Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

O retorno pra terra dos imbecis. Por Zuggi Almeida

2 minutos de leituraModo Leitura
Zuggi_Almeida

A fila gigantesca serpenteia no salão de embarque. Poderiam ser retirantes, mas longe de compará-los aos sertanejos: os nordestinos são cabras fortes resistindo à seca por séculos. Esses  são os heróis verdadeiros.

Essa espécie em exôdo é composta de gente  derrotada, gente vazia com  semblantes desiludidos onde a incerteza se faz presente. Existem semelhanças nos andrajos verde/amarelo desbotados e nas bandeiras nacionais transformadas em trouxas  carregadas de desilusão misturada ao orgulho ferido.

Um silêncio mortuário domina o ambiente  apenas interrompido por murmúrios, lamentos e choros contidos.

Um breve retrospecto e esses personagens estavam ocupando quatro anos atrás avenidas e sacadas onde soltavam berros ufanistas ao espocar das  garrafas de espumantes. A euforia tomou  corpos e mentes salvadoras de uma ameaça ilusória chamada comunismo.

 

O delírio foi convertido na peste capaz de contaminar a tradicional família brasileira. Ser gente de bem estava na ordem do dia.

Foi convocado o exército defensor dos bons costumes, da moralidade e do civismo.

A pura representação da nata do povo brasileiro, excluídos negros, indígenas, gente trans, deficientes e todo outro qualquer que não obedecessem  aos padrões impostos por essa elite-cidadã.

Estava criado o neo-brasileiro.

Mas as informações do rótulo não condizem com a composição do conteúdo e mais uma vez o consumidor foi traído pela propaganda enganosa.

Desesperados buscam amparo nos portões dos quartéis, mas recepcionados com chutes nas bundas. Deprimente.

Um corte brusco e retornamos ao salão de embarque onde em passos de romaria a multidão walking-dead toma assentos em vagões que irão conduzir todos eles para a Terra dos Imbecis.

Atenção para última chamada.

No comando do trem está um senhor de olhar perdido vestindo  uniforme militar, em cujo as medidas não cabem no abdômem avantajado.

A composição parte pra nunca mais voltar. Toca o berrante e o coro da manada responde em tom de lamento:

– Muuuuuuuuu !!!

Zuggi Almeida é escritor e roteirista

Gado_Bozomion

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *