Não leve a vida no modo 2.0 X. Por Andréa Ladislau
Que o mundo está acelerado, todos nós concordamos. Tudo é correria, tudo é para ontem. Ver filmes longos, ouvir áudios grandes, ler livros densos… ações que estão deixando de fazer parte de nossas rotinas.
Hoje, a moda são vídeos curtíssimos, áudios acelerados, livros pequenos, tudo para ganhar tempo e ter um consumo “Fast”. Ou seja, o modo 2.0X virou uma tendência. A vida se tornou urgente.
Desse modo, vivemos na angústia de que “o agora” não faz sentido e alimentamos a necessidade de apressar as coisas, como se fosse possível “adiantar a vida”, na busca por resultados mais imediatos.
O olhar está sempre voltado para o futuro, ou para o que ainda vai acontecer ou pode acontecer. Um exemplo disso é a prática de acelerar vídeos ou áudios de WhatsApp, além do consumo, em segundos, das redes sociais.
Práticas modernas que denunciam ações automatizadas. Porém, estamos esquecendo do básico: apreciar os pequenos detalhes e estar presente, de corpo e alma, nas conexões, ouvindo com o coração e enxergando com a alma. Mas, quais os impactos dessas atitudes, na resposta comportamental e psíquica do ser humano?
Em primeiro lugar, podemos citar o excesso de ansiedade como um dos maiores indicativos provocadores destas práticas. Isso deve muito em função de que, nos últimos tempos, o número de pessoas acometidas por sintomas e sensações desagradáveis relacionadas à ansiedade e ao estresse agudo, aumentou consideravelmente.
Evidenciando que os transtornos ansiosos têm sido apontados como um dos desequilíbrios mentais mais comum entre as pessoas.
Acelerar um vídeo ou o whatssap, por exemplo, à primeira vista, parece ser uma solução para os longos registros enviados pelos interlocutores e autores mais prolixos. No entanto, esse “acelerar” é apenas mais um sintoma da ansiedade com a qual estamos lidando na vida. Ouvir um áudio acelerado é um estímulo externo que avisa o sistema para ficar em alerta.
Então, inconscientemente, você avisa ao sistema nervoso para permanecer acelerado. Mas, nós não temos o botão de desliga. O que é extremamente prejudicial, pois você vai ativar um aceleramento no seu organismo.
Tanto que, após ouvir um áudio acelerado ou ver apenas vídeos curtíssimos, a tendência é que o indivíduo continua acelerado, mesmo que não perceba. Tal comportamento acarreta mais um componente de sobrecarga mental, sendo que, ao final do dia, pode supervalorizar a sensação de frustração por não ter dado conta de tudo.
O resultado é a geração de estímulos que nos fazem acreditar que poderíamos fazer mais, produzir mais. Alimentando o sentimento de que estamos sempre devendo, sendo que o dia continua tendo 24 horas. Ou seja, é possível afirmar que, acelerar áudios e vídeos – desperta um estado de hiper vigilância, gerando gatilhos que desembocam em uma possível crise de ansiedade, ou até mesmo pânico e exaustão mental.
Enfim, colocar a vida em modo 2.0x, estimula ações que consideramos inofensivas, mas que enviam mensagens subliminares ao nosso cérebro, alterando o comportamento e modificando sentimentos e emoções. Desacelere a vida, mantenha o foco e não busque consumir apenas o que é “Fast”.
Além disso, evite enviar áudios em forma de Podcast para as pessoas. E ao ouvi-los, nunca os acelere, entenda o quanto esse ato simples pode impactar sua saúde mental e o ritmo de seu dia. A aceleração de tudo promove a sociedade do cansaço, doente psicologicamente.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista