Nizan Guanaes, o marqueteiro de si mesmo. Por Walter Tekemoto
Nizan Guanaes publicou em seu blog na Folha de São Paulo que após 14 dias está livre do coronavirus.
Escreve o publicitário que não teve sintomas, apenas insônia nesses dias de quarentena.
Perdeu o sono pelo filho que mora em New York, pelos amigos vítimas do coronavirus e pela tragédia que representa para a humanidade.
O texto do Nizan circula pelas redes sociais, e muitas pessoas se emocionam, e não é para menos.
Afinal, trata-se de um texto de um grande publicitário, capaz de vender para as pessoas aquilo que ninguém precisa comprar.
Nizan é especialista em fabricar desejos, em especial de consumo. E nesse texto, está fabricando o desejo de todas e todos de consumirem a ele como produto de mercado.
Diz ele que não é hora de “brigar ideologicamente neste momento”, que essa disputa deve ficar para outubro, nas eleições.
Uma jogada de marqueteiro, vamos esquecer agora nossas diferenças, enquanto isso o Nizan elogia Doria, Mandetta e Guedes!
E escreve que em decorrência de sua experiência com a quarentena decidiu mudar seu padrão de vida, de consumo. Diz que “depois que fiquei doente, decidi mudar o padrão de consumo, vou doar ou descartar metade das minhas coisas”.
Nizan vai doar metade da sua fortuna para o SUS? Para os milhões de brasileiros que foram para a linha da miséria após o golpe?
E pergunto isso porque em 21/11/2016 o Nizan escreveu ao Temer propondo que ele deveria implementar medidas “amargas e impopulares”, para o país (seus amigos ricos e poderosos) poder competir com o mundo.
E que medidas eram essas?
O fim da legislação trabalhista, a PEC do teto do gasto público que está destruindo o SUS e a educação, o fim da aposentadoria e da assistência social.
E qual a consequência dessas medidas propostas pelo Nizan?
Mais de 12 milhões de desempregados e de 40 milhões de trabalhadores precarizados ou informais. O SUS e seus profissionais sem condições adequadas de atendimento à população, ainda mais durante essa pandemia, que terá como vítimas principais os que foram jogados na mais odiosa exclusão pelas propostas do Nizan.
E Nizan diz ainda que “o mundo vai mudar depois dessa pandemia, como mudou nas antecedentes”.
É verdade. O que Nizan não diz no texto é que após as pandemias anteriores, ou grandes crises econômicas e guerras, o mundo muda para os seus amigos, que ficam ainda mais ricos e poderosos, enquanto aumenta a quantidade de pobres e marginalizados. E Nizan não diz que são também os pobres que morrem, de fome ou morte matada.
E termina Nizan dizendo que “brigar ideologicamente neste momento é um crime contra a humanidade”.
Pergunto: é possível esquecer que em 19/09/2018 Nizan organizou um banquete para a elite paulista para discutir o apoio ao Bolsonaro?
Não estou brigando contra Nizan. Ele é apenas um entre aqueles que vivem do suor, sangue e vidas dos pobres, explorados e oprimidos do país. A minha luta é contra todos eles.
Mas esse apelo que faz, lembra o que faziam os ditadores nos anos de chumbo, não briguem agora, esperem “o bolo crescer, para ser repartido”.
E enquanto o bolo crescia, homens e mulheres eram torturados e assassinados, e para o povo não sobrava nem os farelos do bolo.
Não se esquece em momento algum o que nos faz diferente deles, pois é no que defendemos, no que nos faz levantar todos os dias, de qual lado da história estamos, e é nessa luta que reside a possibilidade de construirmos uma outra sociedade e um outro mundo.
E não é em outubro que mostraremos que somos diferentes deles, que temos uma outra causa, é todos os dias, pois o fim da exploração e da opressão se dará com a luta, não por eleições.
Walter Takemoto
