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Livre pensar. É só pensar. Por Carlos Pronzato

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Carlos_Pronzato

Homenagem à economista Maria de Conceição Tavares

Nascida em Portugal, chegou ao Brasil com 24 anos, em 1954, fugindo da ditadura de Salazar. Naturalizada brasileira, a economista Maria de Conceição Tavares morreu no sábado 8 de junho, aos 94 anos.

Uma voz revestida de energia e coragem se apagou como se apaga a luz de um fósforo, como um sopro lento, mas que empurrou – e empurrará – um vento que moveu – e moverá – durante muito tempo as velhas folhas secas da árvore da política institucional deste país, denunciando caminhos equivocados e propondo muitas e diversas alternativas para o Brasil ser uma potência econômica muito além dos gráficos dos grandes escritórios, do PIB e da posição de privilégio que ostenta no concerto das nações mais desenvolvidas como uma das principais economias mundiais, hoje a oitava. “As pessoas não comem PIB, comem alimentos” criticava com sua tradicional ênfase.

Pouco tempo depois do seu desembarque no Brasil, Getúlio Vargas suicidou-se no Palácio do Catete. “Cheguei achando que encontraria uma democracia e uma civilização original nos trópicos, como queria Darcy Ribeiro, mas ela está ameaçada”. Recentemente declarou que durante o governo Bolsonaro houve uma gigantesca sanha para destruir as conquistas sociais obtidas durante o getulismo.

Com veemência, vozeirão e seu inseparável cigarro sempre defendeu o desenvolvimento com justiça social. “A economia que não se preocupa com a justiça social é uma economia que condena os povos ao desemprego e à miséria” denunciando assim a concentração da renda e da riqueza.

Influenciada por três grandes clássicos do pensamento econômico brasileiro, Celso Furtado, Caio Prado Júnior e Ignácio Rangel, se debruçou sobre o estudo do capital financeiro e foi nesse campo que ergueu seu nome à altura de um autêntico farol nas aulas de diversas universidades, iluminando notadamente as da UFRJ, da UNICAMP, e o IE (Instituto de Economia), influenciando ainda os movimentos sociais.

Levou sua luta pela Renda Mínima e o seu constante apoio ao senador Eduardo Suplicy, seu principal defensor, a todos os foros em que participou, considerando esta questão essencial ao desenvolvimento do país, enfrentando muitos opositores.  Criticou com firmeza a política econômica do regime militar e teve influência na criação do Plano Cruzado. Foi conselheira econômica do PMDB e posteriormente filiou-se ao PT, se elegendo deputada federal (1995 – 1999).

Em certa ocasião declarou, lembrando o período em que quase foi presa em Portugal e posteriormente perseguida pela ditadura brasileira, que pensar continua sendo o direito mais violado, “parece que o livre pensar continua sendo altamente subversivo” em referência à famosa frase do Millôr Fernandes: “livre pensar é só pensar”.

Carlos Pronzato

Cineasta, diretor teatral, poeta e escritorSócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) carlospronzato@gmail.com

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