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Aldeia Nagô
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O Perdão, por Flávia Suassuna

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Ando pensando muito sobre a palavra "perdão". Eu tenho disso: de vez em
quando visito, durante meses, uma palavra, sentindo devagar seu gosto,
seus segredos, seus escondidos…


Esse comportamento me faz aprender muito. Começo pelo dicionário, que me apresenta a palavra congelada, aquietada na sua previsibilidade e conferível no seu estatuto vítreo.

Mas nem sempre minha conclusão final combina com a informação obtida: o que vou juntando, aos poucos, detona uma explosão de sensações e novos significados que muda, para sempre, minha ligação com a palavra. E ela se torna minha de uma forma nova e diferente.

Vou descobrindo devagar que a palavra "perdão" não está junto do verbo "esquecer", até porque esquecer é perder. Riobaldo, no "Grande sertão: veredas", de João Guimarães Rosa, afirma que, para ele, esquecer é ruim como perder dinheiro e eu tendo a achar essa frase muito boa.

Somos o que somos (esse colosso de erros e acertos) porque inventamos duas palavras só nossas – "passado" e "futuro".
Registrando primeiro na tradição oral e depois na escrita nossas experiências pessoais e coletivas e expressando-as uns aos outros através das gerações, criamos uma ontologia diferenciada e única no universo que pudemos conhecer até aqui.

E a contínua lembrança do passado, seguida de uma reflexão dolorosa, somada à aceitação ou à confrontação de sua "gramática" foi o tear que teceu os fios desse nosso modo de ser tão diferenciado.
Portanto, se esquecer fosse o caminho, provavelmente estaríamos vagando numa planície africana, como os bichos, na sua trajetória também mágica, mas igual sempre. Nosso progresso e tudo o que ele tem de bom e ruim é resultado dessa nossa habilidade de "guardar" o passado, para estudá-lo, sabê-lo e modificá-lo, para construir um futuro melhor.
Assim, "passado" e "futuro" são palavras fundamentais; são trilhos sobre os quais corre o trem de nossa história rara, agônica e, às vezes, bonita.

No ano passado, um aluno me perguntou, impaciente, para que servia história da literatura, a matéria que leciono. Eu fiquei surpresa mas não me abati e respondi, perguntando:
– Você fez sexo na semana passada?
– Sim, ele respondeu.
– Muitas vezes ou poucas vezes? – insisti.
– Muitas vezes, ele me disse.
– Sua namorada ficou grávida? – continuei.
– Não, ele retrucou.
– Pois é, meu filho, seqüenciei, não serviu para nada, não foi? Somos assim, gostamos de coisas que não servem para nada, temos muitas sedes e muitas fomes… de justiça, de beleza, de amar, de ser amados, de pertencer, de fraternidade, de liberdade…

E sigo arengando com eles o ano todo, a vida toda, que ser professora é como ser gente – tem coisas divertidas e dolorosas, misturadas.
Pois bem: perdoar não é esquecer, é compreender. E o passado tem tudo a ver com isso, pois somos seres com passado, inescapavelmente. Não podemos esquecer o passado, mas devemos enfrentá-lo de toda forma: a ciência, a arte, a história… tudo são ferramentas para forjá-lo e vencê-lo.

Acho que é por isso que tenho uma queda por professores de história – seres preciosos que guardam como ostras pérolas escondidas e que nos ajudam a não sair inventando a roda ou repetindo erros.
Mas o segredo é que um dos "links" de compreender é construir: é preciso sonhar e, aos poucos, realizar sonhos, conceber-se noutra direção, libertar-se das dores e buscar caminhos, que o passado não é gaiola, mas chave.

Flávia Suassuna

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