O cérebro eletrônico faz tudo/ Quase tudo / Quase tudo / Mas ele é mudo... Esses são os primeiros versos da canção Cérebro Eletrônico criada por Gilberto Gil e lançada no ano de 1997.
Na época, digamos medieval da tecnologia digital, quando o computador ainda era chamado de cérebro eletrônico. Foi um período que estavam começando a ser abertas as janelas para o processamento de dados. Gil cantava que a maquina podia mandar e comandar, mas estava impossibilitada de pensar. Era um artefato equipado com botões de ferro e olhos de vidro.
O sentimento continuava sendo uma capacidade exclusiva do ser humano, esse dotado de botões de carne e osso é capaz de pensar, sorrir, chorar e atestar a existência de Deus.Pegando carona na cauda do cometa desembarco em 2022 portando os mesmos botões de carne e osso. Estou inserido no admirável mundo digital onde o comando das atividades é fornecido por hards e softs. Hoje, aplicativos orientam o que deve-se comer, vestir, escolher, gostar, conhecer e até amar. A máquina pensa e decide, enquanto o homem descansa. O universo virtual proporcionou o auxílio luxuoso de robôs(bots) que foram criados não com o intuito de substituir os humanos, mas sim, complementá-los auxiliando nas tarefas repetitivas e numerosas. Esses fantásticos bots conseguem cumprir tarefas em menos tempo que um ser humano. Os bots substituem a ação humana em conversas simples ou até mais complexas, a depender de como eles foram programados (chatbots). A grande vantagem nesses casos é a disponibilidade dessas ferramentas 24 horas por dia, 7 dias da semana.
Regendo o andamento nesta grande ópera tecnológica estão os algoritmos. Os algoritmos que nas redes sociais atuam como espiões dos robôs identificando quais publicações devem ser entregues para mais ou menos pessoas. O objetivo é melhorar a experiência do usuário, fazendo com que apareçam na tela do seu celular ou notebook os posts mais úteis e atrativos.Os algoritmos direcionam os conteúdos que devem ser oferecidos a esse usuário, selecionando as escolhas e fidelizando os conteúdos.Lá em 1997, Gilberto Gil registrava que o cérebro eletrônico fazia quase tudo, mas era mudo. Que a maquina mandava, mas, não andava.Um corte rápido para a contemporaneidade e encontramos os descendentes eletrônicos fazendo praticamente tudo no mundo moderno, orientando destinos pelos gps, determinando quais decisões devem ser tomadas , e tudo isso através de dispositivos móveis.
Os robôs nem sempre são protagonistas de histórias de finais felizes no mundo moderno, e quando manipulados por mentes sórdidas são convertidos nos verdadeiros vilões.A propagação de fake-news e o disparo de mensagens para impulsionar determinados perfis atestam que o uso da tecnologia serve tanto para o bem quanto para o mal.Infelizmente robôs não identificam o tipo de caráter. Eles apenas obedecem as ordens que lhe são dadas.
Eu continuo acreditando que penso e posso.
Minino, num é que Gil tinha razão!
Zuggi Almeida é baiano, escritor e roteirista. |