Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Mudança veloz por Fabrício Marques

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Transferência de renda e acesso à educação são pilares da queda da
desnutrição infantil no Nordeste. Desnutrição de crianças caiu de 22,2% para 5,9% no Nordeste





A desnutrição infantil no Nordeste pode desaparecer do mapa das mazelas
brasileiras em menos de 10 anos caso o problema continue a diminuir com a
velocidade observada nos últimos 10 anos. A conclusão é de um trabalho coor­denado
por Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo, e Ana Lucia Lovadino de Lima, pesquisadora do Núcleo
de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP e bolsista de
pós-doutorado da FAPESP. O estudo, que deve ser publicado na edição de janeiro
da Revista de Saúde Púlica, mostra que a prevalência da desnutrição foi
reduzida em um terço entre 1986 e 1996, caindo de 33,9% para 22,2% das crianças
nordestinas, e em quase três quartos de 1996 a 2006, despencando para 5,9%.
"Essa velocidade é inédita. Nenhum outro estudo no mundo revelou uma queda da
desnutrição tão grande nesse espaço de tempo", diz Carlos Augusto Monteiro.

A queda da desnutrição no Brasil, em particular no Nordeste, já havia sido
detectada em estudos anteriores do Nupens. O que o trabalho dos pesquisadores
da USP trouxe como novidade foi a comparação dos fatores que levaram, nas
últimas duas décadas, à redução nas taxas de retardo do crescimento infantil –
os déficits de estatura são referências mais fidedignas para mensurar a
desnutrição crônica até mesmo do que os déficits de peso. Essa análise só foi
viável no Nordeste porque a região, que sistematicamente concentrava o problema
da desnutrição infantil no país, dispunha de uma rica fonte de dados que
permitia a comparação, no caso os inquéritos domiciliares de um programa
internacional, a Pesquisa de Demografia e Saúde, feitos em 1986, 1996 e 2006.


O estudo foi além e buscou identificar as razões
do declínio. Concluiu que fatores distintos derrubaram a desnutrição no
Nordeste nos dois períodos. Enquanto entre 1986 e 1996 a melhoria na escolaridade
materna e a disponibilidade de serviços de saneamento foram os fatores
centrais, no segundo período o fenômeno está atrelado ao aumento do poder
aquisitivo das famílias, impulsionado por programas de transferência de renda,
como o bolsa-família ou o aumento do salário mínimo, e, novamente, a melhoria
da escolaridade materna. "Para controlar o problema em 10 anos será preciso
manter o aumento do poder aquisitivo dos mais pobres e assegurar investimentos
públicos para completar a universalizaçã
o do acesso a serviços essenciais
de educação, saúde e saneamento", diz Ana Lucia Lovadino.

Os resultados da pesquisa mostram que medidas como a transferência direta de
renda tiveram um reflexo instantâneo e significativo na redução das taxas de
desnutrição. Segundo Carlos Augusto Monteiro, a focalização de recursos
produziu efeitos sensíveis na questão da desnutrição. "Parece pouco, mas com R$
100 por família vitimada pela miséria extrema o panorama da desnutrição muda
radicalmente", afirma. O crescimento econômico registrado nessa década
serviu de estímulo, mas, diz Monteiro, momentos da história do país em que
houve um desenvolvimento econômico bem superior, como o caso do milagre
brasileiro dos anos 1970, não foram acompanhados por quedas da desnutrição no
Nordeste como agora. De acordo com ele, a melhora da taxa de desnutrição no
país desatrelou-se da evolução do Produto Interno Bruto (PIB). "O PIB do país
sugeriria uma prevalência de desnutrição maior que a observada. O México, por
exemplo, que tem um PIB próximo do nosso, tem taxa de desnutrição de 13 a 14%",
afirma.

Artigo publicado originalmente em



http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/12/17/os-resultados-da-bolsa-familia/

Compartilhar:

Mais lidas