Le Monde sauda Brasil em editorial de capa Por Andrei Netto
Para ‘Le Monde’, Brasil é porta-voz dentre as economias emergentes Por Vander Fagundes
Por Andrei Netto CORRESPONDENTE / PARIS
A julgar pelas palavras do jornal "Le Monde", o Brasil não
para de seduzir a opinião pública da Europa. Em editorial de capa de sua edição
de 25 de maio, o maior jornal da França define o país como "o porta-voz das
economias emergentes", elogia companhias como Embraer e Petrobrás e diz que o
Brasil está às portas de seus "trinta anos gloriosos". Não bastasse, diz que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser candidato à secretaria-geral das
Nações Unidas em 2012.
O editorial, intitulado "O Brasil de Lula em todos os
fronts", analisa a onipresença da política externa do país. Segundo o diário, "O
mundo murmura as declarações do presidente brasileiro e os feitos importantes
não apenas futebolísticos de seus cidadãos". "Le Monde" lembra recentes
pronunciamentos do presidente em sua passagem pela Europa, quando criticou a
lentidão da Alemanha e socorrer a Grécia e em dissipar as dúvidas que pairam
sobre a solidez financeira da União Europeia. E destaca ainda a disposição de
Brasília em intervir – ou, ao menos, opinar – em frentes diplomáticas
controversas, como o conflito entre Israel e Palestina, o programa nuclear
iraniano e as divergências entre Argentina e Reino Unido sobre as ilhas
Malvinas.
"O ‘homem mais popular do mundo’, segundo Barack Obama, não
se apoia apenas sobre seu carisma para falar alto e forte. Ele encarna um Brasil
em plena forma que, após um crescimento nulo devido à crise, está nos
calcanhares da China e da Índia em termos de crescimento", diz o jornal. Além de
empresas como Petrobras, Vale e Embraer, citadas como exemplos da capacidade da
indústria, o periódico chama o Brasil de "celeiro do mundo" e destaca a produção
de soja, açúcar, etanol, café, frutas, algodão e frangos, que fazem do país "um
concorrente temido aos olhos dos produtores europeus".
Segundo o editorial, o Brasil teria tomado consciência de seu
potencial econômico em 2008, quando o mundo mergulhou na crise do sistema
financeiro. "É o Brasil, brilhantemente representado por seu ministro de
Relações Exteriores, Celso Amorim, que pressiona mais forte por uma conclusão
das negociações da Rodada de Doha. Em comparação, os Estados Unidos parecem
paralisados em um protecionismo de outro tempo", derrama-se o
texto.
Mas é ao comparar o Brasil com outros BRICs que o tom é mais
elogioso. "Menos temido que a China ou a Índia, com seus bilhões de habitantes,
melhor considerado que uma Rússia tributária de suas matérias-primas, o Brasil é
o verdadeiro porta-voz destas economias emergentes que puxam o crescimento
mundial", diz o editorialista, para quem o eixo econômico do mundo "se desloca
para o Sul".
O jornal comenta ainda a briga do Brasil por mais influência
no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial. E destaca a
reivindicação de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU,
instituição que Lula, aos 65 anos, poderia tentar liderar em uma futura eleição
ao cargo de secretário-geral, em 2012, segundo especula a publicação. "Não
acabamos de ouvir o ex-metalúrgico, amigo das favelas e dos investidores. Não
acabamos de ouvir falar de um Brasil na aurora de seus trinta anos gloriosos",
diz o Monde, em referência à época em que o crescimento econômico e os avanços
sociais foram mais fortes na França, logo após a 2a Guerra
Mundial.
Além do editorial, o Monde publica também uma reportagem
sobre a tentativa do governo brasileiro de controlar o nível de crescimento,
citando dados do Banco Central – que indicaram, na semana passada, um incremento
do Produto Interno Bruto (PIB) de 9,85% no primeiro trimestre do ano. Apesar das
palavras positivas, Le Monde nem sempre é generoso com o Brasil. Na semana
passada, o jornal classificou de "ingênua" a postura do Itamaraty na tentativa
de mediar, ao lado da Turquia, o acordo sobre o programa nuclear do
Irã.