Aldeia Nagô
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Inventário do factóide por Luis Nassif

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

As peças vão se encaixando:


1. Sabia-se do banco de dados que estava sendo alimentado na Casa Civil, com
dados sobre gastos dos presidentes. Como declarou o presidente do PSDB Sérgio
Guerra: "Não é novidade o governo ter um banco de dados sobre qualquer matéria.
O problema, segundo ele, é "desse banco de dados se extrair um dossiê e
divulgá-lo à imprensa".

2. Folhas desse levantamento chegaram na Veja. Há duas hipóteses para sua
origem.

Hipótese A: Podia ser dados esparsos que a revista juntou e disse que era
dossiê – ela tem histórico nisso, conforme venho demonstrando na minha
série.

Hipótese B: Podia ser, de fato, um dossiê que estava sendo preparado, e aí
com duas intenções. Aquela encampada pela revista, de imediato, é que seria para
chantagear a oposição. Impossível! Qualquer tentativa de chantagem se tornaria
escândalo. A revista criou o escândalo sem apresentar nenhuma evidência de
chantagem. A segunda possibilidade seria o governo se armando quando tivesse que
enfrentar a CPI. É verossímil, mas aí não se tem chantagem.

3. Tudo, acima, são conjeturas. De concreto, a reportagem da Veja tinha
apenas as 13 folhas, e nada mais. E um conjunto de conclusões não amparadas em
fatos.

4. A matéria da Veja não pegou. Talvez pegasse em outros momentos. Não agora,
quando é nítida sua perda de credibilidade, especialmente junto a outras
redações jornalísticas. Com o tema morrendo, ou a Veja ou algum intermediário
encaminhou as tais 13 páginas para a "Folha", que resolveu ressuscitar o
factóide.


5. Seguiu-se um jogo meio curioso. Os jornais fazendo o alarido, dando como
fato consumado, mas – com exceção da "Folha" – indo com cuidado na onda. A
edição desta semana da Época mostra claramente o receio de embarcar em uma canoa
furada.

6. A própria conversa de Dilma Rousseff com Roberto Civita – a parte seu
interesse nas mudanças da Lei de Telecomunicações, para viabilizar a venda da
TVA – mostra que, em algum momento, se percebeu que a Veja tinha dado mais um
furo n’água.

7. Agora, se está nesta situação. O próprio presidente do PSDB diz que os
dados não são novidades: o crime está na divulgação em forma de dossiê. Quem
divulgou foram a Veja e a Folha. Está em suas mãos demonstrar quem foi o
"criminoso" que vazou o suposto dossiê. Vamos ver se na edição de amanhã a Folha
avança alguma informação. Mas, até agora, estão imobilizados.

Repito o que já escrevi por aqui: não se trata de "entregar" a fonte, mas de
informar que tipo de fonte é. É um "aloprado"? É um parlamentar chantageado.?É
risível que qualquer parlamentar se sentisse "chantageado" com uma relação de
gastos banais do ex-presidente FHC. Faria o mesmo que a Veja fez ao receber as
13 folhas: um enorme alarido, para ganhar visibilidade, gritaria "pega ladrão" e
sairia para comemorar o gol..

8. Há tempos a Folha vem cometendo um haraquiri continuado, de ir a reboque
da Veja.

Publicado originalmente em: www.projetobr.com.br

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