes superiores superpostos, uma permanente tensão na boca, o modo hesitante de falar, em contraste com a roupa que pretendia ser sexy, fizeram-me pensar numa mulher que pretendesse enviar ao mundo uma mensagem em desacordo com a própria personalidade.

Não sei exatamente por que, mas tenho a capacidade de, em pouco tempo, tornar-me íntimo de uma mulher e obter revelações surpreendentes – embora isso, necessariamente, não leve ao sexo.

Foi assim com Fernanda.

Ajudados pelo vinho, pelo avançar monótono e cadenciado do trem, pelos verdejantes campos que, sob chuva fina, deslizavam pela janela, começamos a falar francamente sobre relacionamentos entre homens e mulheres.

Eu queria saber a opinião dela; ela, a minha.

Era programadora de computadores.

No momento, estava sem namorado; terminara recentemente um relacionamento de seis anos.

Falei sobre meus dois casamentos que acabaram em divórcios.

Talvez o fato de estarmos falando sobre tal tema tenha contribuído; não sabei dizer; mas uma poderosa tensão erótica surgiu entre nós.

Os assentos eram estreitos e nossos corpos estavam muito próximos.

Ela movia as pernas, deixadas à mostra pela minissaia, para um lado e para o outro, inquieta, demorando-se mais tempo quando apontava para o lado oposto ao meu, mantendo-as sempre juntas, algumas vezes com as duas mãos enfiadas entre as coxas, e apertando-as como se precisasse ir urgentemente ao banheiro. Os lábios, entreabertos, pendiam sensualmente numa atitude de abandono, mas logo se contraíam em repuxos e esgares nervosos.

Eu, às vezes, deixava que minha mão roçasse sua perna, e, para enfatizar algo que dizia, pousava-a sobre sua coxa. Mas embora desejasse muito que permanecesse indefinidamente ali, era obrigado a retirá-la assim que o contato perdia a naturalidade.

Enquanto o trem avançava célere em direção a Madri, estávamos entretidos nesse jogo.

Compreendi que, naquele momento, uma atitude explícita de minha parte seria mal-recebida.

O melhor seria manter a conversa num alto grau de interesse, e, se possível, de crescente intimidade; assim, teria um bom pretexto para convidá-la para sair, em Madri.

– Saio sozinha à noite, porque se todos os solteiros ficarem em casa, como eles vão se conhecer?

– Aos 34 anos, sem namorado, sou vista pelas pessoas como estranha, fracassada; como se tivesse um problema; eles acham que “os bons” já se casaram.

– É preciso saber distinguir entre um homem interessado apenas em sexo; que pode ser comigo ou com qualquer outra mulher; apenas calhou de eu estar ali no momento, de um homem interessado em mim como pessoa.

– Só levo um homem para a cama quando quero que ele seja meu.

Essas foram algumas das revelações mais interessantes que ela me fez.

Quando chegamos a Madri, saímos juntos do vagão, conversando, puxando as malas de rodinhas.

Ao nos aproximarmos da saída da estação Atocha, disse, num tom que soasse casual:

– Vamos beber alguma coisa hoje à noite?

Ela parou, ficou séria durante alguns instantes:

– Não posso; vim para encontrar umas amigas; vou sair com elas à noite.

Não insisti.

– Você tem medo de sair comigo – disse.

E me afastei sem esperar a resposta.
 

MARCOS AUGUSTO PESSOA RIBEIRO,

Nasceu em Jequié (1957). Estudou Medicina e línguas européias. Publicou: Vagas Obscenidades (poesia); A Faculdade de Medicina da Bahia na Visão de seus Memorialistas (1854-1924) (história); Todas as Coisas São Iguais (romance); Contos do Porto da Barra (contos); Entre os “Bárbaros Filosóficos” (crônica de viagem). Traduziu Lawrence Ferlinghetti, Dashiell Hammett, Robert Lowell e Ernst Jünger. Venceu o concurso Residência Literária em Hamburgo.

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