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O mês de março diz muito sobre nós. Por Elisângela Araújo

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Elisangela

Tudo que queremos falar neste mês tão emblemático é sobre nós! Sobre nossos direitos, sobre respeito, igualdade… Sobre as nossas lutas!

Ao longo dos séculos foi preciso ter muita coragem para falar sobre nós, mulheres. A histórica luta por direitos básicos desde o inicio do movimento feminista, no século XIX, já acenava que precisaríamos lutar por inúmeros direitos: ao voto, acesso à educação, igualdade no mercado de trabalho e contra todos os tipos de violências.

Foi com a conquista do direito ao voto feminino, em 1932, após décadas de lutas, que se passou a falar um pouco mais sobre nós, sobre nossas histórias! De lá pra cá, tem sido uma batalha contínua e incansável em busca da igualdade, justiça, dignidade e respeito.

Somos mães, muitas vezes solo, filhas, profissionais, chefes de família. Somos mulheres do campo e das águas que, mesmo longe dos holofotes, conseguimos desempenhar um papel fundamental na produção de alimentos e na sustentabilidade das comunidades rurais e ribeirinhas.

Somos agentes de transformação nas comunidades e em todo mundo e, mesmo assim, somos obrigadas a viver em busca de um equilíbrio desleal entre o trabalho remunerado fora de casa, as atividades domésticas e de cuidados com os filhos, resultando em longas horas de trabalho e nenhum tempo para descanso, além da pressão para se manter sempre disponível, mesmo com a ausência de apoio e estruturas de cuidado. Tudo isso, diz muito sobre nós.

A jornada dupla, tripla, às vezes quíntupla em que estamos submetidas dentro de uma sociedade patriarcal, impõe às mulheres uma carga desproporcional de responsabilidades e expectativas.

E se considerarmos a situação das mulheres nordestinas, esse impacto ainda é maior. A maioria da população do nordeste é composta por mulheres (51,8%); deste número; 53,4% chefiam os domicílios, a taxa de analfabetismo das mulheres nordestinas é o dobro da média nacional (10,5%), a taxa de desocupação é de 53,3%, maior que a dos homens no Brasil e o rendimento médio das mulheres ocupadas no nordeste é de 12% menor que o rendimento médio recebido pelos homens.

Os dados revelam que apesar de representamos 52% da população no nordeste, e quase 6 milhões de mulheres a mais do que homens no Brasil (de acordo com os dados divulgados pelo último Censo), a desigualdade de gênero ainda se manifesta de diversas formas, incluindo disparidades salariais gritantes, baixíssima representação politica, violência de gênero, ausência de acesso a educação, discriminação no local de trabalho e inúmeras limitações.É fundamental que a luta por direitos das mulheres não se limite apenas ao mês de março. Precisamos do apoio de todos os setores da sociedade para fazer lembrar que a igualdade de gênero não é apenas uma questão das mulheres, mas uma questão de direitos humanos e justiça social.

Ao longo do ano, no mês de março, ou no Dia Internacional da Mulher, vamos reafirmar e celebrar nossas conquistas, mas não podemos perder de vista que a luta por direitos é coletiva e deve acontecer todos os dias. É preciso romper os privilégios masculinos, é urgente combater o feminicidio, o sexismo, o machismo e todas as formas de discriminação de gênero. É preciso criar políticas públicas que apoiem as mulheres em suas múltiplas jornadas, que desconstruam as normas de gênero que perpetuam a desigualdade e o sexismo. É claro que o mês de março diz muito sobre nós, sobre nossos avanços, sobre a luta pela manutenção das conquistas. Mas ele não nos resume. A batalha é constante, diária e coletiva.

Sou pautada nas trincheiras de luta e coragem adquirida ao longo de toda a minha trajetória. Aprendi, como a maioria das mulheres, que todo progresso acontece fora da zona de conforto. Por essa razão, sei que precisamos seguir juntas, alimentadas pelo trabalho, engajamento e ação coletiva durante todos os meses do ano, reforçando as nossas narrativas e construindo as nossas histórias em direção a um futuro onde todas as mulheres possam viver com dignidade, equidade, liberdade e igualdade de oportunidades.

*Elisângela Araújo é Secretária de Políticas Para as Mulheres do Estado da Bahia

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