Mortes aos Ricos? Por Zeca Peixoto
Não é o caso desse humilde escriba desejar a morte de ninguém. Mas recordo Lulu Santos, “não desejamos mal a QUASE ninguém…”
A questão passa à margem sobre a vontade do infortúnio alheio.
Porque mais profunda.
Porque é o regojitar da História mediante a narrativa mais direta.
O que o capitalismo resultou neste quase fechamento das duas primeiras décadas do século XXI?
A despeito de todo avanço técnico-científico produzido pelo TRABALHO, registre-se, o mundo que dá as caras é absurdamente concentrador de riquezas e socialmente mais excludente e conservador.
Atravessa trevas.
Por que “morte aos ricos” é entoado como slogan de guerra por manifestantes enquanto destroem lojas e restaurantes frequentados por endinheirados da França?
No final da primeira década deste século distópico, mais precisamente entre os anos de 2007 e 2010, a crise financeira gerada pela ganância de grandes conglomerados rentistas lançou milhões de pessoas mundo afora ao desemprego e à miséria.
Poupanças e aposentadorias foram torradas nos cassinos bancários de Wall Street.
Os estados nacionais foram utilizados para sanear bancos e posteriormente cupinizados por eles para retirar direitos dos pobres e indesejáveis do ultraneoliberalismo.
“Lógica” cruel.
Saúde, educação, lazer e segurança passaram a ser não um fator da normalidade solidária que deveria ser o ethos das sociedades. Viraram bens de luxo para um punhado de gente.
Só nos EUA, Meca do capitalismo, 47 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.
O mundo passou a ter mais de 65% da população não como pobres e sim miseráveis.
Ao capitalismo o que importa é acumulação e lucros. Que seja para um grupelho. O restante que se dane. Que morra de fome como escravos do capital.
Talvez aí tenhámos explicação a um libelo, a princípio, tão “radical”.
Partindo da premissa que “radical” decorre da palavra raiz, aí está a raiz desta equação.
É a fatura cobrada àqueles que historicamente têm condenado à morte milhões.
Che Guevara dizia: “sejamos o pesadelo daqueles que não nos deixam sonhar”.
Eis a questão do moto-contínuo da História. E nela não existem contos de fadas.
Zeca Peixoto é Jornalista e Professor Universitário
