O caso do Homem Errado e o filme certo! Por Nelson Maca
Hoje acordei com a notícia que o documentário “O Caso do Homem Errado”, de minha chegada Camila de Moraes, está entre os 22 filmes brasileiros pré-selecionados para a vaga de representante oficial brasileiro na premiação do Oscar.
Não vou dizer que sabia ou esperava, mas, desde que assisti o filme pela primeira vez, senti alguma coisa me tocar, não apenas a mente, mas o coração. E sei que não era somente o assunto em si, mas algo de tenso na forma como a história é contada. Com tenso eu quero dizer uma linguagem que provoca o leitor, que o prende com sua narrativa. Falei sobre isso nos debates que presenciei e escrevi em artigo para o jornal Correio (da Bahia).
No meio de tantos filmes de pretensos-as grandes cineastas brasileiros-as que assisti ultimamente, esse filme, em particular, me tira da comodidade da poltrona. Me lança na vida! Que é um filme essencial eu já sabia. Eu sinto. Por isso vejo essa indicação não como legitimadora nem avaliadora do filme, mas reconhecedora da força de sua linguagem, ou seja, de sua beleza artística. Insisti tanto nisso: na poesia que, paradoxalmente,´pode e deve haver na representação de nossa tragédia negra cotidiana.
E, na minha opinião (de quem igualmente encontrou na arte sua forma de ação direta e contundente), esse filme é, como bem nos ensinou Fela Kuti, também uma nossa arma. Que venham, do lado de lá, os críticos de arte que dirão que se trata de uma indicação social, e, de cá, os críticos sociais dizendo que estamos nos vendendo ao Oscar (ou à Academia de Letras ou à novela da Rede Globo ou..). Eu, de minha parte, reafirmo que nós temos senso crítico, domínio de linguagem, e que sabemos que “O Caso do Homem Errado” é, sim, um filmaço! E mais: essa indicação já é um prêmio considerável para uma equipe que realizou uma obra de arte a despeito de toda a adversidade encontrada. Um filme independente, feito com doações e parcerias afro-afetivas e familiares.
Como diz meu amigo Marcelino Freire, eles fazem com um milhão e nós com humilhação. Mas milhões nem humilhações não nos pautam nem param. Um Dj monstrão, KL Jay, costuma dizer ” Nós é difícil de matar”. Um grande poeta da quebrada, Marcos Pezão, disse um dia para sempre: “Nós é ponte a atravessa qualquer rio”. Viva Camila Lopes e toda sua equipe! Bora comemorar. Nossa alegria também é a nossa prova dos nove!
Exu Laroyê!
Aláfia!
Caminhos abertos para nossa cineasta preta sem véu de alegoria!


