O culpado por Bolsonaro ser a ‘razão’ do tarifaço de Trump, para senadores que foram aos EUA. Por Malu Gaspar
Artigo publicado originalmente no O Globo
Os senadores brasileiros que iniciam nesta segunda-feira (28) um esforço concentrado para sensibilizar seus pares nos Estados Unidos contra o tarifaço que Donald Trump anunciou para o próximo 1º de agosto tem muito poucas certezas sobre no que vai dar o encontro, mas compartilham uma convicção formada a partir das conversas preparatórias para a viagem: a de que o processo judicial contra Jair Bolsonaro não teria sido incluído na postagem em que o presidente americano anunciou as tarifas sem a influência decisiva de Steve Bannon.
Na tentativa de construir canais com o governo americano, os senadores que preparam a visita ouviram dos americanos que inicialmente o tarifaço não seria condicionado ao fim do processo contra Bolsonaro. Donald Trump teria sido convencido na última hora por Bannon a incluir o ex-presidente brasileiro no tuíte que anunciou as medidas, em 7 de julho.
Bannon, que tem promovido a campanha de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o Supremo Tribunal Federal (STF) em seu podcast, o War Room, declarou ao portal UOL logo depois do anúncio que Trump está “muito aborrecido” com a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro e que haveria “severas sanções financeiras” contra o ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
“Somos grandes apoiadores do movimento Bolsonaro desde que o conhecemos em 2017. E acho que a manifestação mostra que o presidente Trump está totalmente ciente do que está acontecendo”, disse Bannon ao site. “Ele está muito aborrecido com isso. E eu acredito que haverá severas sanções financeiras contra Moraes. Há dezenas de pessoas trabalhando nisso, tanto no Executivo quanto no Congresso, e veremos o resultado em algumas semanas.”
Bannon tem reforçado essa narrativa para a audiência dos EUA no War Room, popular na direita americana. O conselheiro de Trump entrevistou Eduardo Bolsonaro duas vezes nas últimas semanas, e também abriu espaço para Paulo Figueiredo, bolsonarista e aliado do deputado licenciado na costura de sanções de Washington contra Alexandre de Moraes e outras autoridades brasileiras.
A influência de Bannon é vista também pelos senadores como um complicador para qualquer tentativa de negociação a respeito das tarifas, por sua força junto à Casa Branca e pelo fato de que o componente ideológico inviabiliza uma negociação econômica.
Por isso, os senadores têm dito aos interlocutores mais próximos que “não tem expectativas falsas” a respeito das reuniões que realizam nos Estados Unidos até quarta-feira (30), mas tinham que “fazer algo”.
Na programação estão encontros com empresários brasileiros e americanos, além de reuniões com parlamentares republicanos e democratas.
Fazem parte da comitiva dois ex-ministros de Bolsonaro, Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP), além do líder do governo no Senado Federal, Jaques Wagner (PT-BA) e dos colegas senadores Nelsinho Trad (PSD-MS), Carlos Viana (Podemos-MG), Esperidião Amin (PP-SC), Fernando Farias (MDB-AL) e Rogério Carvalho (PT-SE).
Não há previsão de reuniões com integrantes do governo Trump, por ora.
