Não haverá despedida. Por Franciel Cruz
Antes que o vinho me leve por outros desmantelos, enfio logo two cents que me ligam irremediavelmente a MORAL MOREIRA.
Primeiro. Pai solteiro, ninei muito meu guri com a Lenda do Pégaso, alumbramento de autoria dele e de Mautner.
Além disso, moro numa rua que é transversal à Ubarana-Amaralina que alucina a multidão.
Bom, agora que já meti a carteirada, posso tratar do tema com autoridade.
Seguinte. Nesta inconsequente segunda-cheira, além do choro e ranger de dentes, ainda rolaram vários lamentos porque Moraes não teve a despedida que merecia.
Perdoem-me, mas discordo. Não deve existir despedida, pois ele continuará.
E quando digo isso não tô tentando vender pretensas poéticas ilusões. Não e nécaras. Moraes permanecerá porque sim, porque nunca teve receio de dizer adeus, mesmo que áspero. De romper quando parecia impossível, mas necessário. E de ficar quando não era mais.
Voz que inaugurou o trio, nele prosseguiu nos momentos em que esta lhe era fugidia. Levou ao paroxismo a história de que:
Assim como a cigarra
Que no seu canto se agarra
Não quer saber de parar
Só para quando o papo estourar.
O papo estourou? Que papo, que papo é este? Só quem não dança se cansa. E ele dançou. Líder da principal banda da história do país, saiu do aconchego para o risco do recomeço. E recomeços, para Moraes, nunca significaram surfar nas ondas fáceis daqueles que pretendem se mostrar antenados.
Cale a minha voz
E até meu violão
Só não queira mudar meu coração.
O caminhão não virou. Viajou pra outras paragens. E retornou sem concessões à monocultura do axé. AXÉ, Moraes.
Ética e estética. Estética é ética. Talento e caráter, conforme bem sintetizou Tom Zé, seu professor e aluno. Canções do sem fim.
Jamais acaba.
E quando eu descia a ribanceira em direção a Moraes era nesta pisada. Quem me acompanhou ou me abandonou sempre soube disso.
A (des) propósito, o menino André Uzêda me lembrou que nos carnavais moraeslizados eu fazia algo patético. Ficava tentando empurrar o trio na contramão. Sinceramente, nem lembrava. Quando André falou, recordei que já era useiro e vezeiro disso em folias de antanho. Agora mesmo vejo com nitidez a cara de desespero do motô querendo levar o carro na Castro Alves e este exu tranca rua atrapalhando o trânsito.
Era pra não ter fim. E não terá.
Por isso, quando vi Walter Hupsel afirmando que
“Moraes, tanto ou mais
Que os irmãos Macedo
Inventou o carnaval da Bahia
De rua e praça”
Interrompi com um grito de guerra.
MORAL MOREIRA não inventou o Carnaval.
Ele é o Carnaval.
E o Carnaval nunca morre nem na quarta, muito menos numa segunda.
Sigamos.
